7.4.20

Um dia mato este gajo #95


Santa paciência, santos me ajudem que eu não estou a aguentar isto.

Muito se tem escrito por aí que estes confinamentos estão a ser um teste aos casamentos, uma provação, provas de fogo and so on. Eu que não sinto a área amorosa sequer beliscada, não posso dizer o mesmo sobre a incapacidade de meu marido em ir ao supermercado em nome da família.

Sim, o confinamento leva-me a discutir com o meu marido porque ele é incapaz de seguir apenas as instruções dadas, tem de divagar por caminhos alternativos e de cada vez que vai ao supermercado comporta-se como se fosse a primeira vez.

Serão brócolos? Será couve-flor? Enigmas da vida.

De cada vez que diz que vai ao supermercado, tremo. Reviro os olhos e começo a suspirar por antecipação. Sei que vai dar cocó. Eu conheço-o, e é até menino para pagar na caixa com o dinheiro que passa por todos, a seguir esfregar os olhos, gritar "não toques nos olhos!" e ter como resposta "mas eu não mexi!".





É evidente que assim que se iniciou o confinamento, instituí que seria eu a ir às compras, já que nesta matéria ele é praticamente inútil. Ainda assim, de vez em quando dão-se-lhe uns ares que precisa de ir ao supermercado. E as nossas comunicações são o que se vê.

Ele enche-me de ansiedade e não é injustificado.

Quando aparece, vem de pizzas congeladas, douradinhos e merdas de valor nutritivo duvidoso que NUNCA compramos. Traz pipocas carregadas de açúcar, misturas de vegetais manhosas congeladas e sem sabor que nunca comprei porque nem vale a pena experimentar. Mas a ele crescem-lhe sempre ares de "vou comprar para experimentar" apesar de eu deixar claro: stick to the list!

E hoje fiquei na cama até tarde, na ronha. Foi ele comprar legumes para a sopa. Quando chega, diz que não havia agriões, mas eu fiquei a matutar naquilo. Momentos depois, voltei ao assunto:

- Onde procuraste os agriões?
- Então, nas caixas dos legumes...
- Os agriões estão no frio juntos aos pacotes de saladas!
- Ah... não sabia...

E pronto, uma pessoa suspira, lança-lhe trovões pelos olhos, cospe que nem Belzebu, e pensa que depois do isolamento este gajo vai aprender a ir às compras ensinado nem que vá arrastado pelos cabelos.

A soprar dos nervos, a pedir paciência ao mundo, a tentar viver com esta estranha forma de vida, abrem-se os sacos para fazer a sopa: cinco pepinos em vez de courgettes! CIN-CO! 

NÃO AGUENTO MAIS!




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© A Maçã de Eva

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