27.3.13

Um dia mato este gajo #7

Confesso, não fui abençoada com uma cozinha de sonho, daquelas que tem mil bancadas e uma ilha no meio, dá para espalhar tudo, batedeiras, tigelas, panelas de sopa, ingredientes e ainda sobra espaço para fazer o amor na bancada.

E eu merecia, oh, se merecia uma cozinha de sonho de 150 m2! Cozinho quem nem uma mula, eu merecia mesmo.

Não tendo, aguento-me com o que tenho, o que significa que tenho de ser muito organizada e poupar o espaço das bancadas enquanto cozinho. Não é o fim do mundo, a cozinha também não é um cubículo, mas quando cozinho não quero mais ninguém por perto que aquilo dá-me no nervo. Eu também tento não me maquilhar quando o homem está a fazer a barba, é uma questão de espaço.

E ontem à noite lá estava eu a bufar, a fazer sopa pela quinquagésima vez, a protestar a velocidade com que a sopa se vai na casa (média de 10 litros/semana), quando o homem vai ter à cozinha e se prepara para lavar a loiça. Olhei para ele seriamente. Ele viu os olhos da morte.

- Que julgas que vais fazer?
- Lavar a loiça.
- Lavas depois. Estou a cozinhar. 

E sumiu-se. Ele sabe que é melhor assim, pela paz do lar.

Quando acabei a lide culinária, disse para a sala:

- Já podes vir!
- Ahahhahha! Deves...! Tens cá uma lata!

Em menos de um minuto estava a lavar a loiça.

Não sei para que raio se arma em garanhão, sai frustrado. Um dia mato este gajo.


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© A Maçã de Eva

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