21.2.19

Amamentar, sim ou não? - a minha experiência


Não é difícil de adivinhar, o post vai ser polémico. A tensão sobe e o coração fica descompassado quando um texto sobre amamentação aterra na internet. Assim, às pessoas que ficam mais acesas com a temática, peço por favor que façam contribuições construtivas e mantenham os ânimos calmos. Quem não gostar pode sempre fechar a página.




A Carmencita já vai fazer dois anos e nunca escrevi aprofundadamente sobre a minha experiência de amamentação (até o pós-parto aguarda post). Eu sabia que já tinha abordado o tema algures, procurei e fui descobrir o post aqui. É de 2011. E o curioso de reler este texto tão antigo foi perceber que não mudei muito a maneira de pensar. Podia ter acontecido, não vinha mal ao mundo, os anos passam e mudamos os nossos interesses, hábitos e formas de pensar, mas não se deu uma grande transformação no que toca a este tema.

Parece inacreditável vindo de mim, mas ao longo da gravidez preparei tudo para dar de mamar. Oh, se gastei dinheiro! Eu tinha sete soutiens de amamentação! Que agora jazem novos, reluzentes, num saco sem que saiba o que lhes fazer.

É verdade que nunca fui fã da ideia de amamentar, não sei explicar o motivo. Tenho uma amiga que procurava converter-me, dizendo que era um momento de união especial e único, mas eu não chegava lá, não me tocava no coração.

Durante a gravidez, pedi opiniões no blogue e muni-me de tudo o que havia no mercado para me ajudar na missão amamentação. Fiz esta lista com as vossas sugestões:


1. Biberons AVENT da Philips. Escolhi a gama natural, aproveitei uma promoção para comprar cinco e são os biberons que ainda usamos. Com o tempo fui só comprando tetinas, à medida que os bebés crescem mudam as tetinas que têm mais furos para passar maior quantidade de leite. Nunca me desiludiram, recomendo muito. Passei também por vários escovilhões de limpeza que se desfizeram, o da Avent é mesmo o melhor, devia ter comprado logo junto com os biberons, os outros só serviram para acabar no lixo.

2. e 3. Creme antiestrias da ISDIN e da BARRAL. Não são bem um essencial à amamentação, mas foram essenciais para mim para evitar ficar com a pele das maminhas estragadas. Ia alternado, cumpriram, a gravidez não me deixaram uma única estria para contar a história (e entretanto fiz uma redução mamária).

4. Purelan, o famoso creme da Medela para evitar ficar com mamilos gretados e que se pode colocar entre as mamadas.

5. Soutien da Chicco. Eu disse que comprei sete soutiens para amamentar, são da H&M, da Primark e nenhum deles éfoi como este da Chicco que coloco na imagem. É tão bom, tão bom que o usei mesmo sem estar a dar de mamar. Recomendo muito!

6. Almofada de amamentação Boppy, na Chicco. Se vão ter um bebé, têm de ter uma almofada destas. É excelente para amamentar, para dar biberon, mais tarde para sentar o bebé que ainda não se aguenta sozinho, para fazer "barreira", acreditem, é um óptimo investimento que dá para várias ocasiões.

7. Creme de mamilos da ISDIN. Usei ainda grávida nas últimas duas semanas de gravidez, numa espécie de preparação.

8. Bolsas de gel no frigorífico para a subida de leite (em vez de ervilhas, sempre é mais simpático e não fica a cheirar a podre).

9. Discos de hidrogel anti-fissuras da Chicco. Os discos ajudam a prevenir lesões dos mamilos, mantêm a pele hidratada e elástica, acalmam a dor. No caso de existirem lesões, são bons para ajudar na cicatrização.

10. Mamilos de silicone da Chicco, alivia a dor e facilita a vida das mães que têm mamilos achatados.

Como vêem, eu tinha tudo! E ainda tinha uma bomba manual de retirar leite que nunca cheguei a usar e ofereci.

Dar de mamar devia ser uma coisa simples: mãe põe maminha na boca do bebé e está feito, todos gostam e vivem felizes. Mas não, é completamente diferente disto.

Ao longo da gravidez desenvolvi uma grande sensibilidade nos mamilos. Até a água do duche me incomodava. Se no início era tolerável, no fim da gravidez já me encolhia e isto fazia-me pensar que possivelmente não ia conseguir dar de mamar. Era sensibilidade a mais.

No parto perguntaram-me se queria que a Carminho fosse colocada sobre mim quando nascesse, se queria colonizar a pele dela e dar maminha. Não duvidei, claro que queria.


A foto ficou linda para mais tarde recordar, mas o que se seguiu não foi espectacular para nenhuma das duas. Por esta altura não tinha leite, nem colostro (pelo menos amarelado), era uma água transparente, umas gotas de nada, não fazia ideia como é que um bebé se ia alimentar daquilo, mas esperava que o volume aumentasse. O dia seguinte não foi muito diferente, a aguadilha era a mesma, mas os mamilos começavam a ficar cada vez mais sensibilizados, ao mesmo tempo que a Carminho revelava não ter muito jeito para mamar. Mastigava o mamilo e sucção nem por isso.

No Hospital de Cascais as enfermeiras foram absolutamente impecáveis, ajudaram, ensinaram, estimularam, acho mesmo que tentaram. Mas no dia seguinte, na falta de maior alimento veio o choro e perante o insucesso sugeriram um biberom.



Era de madrugada, a ideia das enfermeiras foi permitir-me descansar, alimentar o bebé que tinha fome e voltar a tentar amamentar dali a umas horas. Mas eu vi como a Carminho ficou consolada, oh!, ponham consolo nisso, ela estava de barriga cheia, descansada, só lhe faltava dizer "agora sim, estou bem".

Dar biberom foi tão simples, tão prático e tão agradável que me deixou a pensar que eu preferia essa possibilidade. Desengane-se quem possa pensar que há menos união entre mãe e bebé, para mim foi maravilhoso poder sentir que estava a dar-lhe leite na quantidade que precisava, mesmo que não fosse meu e - isto é extraordinário - à medida que a alimentava com leite que não vinha das minhas maminhas, sentia o útero contrair igualmente (a Natureza teve graça).

Horas mais tarde voltámos a tentar, doía-me e não saía nada de jeito, tentámos mamilos de silicone, ela parecia que não vinha ensinada.

Amadureci a possibilidade que já tinha sido colocada, chegou o PAM e perguntei-lhe se não se importava que optasse por não dar de mamar. Falei com a minha mãe para me dar uma opinião, deixaram-me sem culpa nas suas palavras, desvalorizaram esta fervorosa obrigação absoluta de dar de mamar que tantas vezes se lê e informei as enfermeiras que iria optar por dar fórmula, queria secar as maminhas e dois dias depois do parto tomei os comprimidos. Nem cheguei a ter subida de leite.

No Hospital de Cascais receei que fossem tentar uma lavagem cerebral, que me olhassem de lado ou fizessem comentários depreciativos que me deixassem aborrecida, mas foram de uma rectidão exemplar. Apenas perguntaram se tinha a certeza, se estava bem informada ou se precisava de mais informação, entregaram a receita para o medicamento e nunca mais tocaram no assunto.

Se me esforcei muito? Honestamente, não. Mas rapidamente percebi que não era para mim. E não pedi opinião no sentido de uma autorização, foi mais no sentido de me ajudarem a pensar porque depois de um parto não temos a cabeça grande coisa.

Inicialmente dava o leite com água engarrafada, ia mudando as marcas de águas para variar os minerais, sempre a uma temperatura ambiente. A ideia foi não criar vícios como via no meu sobrinho que estando na rua sem ter onde aquecer o leite, recusava-se a beber por entre gritos histéricos de fome. Com o tempo e autorização do pediatra, talvez pelos seis meses, passou a beber leite com água canalizada.

Ao contrário do que me diziam, que dar maminhas era muito mais simples sobretudo à noite, estou em desacordo. Para mim era do mais simples que há deixar os biberons fechados com água, ir dormir e à noite acrescentar o pó numas caixas onde se dividem as doses. Aquilo é só adicionar, agitar e está pronto a beber. Ainda hoje uso a caixa das medidas no saco de sair à rua.

Claro que o leite materno é o melhor para o bebé, por outro lado nunca mamei e sempre fui uma criança saudável. Também não acredito numa relação absoluta entre leite em pó e cólicas. Quando a Carminho nasceu, um primo dela tinha nascido dois meses antes e era exclusivamente alimentado com leite materno. Este bebé foi um problema com os intestinos, chorava o bebé e a mãe. Dizia-me a mãe que ela própria chorava quase todos os dias e eu ficava angustiada com aquilo. Entretanto a Carminho nasceu, foi alimentada com leite de lata e se teve duas vezes dores que me obrigassem a massajar a barriga dela, foi muito.


Confesso sem dramas, depois da minha experiência tornei-me a maior fã de leite em pó (e mais tarde vim por isso a aceitar uma parceria com a NAN da Nestlé, que foi o leite que sempre bebeu). Se vivesse num tempo em que não existisse essa possibilidade de escolha, teria passado por uma fase infeliz. A existência do leite em pó deu-me liberdade. Os primeiros meses de ter um bebé - são horríveis, não vou mentir - foram melhores porque pude dividir a alimentação da minha filha. Eu, o pai e a Sirly ou quem nos visitasse podia alimentá-la, não era exclusivamente dependente do meu corpo.

Não tive subidas de leite, mastites, fissuras nos mamilos e pude dormir quando estava mais cansada. O pior que me aconteceu foi ter os mamilos a pelar com zonas em crosta das tentativas de amamentação que fiz no hospital e oh se dói! Portanto, nem quero imaginar com insistência. Mas depois disso fui livre, tinha algumas horas para mim e eu juro que isso tornou a minha experiência de maternidade muito melhor. 

A partilha da alimentação da Carmencita foi fundamental para mim, ela dormia longas horas, ao fim de umas três semanas de vida já dormia cerca de seis horas ininterruptas de noite e este cenário permitiu-me gozar a maternidade de uma maneira que (pessoalmente) era sem dúvida a melhor.

Respondendo à pergunta do post: amamentar, sim ou não? Sim, se a mãe quiser; não, se a mãe não quiser. Por acaso perguntei ao PAM porque não queria que se sentisse colocado de parte, mas na verdade (e desculpem a franqueza) acho que a opinião do marido não conta para este campeonato. São as maminhas da mãe, as dores da mãe, o sofrimento físico da mãe, o desgaste mental da mãe, o cansaço da mãe, o tempo da mãe e para mim decide a mulher o que lhe apetecer, sem dramas e sem sentimentos de culpa. E restante família à parte, considero mesmo que neste tema os palpites alheios que não acompanham a opinião da mãe não são autorizados.

Olhando para as fotos tenho um óptimo sentimento na decisão que tomei na altura. Foi de longe a melhor opção para a minha natureza enquanto pessoa e foi bom para o PAM poder partilhar a alimentação dela. E deixo a recomendação: tirem fotos! Eu sei que não há muita vontade, mas hoje acho que tirei poucas fotografias desta fase. Na foto da esquerda a Carminho está a ser alimentada pelo pai, na foto do meio - que nunca partilhei - foi a primeira noite com os três em casa, e a terceira foto é já com a Carminho mais crescida, quando começou a segurar o biberom sozinha.




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© A Maçã de Eva

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