4.4.19

Amamentar, sim ou não? - o que eu li


Amamentar, sim ou não - a minha experiência, ler aqui.

Depois de a Carmencita ter nascido, perdi a conta às mulheres que me escreveram por causa da amamentação. Estavam perdidas, queriam uma opinião de alguém de fora, alguém que fosse neutro e que tivesse uma experiência recente. Havia um denominador comum a todas estas mulheres: um sentimento de culpa muitas vezes provocado pela família próxima. Isto deixava-me sempre colérica.

Tocou-me especialmente uma leitora que não estava a conseguir lidar com a amamentação, queria desistir tranquilamente, mas não conseguia na presença diária de uma sogra que a pressionava constantemente. Pela descrição, para esta sogra era o seu momento de poder, mandava na nora e sentia-se o pináculo da sabedoria e maternidade, argumentando que a mulher foi mesmo feita para sofrer. Ela tinha de aguentar, o netinho dela não ia beber leite de lata.

A juntar a este cenário horrível, o pai da criança também não era lá pessoa muito firme, nunca soube pôr a mãe dele no lugar e ia tomando partido ora de uma, ora de outra. Resultado: uma depressão pós-parto. Morri de pena desta leitora, foi um relato horrível de ler.

Outra pessoa me escreveu, curiosamente uma enfermeira: "sou enfermeira (...) Durante a gravidez, tive muitos medos, medo do parto, de estar horas e horas a dilatar (...) Só não tinha medo da amamentação! Sempre achei a "coisa" mais natural do mundo (...) Mas a amamentação foi terrível para mim. Primeiro porque tinha os mamilos rasos e tive que usar mamilos de silicone, e depois porque o meu filho era muito preguiçoso para mamar (...) Como tinha muito leite e o rapaz não dava vazão, depois de mamar lá ia eu para a ordenha na máquina de extracção e tirar litros de leite. Mas o pior ainda estava par vir. comecei a ficar com os mamilos gretados de tal forma que chegaram a ficar em carne viva! Sei que isso é normal acontecer, apesar de todos os cuidados que tinha com os mesmos, pomadas que colocava, etc...

(...) Comecei a sentir-me muito em baixo emocionalmente. Não conseguia sentir amor pelo meu filho, chorei muito, só pensava nas mamas e nas mamadas! Como se não bastasse, tive quatro mastites num mês! Tomei antibiótico atrás de antibiótico, (...) entrei em desespero, só queria secar o leite e acabar com aquele tormento. Fui muitas vezes ao centro saúde, a minha enfermeira de família foi impecável, mas sempre com a mesma ladainha que ainda me irritava mais: "não seques o leite, isso é normal, o primeiro mês é o mais difícil, depois passa", "tira os mamilos de silicone, é mais difícil para ele pegar", "não lhe dês do teu leite pelo biberão, vai habituar-se à tetina e não vai pegar no mamilo", "põe à mama de hora a hora...", blá, blá, blá. Tinha a cabeça em água, ninguém me entendia. 

Quando tive a quarta mastite disse logo que para mim chegava, não queria amamentar mais, estava farta (...) Fui ao hospital, fui observada pela obstetra que disse logo que o melhor era secar o leite. Era uma pena, pois tinha muito leite, mas era o melhor, senão poderia ter um abcesso. No dia em que tomei os comprimidos para secar o leite chorei muito, estava sentir-me culpada por ter tanto leite e desperdiça-lo (...) Ainda dei do meu leite que tinha congelado (...) e entretanto iniciou o leite em pó.

Sou enfermeira, sei o bem que faz o leite materno, mas sinceramente, bendito leite em pó. Desde que começou a fazer o leite em pó, tive muito mais tempo para o meu filho e também para mim. Ressuscitei, literalmente! Sou defensora da amamentação, mas também sou do aleitamento, quer por opção ou por necessidade".

Acho que se consegue perceber o inferno pelo qual esta pessoa passou. Ao optar pelo leite em pó sentiu-se renovada. Estava num estado tal de ansiedade, angústia e tristeza que começou a interferir com os sentimentos que tinha pelo filho. E digam honestamente, isto vale a pena? Em nome do quê?

Durante a gravidez e alguns posts que fui publicando, havia um outro lado, o das mães triunfantes, o das mães que diziam "eu sangrava dos mamilos e não desisti! O meu filho até bolsava sangue!". As minhas sobrancelhas até se levantam, mas pronto, essas maminhas não são minhas. Acho que se a mulher quer passar por essa provação e está convicta de que por maior que seja o sofrimento não quer desistir, tudo bem. É o vive e deixa viver, o cada um sabe de si, sou completamente a favor da opção que a mãe escolher. O que eu acho errado é pressionar a continuar um calvário de amamentação uma mulher que quer desistir.

Com o tempo percebi que alguns conteúdos que circulam na net ou em livros promovem a angústia da mulher. No meu caso não tinha dúvidas quanto à minha vontade, mas há mulheres que não têm essa firmeza, há mulheres que não conseguem pensar direito no pós-parto.

Argumentos que li (juro que li): "as mães sentem-se mal quando não estão a amamentar", "a mãe que amamenta sente-se uma mãe completa", ou "a amamentação é fundamental para que a mãe e o bebé criem laços", pode fazer com que algumas mães se sintam umas aves raras, más mães, mães insuficientes. Isto numa altura em que uma mulher mais necessita de afecto, compreensão e ajuda.

Quando a Carminho tinha sete dias de vida, não evacuava desde o dia anterior, fiquei preocupada. Decidi ligar para o centro de saúde e falar com a minha médica de família para saber se esperava tranquilamente ou se dava um bebegel (ou coisa parecida). Quando me perguntou se estava a amamentar e respondi que não, levei um inacreditável sermão, como se fosse uma miúda. Nunca mais me esqueço a agressividade e de me dizer que a minha filha estava obstipada e a culpa era minha por ter escolhido não dar de mamar.

Fiquei literalmente sem palavras ao telefone, no mais profundo silêncio (o silêncio também é uma forma de resposta), segurando o telefone, deixei-a falar o que ela quis e quando foi altura de desligar, "obrigada, boa tarde". No dia seguinte liguei para o centro de saúde e disse que nunca mais voltaria a ser atendida por aquela médica. Quanto à Carminho, pouco tempo depois do telefonema sujou a fralda, foi uma coisa passageira sem motivos para alarme.

Tenho perfeita consciência de que me habilitaria a uma depressão pós-parto, a um desprazer nos cuidados com a minha filha, se me sentisse obrigada em vez e livre de fazer a minha escolha. E por tudo isto sou a maior fã da possibilidade do leite em pó, a sua existência traz muito mais do que alimento ao bebé, traz partilha de refeições, traz liberdade, traz descanso, traz alívio na rotina, traz mil benefícios que para mim e para a vida do dia-a-dia são muito maiores que os benefícios que o leite materno possa trazer.

Para outras mulheres dar de mamar é o maior prazer, a solução mais fácil e rápida, o desmame faz-se com algum sentimento de tristeza e acho óptimo que assim tenham optado se foi esse o seu desejo.

E ainda sobre este tema das maminhas, temos um casal amigo que um bebé que mamava em regime livre, mas que estavam de rastos, eram zombies, a criança tinha um ano e ainda despertava em média cinco ou seis vezes por noite. Credo! Quando a Carminho nasceu acordava duas vezes por noite e ao fim de três semanas já só acordava uma vez pelas 6h da manhã! Mas again, quem opta pelo regime livre não é assunto meu, não tenho nada contra, apenas não queria para mim.

A criança já tem três anos e ainda não dorme noites inteiras, tem um vício de mama. Não é fome, é vício. E embora eu respeite a opção, é evidente que isto aconteceu porque sempre lhe foi dada a maminha de todas as vezes que quis, às horas que quis.

Este estudo de 2017 da Universidade do Minho é muito interessante. O estudo avaliou o comportamento de sono das crias às duas semanas de idade, aos três e seis meses de acordo com o tipo de aleitamento: amamentação exclusiva, aleitamento materno + artificial e aleitamento artificial exclusivo.

Os resultados mostraram que os bebés amamentados em exclusivo "têm um período de sono mais curto durante a noite aos três meses de idade, do que os bebés em aleitamento artificial exclusivo", "despertam mais vezes durante a noite aos seis meses de idade, do que os bebés em aleitamento artificial exclusivo e têm um período de sono mais curto durante a noite".

I rest my case, sou mesmo team biberão. A minha sanidade mental é importante.

Em suma, sobre amamentar ou não, eu sou pela liberdade de escolha e pela proibição da pressão dos profissionais de saúde ou familiares. Cada mulher deve decidir o que deseja, se quer ter liberdade, paz, tempo para si ou se prefere sujeitar-se às consequências do aleitamento materno. Para mim, qualquer opção é válida, até mesmo se a mulher não quiser dar de mamar só para não estragar as maminhas. Acho um argumento tão válido quanto outros.

Se um dia vier a ter outro bebé (o que é altamente improvável) duvido que opte pela amamentação, mas não digo "nunca". Não tive uma excelente experiência com a Carminho, mas entretanto fiz uma redução mamária com técnica para poder dar de mamar se um dia desejar. O importante é ter opções.





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© A Maçã de Eva

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