Durante o voo de 3h30m, foram-me ainda entregues uns documentos para preencher. O propósito da viagem, onde era o hotel, o tempo que íamos ficar, as perguntas do costume, papelada que depois viria a entregar a uma criatura qualquer no aeroporto de Bogotá, o El Dorado. Depois disto, que é coisa para levar uma hora, fomos buscar as malas e passámos por um controle de bagagens com raio-x, mesmo à saída do aeroporto, que todo ele tem aspecto de ter parado no tempo. Velho, arcaico, com o contraste de umas zonas mais modernas.
Neste processo há um documento importante a não perder. É uma folhinha branca arrancada de um bloco, coisa que eu poderia fazer no word, onde se escreve o hotel de destino, o voo, o nome e pouco mais. Disseram-nos que não podíamos perder aquilo, sem mais explicações, dobrei e guardei dentro do passaporte sem saber para o que servia. Aquela porcaria parecia não ter utilidade nenhuma, mas no regresso a casa fiquei a saber que serve para ir carimbar a um balcão com uma fila de cerca de 10 mil pessoas e entregar no check in, tudo para não ter de pagar um imposto pelo facto de ter estado naquela terra. Então mas eu venho cá gastar o meu dinheiro e ainda tenho de pagar por isso? É assim, camaradas, terceiro-mundista. Fiquei ainda a saber que o valor a pagar se tivesse desaparecido com o papelinho depende do destino. No meu caso era Miami, o que equivalia a 35$USA por cabeça, a módica quantia de 70$USA por razão nenhuma. Se perdeu o papel, temos pena. Paga! Adiante.
Logo à saída do aeroporto há casas de câmbio para comprar pesos colombianos. Eu nunca me meto nisso, levanto sempre dinheiro no Multibanco. Fiquei sozinha com as malas e o Poisoned Apple Man foi tratar de procurar uma caixa Multibanco. O tempo que ele demorou foi o tempo que fui bombardeada com mil gajos a oferecer táxis, camionetas, shuttles, para onde vão? Nós cobramos barato!, coisas para as quais não tenho paciência, mas lá vou recusando e agradecendo com um sorriso, que eu sou moça educada. Se aguentei o sorriso em Marrocos, aguento em qualquer lado.
Para um gajo não ser enganado, à saída do aeroporto, virando à direita, está um balcão e uma praça de táxis. Nesse balcão falámos com uma menina, dissemos para onde íamos e ela entregou um talão com a morada e o preço a que ia custar a corrida. Esta é uma forma de evitar as roubalheiras. Depois é ir para a fila de táxis, entregar o talão ao condutor, e rapidamente aparece um tipo qualquer a querer carregar as malas em busca de uma gorjeta (“propina”).
Os táxis em Bogotá são absolutamente mínimos. Eu não sei que carro eram aqueles, ficam sempre bastante desfigurados, mas era coisa para ser mais pequeno que um Renault Clio. É um KIA que acho que não existe em Portugal. Fiquei a olhar para aquilo como quem olha para uma plantação de couves e não percebe nada do assunto: tínhamos duas malas grandes e duas malas de mão, e só uma mala grande cabia no porta-bagagens. Lá veio o tipo todo disponível num “isto resolve-se já!”, meti-me dentro do táxi, encostaram-me a uma janela, vi-me prensada na companhia de duas malas, o PAM seguiu à frente com outra mala nos joelhos, mais a que seguia atrás no porta-bagagens. Depois o tipo foi ter com o PAM à janela esfregar o polegar e o indicador. O PAM ainda só tinha notas grandes e perguntou “pode ser dólares?”, “dólar? Sí, claro que sí!”, afirmou o coitado de sorriso arregalado. Demos 2$USA, que espero que lhe tenham sabido pela vida, seguimos caminho, sem que eu soubesse que ninguém naquela terra sabe conduzir.
Andar de táxi na cidade de Bogotá é circular de coração nas mãos, ao que acresce o facto de estes carros terem uma chapa parecida com uma caixa de fósforos. A corrida até Virrey, mais ou menos no centro, demorou cerca de 1/2 hora e ficou por 22.000 pesos, o valor que vinha inscrito no talão. Em toda a viagem fui alternado entre a mão no coração ou a mão na garganta, dei ais disfarçados, pus o pé a travar sem travão, o PAM à frente disse palavrões que alternou com gargalhadas, enquanto comentávamos o absurdo que aquilo era. A condução em Bogotá será parecida com a da Índia, com a diferença que em Bogotá ao menos respeitam os sentidos na maior parte das vezes. A máquina do trânsito é tão interessante naquele país que nem sequer existem semáforos para peões. Quer dizer, começam a existir alguns, é raro, deve ser coisa nova e recente. Aquilo é cada um por si, dar uma corridinha para atravessar e sempre que avistávamos um semáforo para peões até era assunto de conversa e para apontar o dedo
Quando chegámos ao hotel, estava em choque com aquilo que tinham sido as vistas. A cidade parece uma favela gigante. Tudo feio, cinzento e partido. O condutor do táxi tratou logo de nos dar o troco em mil notas de milhares, ficámos a olhar para dinheiro que não conhecemos e quando fiz contas percebi que o gajo nos surripiou 1,50 Eur., o cabrão. Fiquei logo danada, não pela quantia, mas porque estas coisas deixam-me doente.
Um pincel da Colômbia é que as contas são todas aos milhares, mas rapidamente aprendemos uma técnica para transformar os pesos em euros, que foi retirar os zeros e dividir por dois. Ou seja, 22.000 pesos da viagem do aeroporto para o hotel custou 11 Eur, mais coisa menos coisa. É realmente barato andar de táxi em Bogotá, se não fizermos contas ao perigo da condução.
(continua)
Aeroporto de Bogotá, El Dorado
Táxis de Bogotá