19.9.12

Bogotá - primeiras impressões e "bucetas"

1º post da Colômbia aqui
2º post da Colômbia aqui


Bogotá é a capital da Colômbia, já se sabe, e tem uma população de mais de 8 milhões de habitantes. Ou seja, a cidade está ali perto da população de Portugal inteiro. É gente que nunca mais acaba! A estatística diz que é quarta cidade mais populosa da América do Sul.

Dizia eu que assim que comecei o caminho de táxi do aeroporto até ao centro da cidade, onde me ia instalar, estava em estado de choque. Eu perguntava ao PAM sentado à minha frente: "que cena é esta?”. Ele respondia “tem calma, isto são os arredores. Vais ver que é giro. O Rodrigo diz que é giro!”. Se há lição a reter desta viagem é que eu nunca mais vou dar ouvidos ao PAM no que diz respeito a estas coisas. Não sabe nada, não consulta coisa nenhuma, é um Maria vai com as outras, tudo o que lhe disserem é para ser levado em conta.

Chegámos ao hotel Virrey B3 (acabado de estrear e que aconselho sem sombra de dúvida), depositámos malas e fomos à procura de sítio para almoçar enquanto o Rodrigo, o noivo, não chegava. Na rua, olhava à volta e pensava “mas isto é medonho!”. Eu não gosto de ser desagradável numa viagem, isso é do pior que pode haver. O PAM estava feliz e contente, o amigo ia casar, estávamos de férias, eu estava com ele, pelo que comecei a pensar que era boa ideia guardar as opiniões só para mim e lá as poderia dar uma vez chegados a casa.

Isso foi coisa que impressionou muita gente. “Voltaste? Então, foi giro? Gostaste?”, “foi giro mas não gostei. Não vás a Bogota!”. Eu não sou moça para mentir, tinha de ser honesta. Mas, aquilo não foi um fim de mundo para mim. OK, a cidade de Bogotá parece uma favela gigante, mas tem coisas que até me surpreenderam. O que costumo dizer é que para adeptos da noite e para quem gosta de comer mesmo muito bem em restaurantes caros, vale a pena! Para passear, não recomendo, não há quase nada para ver naquela cidade. Como eu disse, foi o único sítio na vida para onde viajei onde não gostava de voltar. Bogotá não é uma cidade para ser vista, mas para ser vivida.

Quando cheguei, sentia-me esquisita e não sabia o que era. Sentia um cansaço além do voo que era esquisito. O PAM estava a morrer de dores de cabeça e quando o Rodrigo chegou perguntou se nos sentíamos bem. Bogotá fica a 2.640 metros acima do nível do mar, e é mais que normal sentir mal-estar até à adaptação. E era isso, o que eu sentia: dificuldade em respirar, ou melhor, eu sentia que estava a respirar, não era um trabalho inconsciente. Não sei quanto tempo demorei a adaptar-me, mas não me esqueço que com o hotel acabado de estrear, não tinha tudo a funcionar sem dramas e o elevador às vezes não descia. Eram cinco andares a pé. Tive vezes que cheguei ao quarto a ver clarões pretos da falta de ar. No grupo do casamento, acompanhava-nos uma pessoa a quem faltava um pulmão. Coitado, ficava sempre para trás e ainda gozávamos: “não te esforças! Queres é ficar gordo! Anda, estás a engonhar!”.

Nessa noite, sem que soubéssemos, eu e o PAM tínhamos as despedidas de solteiros. Ia cada um para seu lado, o PAM com eles, eu com elas. Só me apeteceu agarrar aos tornozelos do PAM e gritar “nãaaaaaaao!!!”. Não tinha vontade, tinha visto a noiva uma vez, não conhecia ninguém, mas valeu-me a Rita, irmã do noivo, muito mais nova que eu, que também conheci ali, mas ao menos era mentalidade portuguesa e dizia-me ao ouvido “ainda bem que estás aqui!”.

Fizemo-nos à vida com a roupinha que tinha no corpo. Nem deu para ir ao hotel arranjar-me, embonecar-me, o que significa que eu viria a ser um nojo de gaja cansada e com cara de peido no meio de colombianas giras e boazudas que dói.

Então rumámos a casa da irmã da noiva, de onde iríamos partir para um restaurante. Fomos de transportes. Que aventura! Dentro da cidade de Bogotá há mil empresas de autocarros. Não são como os da Carris, são autocarros muito pequenos que circulam a uma velocidade absolutamente estúpida e chamam-se de “bucetas”! Isto foi o delírio dos homens, piadas para cá e para lá com “bucetas”, “eu gosto é de bucetas”, qualquer frase servia para incluir “buceta”. Fora este pormenor, espante-se, não há paragens. No meio de uma rua e com a noiva a tentar ler o destino ilegível que ia na frente dos autocarros, perguntei onde era a paragem. “No hay paradas”. O quê filha? E olho com atenção para a rua com as pessoas a levantar o braço como quem pede a um táxi para parar.

Carris, bates forte cá dentro! Em Bogotá, quem quer parar um autocarro levanta o braço, o que significa que os autocarros estão sempre a parar, por tudo e por nada. Se vai a pé para uma via rápida e levanta o braço, eles param e quem vai atrás em circulação que se cuide! São travagens muito bruscas em autocarros a cair aos bocados. Eu e a Rita dentro de uma “máquina de lavar” aos tombos de um lado para o outro ríamos como perdidas, porque não fazia sentido chorar, até que a noiva avisou: “cuidado com os carteiristas!”.

Pára tudo! Agarrei-me à mala de modo suspeito e fiz logo cara má. Antes de sairmos de casa vimos as manobras da noiva: retirar o anel de noivado, colocar dentro dos sapatos (e se salta?) e voltar a retirar quando chegada a casa. Fazia isto toooodos os dias. Que vida é esta? Não é que por cá uma pessoa esteja livre de um assalto, mas não vivemos com isso no pensamento. E também sabia da história do noivo uns meses antes, que conversava com alguém no telemóvel, abriram a porta de trás do autocarro para as pessoas saírem, alguém entrou, pegou no telemóvel dele nas calmas e saiu.

Eu olhava à volta com narinas abertas a pensar “se alguém me vai ao bolso, vou-lhe aos cornos, gatunos!”, o que seria pouco provável e/ou inteligente. À parte de me quererem aldrabar com os trocos, nunca tive problemas durante a viagem nem alguém do grupo foi assaltado.

(continua)

Aeroporto de Bogotá, o El Dorado

Táxis em Bogotá

A cidade de Bogotá é enoooorme!

As bucetas. Alguém consegue ler os cartazes afixados no vidro que indicam os destinos?
Imaginem em andamento! 

Hotel Virrey B3

Hotel Virrey B3

Mangas na rua. A ASAE chamava-lhe um mimo!

Bogotá (zona boa)

Bogotá (zona boa)
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© A Maçã de Eva

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