29.12.19

Going to the movies: The Two Popes



The Two Popes, soberbo!

Nem sabia que este filme estava para chegar, mostrou-me o PAM poucos dias depois da estreia,. Ele já tinha lido alguma coisa sobre o filme, mas eu estava completamente num registo "o que vamos ver hoje?", alheia a tudo. Foi uma completa surpresa!

Podia escrever neste post o nome Anthony Hopkins e pronto, não precisava de escrever mais nada, ficava assim feita a recomendação e resumido o assunto. É evidente que o talento deste actor dispensa apresentações, mas mais uma vez vem provar o bom que é, caso alguém se estivesse a esquecer disso. Que interpretação de Papa Bento XVI (Ratzinger) maravilhosa! E até a caracterização, chega a fazer impressão na semelhança e no envelhecimento que lhe deram.

Jonathan Pryce, na pele de cardeal Bergoglio e Papa Francisco, é delicioso. Aquela boa disposição argentina num actor que é inglês é muito curiosa. Também nele a caracterização é sublime e a interpretação faz-nos sentir que o conhecemos de perto.

Há um artigo do DN que diz que ver este filme é como espreitar pelo buraco da fechadura da Igreja Católica. E é uma excelente descrição, mas não de uma forma de católica, este filme não tem a ver com religião.

Talvez seja importante dizer que sou dura critica da Igreja, acho uma hipocrisia, uma podridão, todos os rituais me parecem uma seca imensa, aos meus olhos não há nada de atraente na Igreja. O que é diferente de ter fé, de sentir fé, e aí abstenho-me de dar opiniões, são questões pessoais da forma como cada um vive a religião. Em suma, acredito que todas as religiões têm bons princípios, mas depois vêm as pessoas e estraga-se tudo.

O filme não é sobre religião, é sobre mudança, sobre uma amizade improvável, sobre os vários olhares que podemos ter sobre um mesmo assunto, é sobre diálogo, comunicação, capacidade para ouvir, sobre o sentido da vida, sobre todos sermos pessoas independentemente do cargo ou da posição, é sobre os efeitos do carisma, é sobre muita coisa, mas a religião parece que está apenas de passagem. Os diálogos são tão, mas tão bons, que o filme podia ser um podcast e seria maravilhoso de ouvir na mesma.

Creio que não será surpresa para ninguém se disser que Ratzinger não inspirou as pessoas em geral. Foi um Papa carrancudo, demasiado conservador, alemão (serve para descrever muitas características pessoais, como frieza). O realizador Fernando Meirelles (o mesmo realizador do filme Cidade de Deus), ele próprio confirma que o retrato de Bento XVI terá saído favorecido no filme, pela interpretação, desculpando-o: "Anthony Hopkins não pode evitar, é encantador", e isto tem muita graça.

Por sua vez, o argentino Bergoglio revelou-se uma inspiração ao mundo, até para os não católicos, pela sua boa disposição, pela sua simplicidade, por não se mostrar distante e intocável, pelo contrário, por se mostrar com os pés assentes ao lado de qualquer um. É um homem que apetece convidar para jantar lá em casa e isso marcou diferença em relação a todos os Papas que conhecemos.

The Two Popes é Oscar material, não percam! Eu estou capaz de ver outra vez só pela delícia de poder ouvir novamente aqueles diálogos. MAS, isto é um filme para quem gosta de pensar e reflectir, para quem aprecia a diferença de contribuições no diálogo, é um filme para ficar a pensar nele.

Para ler depois do filme, este artigo do DN separa alguma realidade da ficção. É que depois de um filme destes uma pessoa queria ser mosca para ter lá estado e saber o que é verdade e o que é filme.




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© A Maçã de Eva

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