3.6.15

Os grunhos da bola

Não é mentira nenhuma que detesto futebol. E o motivo nada tem a ver com o jogo em si, que também não me interessa muito. O motivo está relacionado com as pessoas. O futebol é dado a excessos, à estupidez, às fúrias, aos nervos, em suma, as pessoas ficam insuportáveis (me'home incluído). Por isso, em dias de jogo eu prefiro até sair de casa, ir dar uma volta pelas lojas na hora em que o país está parado e as lojas uma maravilha para visitar. Prefiro ir a casa de alguém, prefiro fechar-me no escritório a trabalhar. Regra geral, em dias de jogo, reviro os olhos até que as coisas voltem à normalidade.

Há dias vi na TV imagens de pessoas largadas em lágrimas com a derrota do Sporting de Braga, qual morte de um familiar, e eu olhava para aquelas imagens como quem viu um fantasma.

- Que grunhos... - pensei alto
- O futebol é isto mesmo. São emoções! - disse o PAM que apareceu atrás de mim.
- Emoções de acéfalos.
- Oh, não digas isso. Eu não sou acéfalo.
- Tens os teus momentos...

A juntar a estes momentos de verdadeira «inteligência» num sofrimento desnecessário, há semanas o PAM entrou-me em casa dizendo que ia passar a jogar à bola. É importante para este texto referir que em seis anos de vida em comum nunca o vi jogar à bola. Nunca ouvi falar em tempos em que jogava à bola. Nunca soube de nada. Mas uma qualquer grupeta fez-lhe o convite, ele avisou que não era nenhum Ronaldo, que está mais para fazer nós nos pés do que dar força à bola, e lá foi ele na mesma.

Estava cheio de vontade! Xii, que animação! Comprou chuteiras, meias pelo joelho, todo um equipamento de quem vai abraçar uma nova vida com entusiasmo. Jogou algumas semanas comigo sempre à espera que aparecesse em casa de pernas engessadas.

Mas um dia apareceu com umas trombas do diabo. Não se podia perguntar nada e tornei-me saco e pancada para uma qualquer cena que não sabia o que era. Ao fim de um tempo lá vim a saber que esteve o jogo inteiro, uma hora ou hora e meia, a levar com um qualquer grunho que nem perguntei quem era, que esteve o tempo inteiro atrás do PAM, a mandá-lo para o caralho e que não era assim que se jogava e que ele não sabia jogar e que só fazia merda e que iam perder por causa dele e vai para o caralho outra vez e vê se aprendes a jogar e o camandro.

Portanto, a ideia não era ir para ali divertir-se e aproveitar para gastar umas calorias, era ir para ganhar e só ganhar importa. Vamos à taça, ao murro no peito "somos os maiores e os outros não prestam!".

Não que o PAM precise de defesa, evidente que não se trata disso, mas percebo que chegue enervado a casa. Se uma pessoa que se levanta cedo com vontade de ir jogar e se sujeita a estes "vai para o caralho, és um merdas" durante uma hora e meia a zumbir no ouvido, em não podendo dar com uma cadeira nas trombas de uma pessoa destas para a calar, os nervos demoram mais tempo a passar.


O curioso é que chegou a casa com vontade de não repetir os jogos, depois de tanto entusiasmo e investimento. Afinal não era para se juntarem, suar e divertirem-se. Era para ganhar.

Ele não sei, mas a mim ficam-me sempre a subir os calores nas costas ao saber da existência deste tipo de grunhos na terra, acéfalos, com total ausência de respeito e camaradagem. Espero que venha a ler o texto, apesar de eu não saber quem é. É melhor assim porque os excessos que uns têm para a bola, eu tenho com a existência de grunhos. Parvos em geral.

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© A Maçã de Eva

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