24.9.12

Bogotá - despedidas de solteiros

1º post da Colômbia, aqui
2º post da Colômbia, aqui
3º post da Colômbia, aqui

No caminho para casa da irmã da noiva e depois de uma aventureira viagem de “buceta”, passei pelo bairro dos portugueses em Bogotá onde estavam a construir um prédio de nome “Chiado”. Estava há dois dias fora de casa e já me estava a bater um sentimento emigrante. Adorei! Ele era Benfica, pastelarias de nome “Lisboa”, tudo alusivo a esta terra. Mas não me alarguei porque estava cheia de frio. A temperatura em Bogotá anda nos 5ºC/18ºC o ano inteiro. Não tem estações do ano!

Chegadas ao destino (lembram-se que eu não conhecia ninguém?), a noiva disse-me para passar a frente dela e entrar em casa porque ela estava a responder a um SMS. É claro que eu tinha de fazer asneira. Assim que passei um corredor silencioso, entrei numa sala a meia-luz e detrás dos sofás e móveis saltaram mil gajas, confettis, serpentinas, balões e todos os elementos festivos que possam imaginar.

Acesa a luz, a desilusão das que prepararam a surpresa. Eu não era a noiva, era o emplastro.

Errr, perdón…

Há coisas que só me acontecem a mim.

Com a gritaria, lá a noiva apareceu a correr atrás de mim e o meu momento de emplastro desvaneceu-se. Depois disso foi copos e mais copos. As margaritas tinham tanta tequila que me faziam arder os lábios, não conseguia beber aquilo e elas viravam copos, uns atrás dos outros. Mas as colombianas não são do tipo de deixar uma pessoa sossegada a beber uma aguinha ou um ice tea, isso é para recém-nascidos!

Estivemos lá por casa a dançar, fazer jogos, a colocar vários tipos de pilinhas num poster masculino colado à janela da varanda, comi uma coisa maravilhosa que não lembro o nome, mas que é o equivalente a batatas fritas, mas de banana em vez de batata, até que chegou a hora de ir para a noite.

Íamos todas a descer as escadas quando começo a ouvir uma música que me era familiar:

“Nossa! Nossa! Assim você me mata! Ai se eu te pego, ai, ai…”, Michael Teló on fire na Colômbia.

Mas isto não é tudo! A música vinha de uma enoooorme limousine branca estacionada à entrada do prédio, de motorista todo jeitoso, red carpet para entrar na limo e mais copos lá dentro. Garrafas, melhor dizendo.

Se eu não tivesse dois voos em cima e toda uma confusão mental de horários, tinha aproveitado melhor aquela diversão. Arrancámos para as zonas dos bares, a Zona T, e dentro da limo a música era ensurdecedora, “ai, ai, mi amor, te quiero mucho!”, “amor de mi vida, cielito de mi corazón”, em versão remix. Um must hear de músicas com letras de partir o coração, pequenos ecrãs com os vídeos das músicas que versavam sobre amores impossíveis, amantes, homens garanhões, amores de adolescência, eu ouvi de tudo.

De tejadilho aberto, a noiva ia do lado de fora de manga cava (frio!), um véu na cabeça e uma garrafa na mão. Dentro da limousine, viravam-se garrafas de bebidas brancas a parecer álcool etílico, garrafas essas que iam rodando por todas a beber pelo gargalo. Eu não costumo ser mete-nojo, mas não conhecia as piquenas e aquela cena de andar a lamber o gargalo não era uma ideia feliz ao meu pensamento. De cada vez que a garrafa vinha ter comigo, o meu cérebro gritava “herpes! Herpes!”.

Fora isso, eu não queria beber. Não gosto daquele tipo de bebidas e sobretudo - eis a minha definição de seca - achei que alguém tinha de se manter sóbrio no meio daquela loucura. Era como se fosse mãezinha delas, mas não era a mais velha e havia quem tivesse filhos. Lá tentava recusar a bebida com um sorriso simpático, mas não me davam hipótese. A única portuguesa que estava comigo, aos gritos, deu-me a ideia: vira a garrafa, mas prende os lábios e não bebas! Excelente ideia, no meio do escuro e das luzes psicadélicas disco night foi a minha salvação, fingir que bebia como quem finge um orgasmo. Enganei-as a todas.

Dali parámos na Zona T, entrámos em vários bares, concertos ao vivo, eu já de garrafinha de água, elas absolutamente tomadas pela bebida, a noiva não andava a direito, lá dancei um bocadinho, mas esta cena de dançar música espanhola é uma provação. Aquilo aguenta-se 10 minutos e depois estamos a pedir a Deus que nos envie um hit qualquer conhecido por todos. Ao parar, estava pronta a adormecer. Mesmo, não aguentava mais. Pedi desculpa e lá me deixaram ir ao vale dos lençóis.

Pirei-me de táxi com a outra portuguesa também estoirada, deixei-a em casa, segui sozinha para o hotel, cheguei à cama num estado completamente acabado.

Parece que em Bogotá é quase um hábito alugar limousines para as despedidas de solteira. Faz-se um tour pelas melhores zonas da cidade, bebe-se muito, a noiva vai do lado de fora no tejadilho, grita-se muito, as pessoas metem-se com elas dos passeios, nos autocarros abrem as janelas e dão mais gritos e aquilo é tudo ensurdecedor e alcoólico. Mas há ali uma linha que marca o excesso de álcool, com perda de equilíbrio e de memória que não compreendo a diversão. Já disse, sou uma seca.

Deitei-me e delirei com o silêncio e a sensação de descanso. Duas horas depois o PAM bateu-me à porta. Enquanto se vestia para se deitar, contou-me a despedida de solteiro dos rapazes, tendo-me avisado:

- Tive de pagar com o nosso cartão.
- Com o nosso cartão? Pagaste a stripper com o nosso cartão?

E foi assim que paguei metade de uma puta pela primeira vez na vida, tudo com o suor do meu trabalho. E nem a vi!

Não tem nada que enganar, sou a mais unatractive de casaco de inverno. 
Estavam 5ºC, não queria uma amigdalite nas férias. Sou uma seca. Não dou mesmo para fashion victim.


Logo à entrada estranhei: "o boneco não tem pilinha!". Depois percebi que era um jogo em que vendam os olhos à noiva, ela pega numas pilinhas de papel a tentar acertar no sítio e o mais certo era vermos a pilinha no queixo ou na orelha. A cada erro, mais um copo de penalti!


Guardanapos tão bonitinhos!


As tais bananas fritas. Não me lembro do nome disto, mas era tão bom!


Pilinhas para todos os gostos. Mãe, eu não joguei, só assisti!


A limousine em alto som! Red carpet e tudo!


Um dos bares

10 mulheres dentro da limousine!

Viva a noiva!
(continua)
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© A Maçã de Eva

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