15.10.16

Haters a partir pratos


Há pessoas que vibram com uma Sexta-feira, o fim da semana de trabalho. Uns vão ao cinema, outros vão jantar fora, há quem vá às compras, dançar, vá ter com a família ou os amigos. E outros, na falta do que fazer, dedicam-se a descobrir "causas nobres" nas páginas de facebook alheias, num exercício irado de perseguição e numa descomunal raiva com desconhecimento de causa. Foi o que me aconteceu ontem à noite no FB do blogue.

Existe, já há algum tempo (desde que lancei o ano passado) um drama mais ou menos contido por causa do modelo Valentina da minha marca ROS LISBON vs o modelo Rockstud do Valentino, casa de alta costura. Mas ontem a contenção deixou de ter lugar.

Para começar, devo dizer que me impressiona que alguém, alguma vez, tenha pensado que o modelo Valentina é uma criação minha. Basta ver TV, revistas, blogues, ter um mínimo interesse em moda para saber que a ideia não partiu de mim. Nunca tive essa pretensão e impressiona-me que alguém não conheça os Rockstud do Valentino, é quase viver numa gruta.

O segundo momento que me impressionou foram as acusações, o defender com unhas e dentes o "plágio" de um modelo, sendo que se tornou evidente que não conhecem o original (de onde partiu a inspiração). Como é que se defende uma coisa que não se conhece? É que chega a ser ridículo.

Vamos a factos, olhando as imagens: “O QUE DIZ A LEI” vs “O QUE AS PESSOAS ACHAM”




1. O modelo VALENTINA não é uma cópia Valentino.

2. Nunca se procurou que o modelo VALENTINA fosse visto como sendo da autoria da ROS LISBON. Se aconteceu, não é responsabilidade da marca (basta ver o nome que se deu ao modelo que identifica de imediato a fonte de inspiração).

3. Não se pode sequer dizer que o modelo foi criação da ROS LISBON, pois ele foi criado por um fornecedor que vende esse mesmo modelo em todo o Brasil (de que tamanho é o Brasil?).

4. Eu percebo que as pessoas queiram ter razão à força, toda a gente quer descobrir a roda, a pólvora, fazer uma brilharete público, apanhar alguém em falso e poder brilhar nas redes sociais. Mas nesta indústria, a lei diz que para um modelo não ser considerado uma “cópia integral” (a acusação que fazem), a inspiração tem de ter TRÊS diferenças sobre o original.

5. Retirando o elemento identificativo que são as tiras atravessadas no peito do pé e as tachas, sabendo ainda que o Valentino não foi o criador das tiras atravessadas no peito do pé e muito menos das tachas, retiremos esse elemento que não tem direito de exclusividade para ver com olhos de ver a "cópia integral":



6. Quais as diferenças no modelo ROS LISBON, sendo que a lei obriga a TRÊS diferenças? Basicamente não existe semelhança no sapato, ficando a semelhança limitada à presença de tiras com tachas.

a) O calcanhar não existe no modelo Valentino.
b) A forma/formato de toda a base onde o pé apoia é diferente do modelo Valentino.
c) A parte que cobre o pé mostra os espaços entre dedos no Valentino, na ROS LISBON tapa esses espaços completamente.
d) A posição das tiras é diferente.
e) O bico do modelo Valentino é mais bicudo, pontiagudo e afunilado que o modelo ROS LISBON.
f) A altura do salto é diferente.
g) O formato do salto é totalmente diferente.
h) O acolchoado e materiais da palmilha são diferentes.
i) Os materiais da sola são diferentes.
j) Estes, só para nomear alguns e contar muito mais do que as TRÊS diferenças a que a lei obriga.

7. O facto de a lei obrigar que um modelo tenha apenas TRÊS diferenças do original explica como semelhantes de tantas peças de alta costura apareçam na ZARA e UTERQUE, grupo INDITEX em geral, dando um exemplo, embora existam mil outros que ilustrarei abaixo (e onde todas as haters fazem compras).

8. Respeito perfeitamente (e não coloco em causa) a opinião de alguns de que não se devem fazer inspirações. Respeito, mas não coincide com a minha opinião pessoal e isso leva-nos a outro cenário industrial que abaixo mostrarei como todos, sem excepção, quebram essa regra que tanto acreditam.

9. Uma “cópia na íntegra” seria apreendida ao chegar à Alfândega, o valor da minha mercadoria seria perdido para sempre e a minha marca (eu) teria de aguardar por multas e processos judiciais. Em suma, estaria metida e enrascada até ao tutano em riscos milionários de indemnização para vender 100 pares de Valentinas. Correria eu (ou qualquer outra marca) esse risco?

10. Mais ensino que qualquer pessoa ou marca pode reproduzir uma "cópia integral" neste meio ao fim de 5 ou 8 anos do lançamento de um original (não tenho a certeza se são 5 ou 8 anos).


Sei que para muitas pessoas é uma desilusão, mas não há nada, absolutamente nada de ilegal no modelo ROS LISBON, como não existe noutras marcas que vendem outras inspirações.

No mínimo, para estas pessoas tão "cheias de conhecimentos"sobre o que dita a lei nesta área, seria de raciocinar e estranhar que existissem tantas "réplicas" Valentino impunes. Existem porque não são consideradas réplicas e existe uma diferença entre a opinião das pessoas, aquilo que pensam que sabem e aquilo que dita a lei. Não há sequer nada que a Maison Valentino possa fazer a respeito das milhares de inspirações que existem, como não há nada que eu possa fazer se uma marca qualquer pegar num modelo meu.

Outros exemplos de inspirações Valentino, todos legais:











14. São milhares, é procurar no Google. E nenhum destes exemplos incorre em ilegalidade.


Imagino que toda e qualquer uma destas pessoas que se dedica a perseguir-me pratique a "religião que professa", benzendo-se de cada vez que passa à porta de uma ZARA, o gigante das interpretações das altas casas de costura.

Todas as calças de ganga que tiverem em casa, é altura de as regar com gasolina e deitar fogo. As jeans foram inventadas pela Levi's e de seguida houve quem aproveitasse o negócio do Strauss, pegasse na ideia e fizesse o seu próprio negócio (mais ou menos como peguei na ideia das tiras com tachas). Assim, tudo o que não seja Levi's nos vossos armários, sois umas hipócritas.

O carro foi inventado pelo senhor Benz, que é agora a Mercedes-Benz. Todos os carros que não sejam desta marca estais a ser hipócritas, a ideia foi de outra pessoa e agarrada por terceiros que aproveitaram a invenção para fazer negócio e ganhar dinheiro.

Qualquer lâmina de barbear descartável encontrada no vosso lar e que não seja da Gilette, estais a ser hipócritas. A ideia de negócio foi da Gilette, outras marcas que produzam lâminas trata-se de uma apropriação da ideia de negócio.

Todo o aspirador que seja de outra marca que não a Hoover, já para o lixo. Outras marcas apropriaram-se da ideia desta empresa e fizeram negócio.

O primeiro telemóvel a operar com as funcionalidades de um smartphone foi a Nokia. Parece que a Nokia já não produz telemóveis, para sermos correctos e não adquirir a marcas que se apropriaram da ideia, estamos todos f*****.

O salto alto foi inventado pelo sapateiro de Luís XVI para lhe dar altura, pois o homem era muito baixinho. Tudo o que não venha desse sapateiro ou descendência desse sapateiro, estais a comprar artigos em que houve aproveitamento das ideias alheias! Eu até gostava que me dissessem a diferença entre eu aproveitar tiras com tachas e outros terem reproduzido a ideia dos saltos altos deste sapateiro, saltos esses que agora têm nos pés. Pior, há toda uma indústria a ganhar dinheiro com isso!

E os stilettos? Quem os inventou e como se repetem por aí em mil versões? Não têm uns que não sejam originais, pois não?


Lamento desiludir o vosso mundo perfeito de pessoas impecáveis e correctas, mas tudo o que vão pegar com as mãos durante o dia de hoje foi ideia de alguém e, provavelmente, o que têm nas mãos não é um original, vem de outra parte que aproveitou a ideia de negócio de outrem.

Basta ir à feiras de moda internacionais, como vou todos os anos para sapatos e swimwear, para ver que nos dias que correm inventa-se muito pouco, há poucos originais e o mundo está cheio de inspirações de outros modelos. Stand após stand nestas feiras, repetem-se os modelos, uns atrás dos outros e não há ali ilegalidade. Lamento a desilusão, mas TODA a indústria funciona assim: alguém aproveita o que outra pessoa inventou. Mais exemplos que ilustram estas inspirações:














Um outro exemplo destas coisas é a presença de estrelas nos sapatos, não inventado pela Stella McCartney, mas uma tendência que lhe é atribuída neste momento. Num exercício futurista, dado o que vi na feira de Milão em Setembro, no próximo inverno podem contar com botins estrelados. São uns atrás dos outros, vão estar em todas as lojas pela Europa fora.

    


Dito isto, as que professam a religião "eu cá não incorro em erros nem parto um prato", que muitas vezes nem sabem que estão a comprar uma peça que foi inspirada em terceiros (o que acontece quase sempre), recomendo que interrompam as compras nas ZARA, em qualquer loja do grupo INDITEX, ASOS e afins e comecem a comprar tecidos e costurar em casa, quais amish. Só assim estarão protegidas com garantia.

Uma das pessoas que me perseguiu ontem (e continua a perseguir esta manhã), insiste que eu receio que toda esta polémica me retire vendas ou provoque danos à minha marca e por esse motivo estou a bloquear cada membro da sua grupeta que me está a maçar. Tive de lhe explicar que não deveria ser presunçosa, pois no limite estaria a divulgar a minha marca. As pessoas verdadeiramente interessadas (e informadas) nos meus modelos ou na minha marca não consideram o que os haters têm para dizer, da mesma forma que eu vou a uma ZARA e não é comigo se a inspiração X não vai de encontro à opinião da Maria da Couves. Tal como eu, as minhas clientes seguem-se pela própria opinião, não a opinião do que lêem.

O divertimento de Sexta à noite, a polémica, o horror, a rebeldia sem causa, a falta de conhecimentos da lei, a falta de olhos para comparar a "cópia integral" com olhos de ver, a hipocrisia (que é a palavra que resume a atitude de todas estas mulheres) de terem armários e casas cheias com artigos que foram inventados por um criador e aproveitados por terceiros para fazer negócio, sejam jeans, aspiradores, carros, embalagens, sapatos, saltos altos, stilettos, chinelos de enfiar o dedo, vassouras, esfregonas, smartphones, tudo foi inventado por alguém e aproveitado por outros para fazer negócio.

Eu podia ser um gigante da ZARA e ter uma inspiração de uma casa de costura, estas mulheres não mexeriam um dedo, não existia qualquer polémica. Mas sou a Maçã, tenho um blogue, fiz mais do que um negócio e isso muda tudo nestas mentes.















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© A Maçã de Eva

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