24.9.14

Milão I



Ahh, Milano! Fui a Milão em trabalho, fazer pesquisa (valeu a pena!) e aproveitei para ficar mais um dia para conhecer a cidade. De cada vez que falava com alguém sobre Milão, ouvia: "não tem nada para ver", e isto deixava-me espantada. Estamos a falar de Itália, tem de haver sempre alguma coisa para ver! Mais tarde vi um íman para frigorífico que dizia "Milan is overrated", o que é coisa para deixar uma pessoa a pensar. Agora que já lá estive, embora só tenha dado uns passeios e não tenha ido numa de ver cada canto da cidade e explorar museus, parques e afins, posso dizer que o centro é giro, gostei, e quer-me parecer que para quem quer ver tudo, três dias são suficientes.

Vi a vida a andar para trás quando percebi que isto de encontrar hotel em cima da hora não era uma coisa simples. Quer dizer, seria se estivesse disposta a largar 500€ ou mais por noite. Mas eu que não sou moça para essas obscenidades, virei-me logo para Airbnb para alugar um apartamento, o que já tinha feito na viagem a Viena, mas não foi tarefa simples. Rapidamente percebi o seguinte (e perdoem-me a generalização): os italianos são porcos. Para os parâmetros portugueses (ou meus), aquilo deve ser gente limpa ou porca, não há meio termo.

Há cada casa no Airbnb que acho que vejo pulgas a saltar das camas nas fotografias. E tudo caro! Lá desencantei uma casa, tinha boas críticas de italianos (nesta altura ainda não sabia que eram porcos), marquei, paguei, benzi-me e fosse o que Deus quisesse.

E Deus não me quis dar uma casa a brilhar.

O Enrico, dono do apartamento, encontrou-se comigo no aeroporto. Era um moço para lá de espectacular, mesmo porreiro, bom aspecto, giraço, achei que estava encaminhada. Lá arrastei malas Milão fora, um calor do catano, de papel na mão com as indicações de merda dele (mais tarde, com uns minutos de estudo apercebi-me de caminhos mais simples e muito mais rápidos) e cheguei ao destino. Quanto entrei na casa, pensei para os meus botões: "o PAM vai ter um ataque" - ele chegaria nessa noite.

Lençóis por passar a ferro (mas ao menos sinal de que tinham sido lavados!), a banheira suja, o tapete para os pés no WC mais porco que já vi na vida, não havia um prato que não estivesse gorduroso, um copo limpo, talheres peganhentos, mas umas bancadas impecáveis, casa aspirada, toalhas dobradas em cima da cama (uma de cada nação, uma falta de requinte, mas serviu o propósito) e até caizas de lentes de contactos alinhadas numa estante. O frigorífico cheio de comida, parecia que alguém tinha espirrado lá dentro e tudo se tinha desconjuntado. Foi então que percebi: aquilo era a casa dele. Deve ter um esquema em que sai de casa sempre que consegue um aluguer e deixa as coisas como estão, da forma que ele vive. Ai vida, vocês não me estão a imaginar dividida, horrorizada pela porcalhice e encantada pela simpatia do Enrico-porco, com um colher quase colada à mão de tão suja e gordurosa, logo eu, princesa asseada.

Saí, fiz-me à vida e fui imediatamente trabalhar. Não valia a pena pensar naquilo, já estava feito. Ia ter a experiência de viver no meio de alguma porcalhice por três dias.

Muitas horas mais tarde, regressada do trabalho, passei pelo supermercado, jantei e já depois da meia-noite, lá apareceu o PAM montado num táxi. As novas tecnologias são espantosas, conseguimos encontrar-nos noutro país, noutra cidade, tudo sem falar ao telefone. Benditos iPhones, Google Maps, internets e afins. Eu não era ninguém sem internet.

O homem entrou pela porta e eu avisei logo:

- Não toques em nada!
- Que merda é esta?

Eu ainda pensei que ele poderia atirar-se da janela. Eu sou limpinha, mas sou capaz de fechar os olhos, viver em cenário de guerra por uns tempos, eu adapto-me. O PAM não, ahhh, este homem não nasceu para viver numa caverna! Tem de ser do bom e do melhor.

O resto fica para depois. Para quem vai para Milão, deixo as dicas para chegar à cidade do Aeroporto de Malpensa pela forma mais fácil e mais barata e ainda dicas de transportes.

Voei pela TAP até Milão. O aeroporto de Malpensa não é nada de especial, parou no tempo, parece saído dos anos 50 à saída do avião e fica a cerca de 50Km de Milão. O Terminal tem os voos internacionais, intercontinentais e nacionais e o Terminal 2 tem as low cost.

Existe no aeroporto uma estação de comboio (Malpensa Express) que leva directamente ao centro da cidade (estação de Cadorna), a cada 30 minutos e cerca de 40 minutos de viagem, mas não sai barato, cerca de 18€ para cada lado. O táxi fica fora de questão a não ser que queiram gastar perto de 100€ e depois existem os autocarros, jeitosos, que foi o que apanhei, comprando logo a ida e a volta, o bilhete (que convém não perder) fica a 16€.

O Malpensa Shuttle aparece a cada 20 minutos e em cerca de 45 minutos, dependendo do trânsito, deixa-nos no centro da cidade. O bilhete pode ser comprado nas lojas impossíveis de não notar que ficam no aeroporto ou podem comprar ao motorista.

Em qualquer cidade que se queira visitar, o melhor é andar a pé, mas o Metro de Milão serviu muito bem quando necessário. Porco, feio e sujo, fez realmente pensar em como Lisboa tem as estações de Metro mais bonitas.

A Linha de Metro de Milão é grande, cada bilhete custa 1,50€ (que dá para 90 minutos, sair e entrar as vezes necessárias) e o bilhete de um dia custa 4,50€. O bom destes bilhetes é que tanto servem para o Metro como para o autocarro e eléctrico. Era uma maravilha, com o mesmo bilhete saíamos da estação de Metro, passávamos pelo supermercado e apanhávamos um autocarro para poupar às pernas o caminho de três paragens. Em muitas cidades é assim que funciona, pena que Lisboa não seja uma delas, pode ser que um dia destes seja assim, quando os transportes forem uma só empresa.

(Continua).

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© A Maçã de Eva

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