20.11.12

Voltei do Dubai

Voltei do Dubai como nunca voltei de uma viagem. Já fui a muitos sítios, já vi muita coisa, não é segredo que eu adoro passear pelo mundo, conhecer tudo e mais qualquer coisa, mas nenhuma viagem me fez sentir o que eu sinto: eu não quero estar aqui, eu quero ir viver para o Dubai.

Já discuti com o Poisoned Apple Man por causa disto, diz-me que não, que não quer, dá-me argumentos que para mim são disfarçados de outra coisa, que não me fazem sentido, e enquanto isso sinto uma ira que me é difícil de explicar aos outros. Para a maioria sou apenas maluca, que estupidez ir viver para o Médio Oriente, mas nos outros eu vejo falta de ambição e medo de arriscar. Quando olho para mim, por cá, vejo-me a definhar, na mesma vidinha de sempre, não realizada, a construir coisa nenhuma, sempre a contribuir para o Estado. Eu não quero estar aqui.

Em todas as viagens que fiz voltei com aquela felicidade miúda de regressar a casa, ver Lisboa pequenina era uma sensação de regresso ao sítio onde pertencia, sorria quando voltava a conduzir o meu carro, a arrumar as minhas coisas nas gavetas, sentia uma certa satisfação de voltar ao que já conhecia. Foi sempre assim até ao Dubai. Esta viagem trocou-me as voltas, revelou uma falta de sentimento de pertença, um «eu estou-me nas tintas para este país». Desisti. Lamento, mas desisti, eu já não gosto de andar por cá. E não é apenas o não gostar, eu ando revoltada, eu suspiro pelos cantos, eu só quero fugir. Eu não quero mesmo continuar igual.

Estou cansada de pedintes, de grafittis, de parquímetros, do IMI que vai aumentar, espera, afinal vai descer outra vez, ora mais IRS, mas porque neste (des)governo são amigos, descem qualquer coisinha. Estou cansada do preço da gasolina, das contas que terei de fazer para ter filhos, da qualidade de vida que vou perder, detesto o meu trabalho, detesto o frio, detesto os buracos na estrada, detesto a falta de esperança e motivação, detesto o nome do meio deste país: desorganização. Gosto dos meus amigos e família, mas a mudança não me impedia de os ver. Mudaria para melhor.

Há um grupo grande de portugueses no Dubai, falei com eles e com elas, não há quem esteja infeliz ou arrependido. A qualidade de vida de todos é fabulosa e cheguei a ouvir «quando estou de folga quase sinto que estou de férias». Adorei tudo o que aquela terra pode proporcionar, dava tudo para que o PAM tentasse uma transferência, mas ele vê uma mudança destas quase como uma fatalidade. Para chegar a esta ambição, era preciso entrar em falência.

Eu sei que para o PAM eu estou a roçar o insuportável, que tudo me faz suspirar por uma vida melhor que se podia tentar, sinto que aqui não se constrói nada, que há melhor qualidade de vida noutro lado, e eu tenho muita pena, mas não consigo reprimir o meu sentimento de raiva: eu não quero estar aqui. É como se eu tivesse deixado de pertencer a esta cidade, a este país, eu quero mesmo virar costas. Sinto-me em falência mental e como expliquei a quem arriscou mudar, sinto que o país me está a expulsar. Eu estou num sítio no qual já não acredito e para o qual me estou nas tintas.

Já fiz muitas viagens, mas nunca uma me deixou assim, de mal com a vida, a querer mudar de poiso. Enquanto isso procuro ofertas de emprego no Dubai, em busca de uma vida de trabalho que me faça sentido. Eu não quero estar aqui.
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© A Maçã de Eva

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