10.5.15

O país dos coitadinhos

Vai uma grande celeuma nas redes sociais por causa de um candidato ao programa Ídolos que foi ridicularizado. Houve quem escrevesse esta carta à SIC e quem deixasse esta carta aberta. Gostei do segundo texto porque conta histórias, do primeiro fiquei-me as tintas (e na verdade só o li para escrever este texto, passei por ele várias vezes sem passar das primeiras linhas). Há ainda a carta de um professor do rapaz que cai no erro de revelar pormenores da vida do ridicularizado, o que torna tudo ainda mais ridículo.

Generalizando, Portugal é o país dos coitadinhos, pela-se por uma história trágica de vida, quanto mais dura melhor. Isso é visível nos vários programas de TV, sejam de música, dança ou culinária, quanto mais coitadinho for o candidato, maior possibilidade tem de passar à fase seguinte. Vive-se uma altura em que interessa o drama da vida alheia e não propriamente o talento que leva estes candidatos à TV. Fome, abandonado pela família, todo o tipo de dificuldades são foco de atenção, depois lá se vê o talento.

Não faltam na TV programas talhados para a «porrada psicológica», é o formato dos programas, é assim mesmo, as pessoas gostam de ver uma sangria verbal capaz de deixar qualquer um de rastos. Se podiam ser candidatos recusados com palavras simples e um modo simpático de explicar que "não vai dar"? Podia, mas não era a mesma coisa. Aqui os programas servem para ver lá em casa o impacto de poder magoar alguém dizendo "és uma merda", "não prestas para nada", "não sei o que vieste aqui fazer", "não me voltes a aparecer pela frente", é mais ou menos isto que acontece.




O Ídolos estreou em Portugal em 2003 e desde então vai este ano na 6ª edição. Se as primeiras edições prendiam um país inteiro à TV, o mesmo já não acontece agora. Portugal não tem assim tantos talentos musicais que permitam prolongar um programa destes anos a fio com qualidade. E calculo, sabem disso os jurados profissionais que antes faziam parte do programa e que não voltaram a meter lá os pés.

Em alternativa, arranjou-se este ano um júri que faz a qualquer um cair lágrimas de sangue. São maus, maus, maus, ao melhor estilo "bad boys feios porcos e maus, vou ser horrível para esta gente". E sem piada. E às vezes sem educação. Depois acrescentam ali um elemento feminino para amenizar a coisa, que mais valia não ter acrescentado que aquilo está mais forçado que a força de um parto.

Vi isto tudo em meio episódio desta edição, heim? Depois tive de mudar de canal, que não há paciência. Vozes, essas não vi nada de muito bom, apenas medianos ou maus.

O Ídolos tem um júri escolhido a dedo, não sei se faz parte do feitio de alguns, se é um papel que desempenham, mas aquilo está montado para que os júris tenham cara de enfado, para deixar evidente que é um favor que estão a fazer estar ali nas audições. Se isto era novidade na 1ª edição, nas seguintes já era mais que sabido. Não há candidato que não saiba o que pode sair dali.

Este ano a coisa de bad boy parece estar reforçada até na postura de sentar na cadeira "eu dormia aqui era uma sesta que estou a apanhar uma seca a ouvir-vos e ainda tenho de ir comprar nabiças para o jantar", entrando no registo da má educação. Disse-me a minha educação que não se fala naquela postura (e menos ainda daquela maneira) com com um desconhecido, mas de alguma forma que não domino, ser mau traz audiência, é um prazer de ver, prazer esse que estranho.

Assim, sabendo que desde 2003 fazem paródia com tantos candidatos e nenhuma dessas paródias deu neste drama a que se assiste, a minha pergunta é: o que foi este rapaz lá fazer se não quis correr riscos? Pegaram nas orelhas (e é errado), mas podiam pegar noutra coisa qualquer. Ou só eu é que sabia que o programa é feito para gozar com as pessoas e depois lá se ouvem as vozes? Man up!

Coitadinho, sim, é errado, mas coitadinho, não sabia ao que ia? Foi o único.

Depois disto e desta temporada com um júri tão mau, o Ídolos não vai voltar tão cedo. O que nem me faz diferença que só vi meio episódio e sou mais homicídios e policiais. Há em mim um lado negro, mas não cai nas histórias dos coitadinhos. Pena tenho do júri.




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