8.6.17

O parto – parte III


30 seg. depois de as águas rebentarem.

O parto – parte I, aqui.
O parto – parte II, aqui.

Com a epidural em todo o seu esplendor eu estava uma nova mulher. Ia conversando com o PAM e ele fazia updates à família e amigas via WhatsApp. Eu estava mesmo porreira da vida quando senti um ploc, um barulho (que o PAM ouviu) e que me fez dar um sonoro ai!, não de dor, mas de susto. Como se a cria me tivesse dado um valente pontapé.

Cerca de um ou dois minutos depois, comecei a sentir um líquido quente a sair de mim. “Rebentaram as águas!”, avisei. Nunca pensei que pudesse vir a ouvir o estalar da bolsa. Voltei ao comando para chamar a enfermeira e como o líquido era abundante (já a médica tinha avisado que ia ser um dilúvio), começou a escorrer da marquesa a inundar o chão para preocupação do homem: “estás a molhar isto tudo!”.

Chegou a Dra. Catarina Gama Pinto a fazer uma festa (está-lhe no sangue), declarou três dedos e meio de dilatação, estava iniciado o trabalho de parto pois é a partir dos três dedos que declaram a coisa de “trabalho de parto”, antes disso é só uma brincadeira. Nunca mais me esqueço, as águas rebentaram às 16H30, a hora “Coca-Cola light” como lembrou a médica.

As enfermeiras lá tiveram o trabalho sujo de mudar tudo, a marquesa estava alagada e ali fiquei à espera que a evolução do trabalho de parto fosse firme e contínua como parecia estar a ser para contentamento de todos. No entanto, a herdeira nada de descer, continuava na garganta.

A meio da tarde o turno das enfermeiras mudou. Passei a receber a Enfª Carolina (não sei o apelido, sorry!), impecável, vi menos vezes, mas sempre uma querida. E ainda uma outra enfermeira (será enfermeira-parteira?) que vi até ao fim, a Enfª Joana Machado. A sério, se alguém a conhecer, digam-lhe que não tenho palavras de gratidão para ela.

Mais nova do que eu de certeza, profissionalismo, prontidão, amabilidade, confiança, firmeza, conhecimentos, tudo isto eram o nome do meio desta enfermeira. Queria tanto poder agradecer-lhe!
Na altura de troca de turno, a Enfª Joana Machado entrou na sala para se apresentar, dizendo que ia ficar comigo no que precisasse e perguntando como eu queria fazer o parto. Uma das minhas preocupações era a episiotomia, não me apetecia fazer por rotina, mas autorizava a fazer por necessidade. Pelo que pude avaliar nas minhas investigações, pior do que cortar certinho é rasgar sem orientação. Falei de uma pessoa que fez um dos partos nos EUA e que descreveu uma enfermeira que ficava a olhar para as partes baixas, a mexer, a dar massagens e elasticidade à pele, a orientar quando fazer força e quando aguentar, alguém que percebia do assunto e proporcionou um excelente pós-parto.

Ainda que eu não soubesse explicar bem o que estava a dizer, a Enfª percebeu do que estava a falar, disse-me que faria conforme o meu desejo, com ela tirei dúvidas, vi uma pessoa tão confiante, uma pessoa com quem gostei tanto de falar (e o PAM), que o profissionalismo e a amabilidade nos deixaram pelo beicinho e consentimos que no caso de a Dra. Catarina não ter disponibilidade ou não ser preciso intervenção médica, podia ser a Enfª Joana Machado a fazer o parto.

A tarde continuou, as duas enfermeiras entravam e saíam da sala para ver a evolução das minhas partes baixas, tudo a correr espectacular ao ritmo de dilatação de um dedo por hora, não podia desejar melhor.

Às tantas entraram na sala com um saquinho e um tubo. Explicaram uma coisa que nunca me passou pela cabeça: isto da epidural é fantástico, mas prende a urina na bexiga, é preciso tirar. Lá abri as pernas, a ideia era inserir um tubinho e fazer sair a urina para um saco. Mas cadê o furinho para chegar à minha bexiga? Foi uma risota, parece que tenho um furo falso (informação altamente interessante para o blogue), as duas estiveram que tempo em volta do meu pipi, eu de pernas abertas na sala, o PAM a olhar para aquilo tudo com o queixo nos sapatos, até que desistiram e decidiram chamar a Dra. Catarina Gama Pinto que observou o meu fenómeno, lá encontrou o que se procurava e não imaginam a quantidade de urina que saiu para um saco. Não dói nada, não se sente absolutamente nada, nem mesmo vontade de urinar e não há dúvida que a bexiga estava cheia. Portanto, se vão optar pela epidural, isto vai acontecer.

As horas foram passando, a Enfª Joana Machado regressou para ver o estado das coisas, a dilatação sempre a andar e fez uns exercícios dentro de mim para ajudar a esticar o colo do útero. Eu deitada não via, achava que tinha dois dedos dentro de mim, sentia tocar, mas não sentia dor. O PAM continuava com o queixo no chão, mais tarde contou-me que a Enfª tinha o punho totalmente dentro de mim, ele diz até ao cotovelo, mas devia ser um bocadinho menos.

Estava tudo a ser espectacular, praticamente com a dilatação completa, mas a herdeira continuava na garganta, nada de descer. Bem me dizia a Dra. Catarina nas consultas (e algumas leitoras do blogue) que a minha barriga estava muito alta. E continuava, até em trabalho de parto.

Então a Enfª Joana disse que era hora de atitude: “não gosto de grávidas na cama!”. Queria exercícios (eu tinha vontade zero), dar-me trabalho e lá me deu um bola de pilates e ensinou alguns exercícios. A ideia era obrigar a cria a descer, deixou-me a fazer os exercícios, voltaria à sala dentro de algum tempo.

Fiquei a fazer exercícios, resultaram nesta foto que gosto tanto , exercícios que deviam ajudar a cria a descer e o propósito era chegar a um ponto em que eu a sentisse perto de sair, com vontade de evacuar. Acho que estive umas duas horas nesses exercícios. E nada.

(Continua).


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© A Maçã de Eva

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