9.12.16

Um dia mato este gajo #71


No verão, uma amiga também grávida e que trabalha num banco, confessava-me a falta de paciência com que andava para redundâncias. Dizia ela que as pessoas chegavam ao balcão e perguntavam: "fazem depósitos?", ao que tinha vontade de responder "não, mas vendemos estas lindas couves que temos no balcão".

E eu compreendo-a perfeitamente, o meu coração está com ela. A falta de paciência para conversa desnecessária é coisa que me acompanha diariamente. Ainda me lembro nos tempos de função pública em que era vista como pessoa antipática porque não fazia conversas de corredor e não introduzia as chamadas para outros departamentos com mais do que a educação obrigava. Eu sou uma pessoa despachada, não me arrasto. No trabalho, sou completamente focada, não me apetece trazer distracções ao raciocínio quando estou concentrada.

Durante parte da minha vida senti-me incompreendida, "para quê tanta conversa e salamaleques?", mas agora grávida este tipo de discurso parece que ganha toda uma outra dimensão, pois a paciência decresce à medida que a barriga cresce.

Uma das pessoas dadas a estes comportamentos redundantes é o me'home. Então, comecei a entrar nestes diálogos em modo "hás-de parar": ele redundante, eu irónica.

- Preciso que vás ao talho.
- Fazer o quê?
- Comprar cotonetes.
- Precisas de me tratar assim?

Sabendo que vou fazer um gratinado de legumes, a tratar do bechamel no fogão, pergunta-me:
- Isso é para quê?
- Lavar o rabo.
- Já viste como estás horrível?

Uma pessoa pode vir a não ser bem-sucedida, mas ao menos tenta.


SHARE:
© A Maçã de Eva

This site uses cookies from Google to deliver its services - Click here for information.

Blogger Template Created by pipdig