6.4.20

Diário COVID-19 #6 - Máscaras e cenas. Como vejo que é e imagino que vai ser.


Fonte: Visão, aqui

Há dias fiz uma publicação de uma marca portuguesa que estava a oferecer máscaras de tecido. A publicação não foi bem recebida (independentemente de a boa vontade não estar em causa), pelo facto de o uso de máscaras não estar indicado. Mais, aquelas máscaras eram de tecido.

Eu não uso máscaras, não dá para mim. Mas até para quem quer usar, não há máscaras em lado nenhum, são difíceis de encontrar. No entanto, por uma questão de lógica, acredito que uma barreira é sempre uma barreira e se usadas como deve ser (de uso único para uma ida à rua, por exemplo), retiradas pelos elásticos e colocadas na máquina de lavar, as máscaras de tecido são uma barreira e qualquer barreira (a meu ver, atenção) é melhor que barreira nenhuma.

De forma mais descritiva, se eu me cruzar com um infectado que me pede instruções para o supermercado mais próximo, além da distância, estou mais protegida de levar com um perdigoto com asas na cara tendo uma máscara do que não tendo uma máscara. Uma barreira é sempre uma barreira.

Claro, somos europeus e não estamos habituados a usar máscaras como fazem diariamente os asiáticos.

Também, somos um país maioritariamente ignorante e as pessoas não sabem usar máscaras. Há dias vi uma pessoa no supermercado que não se ajeitava com aquilo, puxava pela máscara na frente para falar com a mulher, depois deixava-a por baixo do nariz para lhe facilitar a vida, aquilo era de revirar os olhos. É evidente, dar uma máscara, seja de que material for, a uma pessoa que não tem a mínima noção de como a usar e de como um contágio se processa, pode induzir a uma falsa segurança e claramente não serve de nada.

Mas estas recomendações do não uso de máscara não são inocentes. Viu-se o que aconteceu com o papel higiénico, imaginem o que aconteceria se as máscaras fossem recomendadas. Isso mesmo, quem mais precisa delas, os profissionais de saúde, ficariam a ver navios. E até podia dar-se uma situação de assistirmos a saques de material de protecção. Notem que as máscaras passaram a ser contabilizadas nos hospitais por serem surripiadas e agora cada profissional tem de registar os pedidos.

Sim, estamos em casa quase todos, não há necessidade do uso de máscaras. Mas esse, acredito, não vai ser o futuro próximo em Portugal e noutros países. Uma análise pouco atenta que fiz à imprensa nas últimas três semanas permite adivinhar o que vai acontecer.


DGS não ensina a usar máscaras porque não há para todos: "não vale a pena dizer que há, não há"
in Observador, de 20 de Março 2020, aqui

Macau: ninguém sai à rua, todos usam máscara. Portugal está longe deste cenário 
"O médico português representante dos Serviços de Saúde de Macau, Jorge Sales Marques, disse à Lusa que a 'receita' para vencer a guerra contra o covid-19 passa pelas máscaras, desinfetantes, isolamento e rastreios".
in Diário de Notícias, de 23 de Março 2020, aqui

Máscaras de pano servem? A opinião não é unânime
in Jornal de Notícias, de 23 de Março 2020, aqui

Devemos usar todos máscara sempre? Médicos garantem que sim
in Visão, de 26 de Março 2020, aqui

Equipamento médico começou a chegar a Portugal. Máscaras e fatos de proteção aterraram no Porto
in Observador, de 27 de Março 2020, aqui

Marcelo apanhado de máscara a comprar pão
A notícia é ridícula, mas se não é recomendado, por que motivo o Presidente da República não segue as recomendações da DGS?
in Sábado, de 30 de Março 2020, aqui

Nestes países europeus, usar máscaras de proteção tornou-se obrigatório
"Países como a Áustria ou a República Checa decidiram generalizar a obrigatoriedade do uso de máscaras. Na rua ou no supermercado, acreditam que é uma forma de reduzir o contágio em massa"
in Observador, de 31 de Março 2020, aqui

Maior especialista em coronavírus da China: "grande erro da Europa é não usarem máscaras"
in Observador, de 31 de Março 2020, aqui

DGS admite alargar recomendação de uso de máscaras
in Sábado, de 1 de Abril 2020, aqui

DGS alarga recomendação de uso de máscara cirúrgica. Consulte a lista de profissionais abrangidos
in Observador, de 3 de Abril 2020, aqui

Já há 100 empresas inscritas para produzir máscaras, zaragatoas e luvas na luta contra o Covid-19
"As empresas que desejam produzir equipamentos para o Serviço Nacional de Saúde podem inscrever-se, tendo que aguardar validação das entidades competentes".
in ECO, de 3 de Abril 2020, aqui

Conselho de Escolas Médicas critica DGS pela posição sobre máscaras
"Depois de a DGS ter dito que o uso de máscaras não é "eficaz", o CEMP afirmou que o que acontece é que "não há máscaras suficientes e, por isso, arranjou-se um artifício, uma desculpa".
in Observador, de 3 de Abril 2020, aqui

Covid-19: Avião fretado pelo Estado aterrou em Lisboa com 144 ventiladores e 20 toneladas de equipamento médico
in Público, de 5 de Abril 2020, aqui


Fazendo de advogado do diabo, algumas questões:

1) Consultando o gráfico acima, é por acaso que os países cuja utilização de máscaras está enraizado na sociedade tenham números mais baixos quando comparados com países europeus onde isso não acontece?

2) Não é estranho tantos médicos nacionais e especialistas asiáticos afirmarem que o uso de máscaras faz a diferença e não serem recomendadas em Portugal?

3) Se o uso de máscara está recomendado a quem está doente e se um dos grandes problemas deste vírus é o contágio em massa por pessoas que não sabem que estão doentes, como não faz sentido o uso em geral bem ensinado?

4) É apenas uma coincidência que as notícias da DGS quanto ao alargamento do uso de máscaras aconteça ao mesmo tempo que chegam aviões carregados de material?


Como imagino o programa de festas?

À medida que chega mais material de protecção, mais são as classes profissionais às que a DGS recomenda o uso de máscaras.

O facto de os ministérios da Saúde e da Economia terem criado uma série documentos com orientações técnicas para a produção de material como máscaras e álcool gel (?), de haver uma plataforma que convida as empresas que desejam produzir a inscrever-se, diz-me que se prepara uma produção interna em massa para não estarmos tão dependentes de outros países.

Enquanto estamos confinados, alguns sectores da indústria portuguesa dedicam-se à produção de máscaras e álcool em gel.

Em Junho/Julho, quando se prevê que alguma normalidade regresse aos nossos dias, já a produção dos novos bens de primeira necessidade será suficiente para cumprir as necessidades. Imagino que este tipo de materiais venham a encontrar-se disponíveis em qualquer supermercado.

O país é chamado a ir à rua e a retomar a economia, sendo que as máscaras e o álcool gel vão fazer parte do dia-a-dia de todos, encontrar-se nas malas das senhoras, estarão disponíveis nos balcões, no comércio o pessoal fará atendimentos de viseira (imagino isso para o meu cabeleireiro) e as pessoas vão habituar-se a viver assim.

As pessoas continuarão a ter de se manter afastadas, os restaurantes não poderão esgotar o número de lugares, as lojas reabrem, alguma normalidade regressa com condições de muita limpeza, mas não há espectáculos de verão, não há Santos Populares, sardinhadas e ajuntamentos. Fico na dúvida se este verão estaremos interditos a banhos nas praias.

Agora os anúncios ensinam a lavar as mãos, daqui a uns tempos ensinarão a usar máscaras correctamente.

No entanto, pessoas dos maiores grupo de risco possivelmente vão continuar a ser recomendadas ao confinamento.

Dependendo do sucesso dos medicamentos que estão agora a ser testados como uma cura possível à doença, em setembro as escolas e universidades reabrem. Os alunos usam máscaras e o álcool gel estará presente em todas as mesas e mochilas. Tenho dúvidas quanto às creches.

Se a medida não resultar e começarem a aparecer casos após o início do ano lectivo, as escolas voltam a fechar e os alunos regressam ao ensino à distância.

Se uma nova vaga se instalar (conforme acreditam muitos especialistas) e mesmo com esta nova forma de vida asséptica, regressamos ao confinamento.

E será assim em loop até haver uma vacina que nunca vamos ter antes de Março de 2021. E mesmo assim, quando houver será distribuída por prioridades: profissionais de saúde, grupos de risco, etc.

Ou então daqui a uns tempos somos todos surpreendidos, dá-se um milagre e a COVID-19 desaparece como desapareceu a gripe espanhola (1918), sem se perceber bem como e numa altura em que não existia álcool gel nem os conhecimentos que temos hoje.

E por aí, quais são os vossos pensamentos para isto tudo? Lembro que podem discordar, sem problemas, mas com modos, por favor.




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© A Maçã de Eva

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