Chegados a San Francisco, o choque. Passei de temperaturas de trintas e quarentas graus para uns míseros 15ºC a meio da tarde. Era tempo de casaco de inverno, de meias, de sapatos fechados, de capacete no céu, de uma neblina constante que estragava as fotografias. San Francisco não tem verão, tem estas temperaturas que oscilam entre os 12ºC e os 18ºC o ano inteiro. Mentira. Têm uma espécie de verão de São Martinho algures para Setembro e as temperaturas chegam aos vinte e muitos. Uma loucura!
Gostei da cidade de San Francisco, adorei as casinhas, mas é uma cidade à qual não voltarei em lazer. Além de estar vista, irritei-me muitas vezes, a começar pela entrada na cidade. O GPS dizia para escolher a faixa da direita, pela direita seguimos e de repente passou-se uma ponte sem pagar, quando do lado esquerdo estavam filinhas nas portagens. Pergunta o caro leitor? Mas porque raio há faixas sem portagem? Porque supostamente ali não se paga. Passámos por uma via (que existe em todo o lado dos EUA) de nome “pool lane” na qual se pode seguir se estiverem duas ou mais pessoas no carro. No entanto, diz-nos quem vive lá que isso acabou um mês antes de chegarmos e que vamos ver uma valente multa. Não sei. Nada me fazia sentido e deixei de pensar no assunto.
Irritação nº 2. Fui insultada pela função pública, fiquei furiosa com a falta de cuidado perante os que vão para lá gastar dinheiro, livrei-me, pelo menos, de outra multa enquanto o Poisoned Apple Man me desconcentrava da negociação gritando de dentro do carro filha da puuuuta! Uma pequena obesa e ordinária que não terá percebido o francês do meu homem. I know you’re not american and I don’t care. Puta. É, os americanos, quando brutos, é de fugir. Fica o aviso.
Pois eis que algures em Japantown procurei estacionar o carro. E um gajo não sabe como estacionar. Não há marcas no chão! Olhar para os colegas de lado nesta altura também não me serviu de muito. Cada lugar tem estacionamento tem uma máquina de parquímetro e eu não sabia se estacionar com a porta da frente ao lado da máquina, com a porta de trás, com a bagageira, eu sei lá! Irritação nº3, os americanos partem do princípio que os outros têm de saber. Perguntar? Quem tem boca vai a Roma, mas não vai aos EUA. Quem passava na rua também não sabia com certeza. Ficou a porta da frente encostada ao pilar, que era o que acahav fazer sentido, mais ou menos a meio do carro, mas afibal era o centro do lado do capot. Uhhh! Infringimos a lei em 70 cm! Mas enganei a porca da gaja. Como o timer do parquímetro tinha dinheiro, tirei foto com o carro e corri quarteirões à procura dela. Fui insultada, perdi a vontade de almoçar, mas safei-me de pagar 55$USA por 70 cm.
Irritação nº4. Estacionar é para esquecer. Mesmo. As pessoas matam por um lugar. E como tal, estacionar custa, nada mais, nada menos, que a módica quantia de 7$USA à HORA!!! Isto nas zonas que interessam. Nas outras, custa apenas 3,5$USA. Muuuito mais barato! Curioso foi ver algo que não existe em Portugal. Algumas zonas têm ruas em que não se paga o estacionamento. Há sinais que avisam para um limite de 2 horas de estacionamento, mas caguei nisso, já que não vi como podiam controlar esse tempo. Já encontrar foi uma sorte, que aquilo são sete cães a um osso, por isso ali ficava e andava a pé.
A cidade é linda, não vale a pena dizer que Lisboa tem colinas, porque aquilo é que são colinas. É de tal modo íngreme que quando se sobe com o carro não se consegue ver o que vai à frente, só o capot. A descer, é facílimo fazer um voo como nos filmes, é só acelarar. Carros antigos é para esquecer, além de beberem um depósito inteiro na tentativa, não vingam as subidas. No entanto, apesar da inclinação, as pessoas circulam de bicicleta.
As casas são adoráveis, de bonecas, como se vê nas fotos, mas curioso é que muitas delas são barracas por dentro e têm rendas baixas. Já as zonas ricas, metem o Restelo num chinelo.
Os parques, como o Golden Gate Park, à semelhança do Central Park em New York ou outros em Londres, são uma maravilha. Gosto mesmo de ir dar voltas a pé, fazer os circuitos marcados, ver bichos, passeando descontraidamente no meio da conversa. Naqueles parques, dá para perder horas. Ao fim-de-semana estão cheios, pois não é para os centros comerciais que as pessoas se dirigem. Ao fim da tarde, estão cheios de gente que vai exercitar o corpo a seguir ao horário de trabalho. O melhor que arranjo em Lisboa é Monsanto, parque florestal onde as putas atacam, onde corro o risco de ser violada, onde o melhor é não explorar muito a zona. E isso lamento realmente. Gostava de ter um parque destes em Lisboa, irrepreensivelmente arranjado, com as indicações de cada árvore, planta e flor em latim. Não que interesse, mas gosto do rigor.
É engraçado ouvir dizer que a Golden Gate Bridge é tão parecida com a ponte em Lisboa. Nada disso. Engraçado é que a Golden Gate Bridge seja mostrada aos portugueses, olhem, foi o mesmo engenheiro que a fez!, quando existe uma que é, definitivamente, igual! Também do mesmo piqueno, eis a Bay Bridge. É ver para crer. San Francisco tem tantas pontes que não contei. E há tanta gente, tantos carros e tanto tráfego que algumas delas nem sequer têm dois sentidos, têm apenas um. Há pontes de ida e outras de volta. O número de faixas é a perder de vista.
Jantei no maravilhoso e afamado Sushi Bistro que recomendo e também no Viva Pizza, uma coisa divinal nas ruas da comunidade de italianos. Eu queria comer mais, mas não cabia. No fim, sem sobremesa, tive de ir dar uma volta a pé para não explodir.
Estive quatro dias em San Francisco, que chegam perfeitamente para ver a cidade toda. Num dos dias fui ainda a Santa Cruz, a cerca de uma hora e meia de carro de San Francisco, para sul. Aparece logo o sol, o tempo muda imediatamente! O caminho até lá, numa espécie de marginal junto ao mar, é maravilhoso. Existem campos de plantações de abóboras, de morangos e apanham-se amoras na estradas. Em Santa Cruz, estive também numa espécie de feira popular, onde andei numa montanha russa de madeira com mais de cem anos, acompanhada pelo contrariado e menino Poisoned Apple Man, que lá se encheu de coragem e depois até gostou!
Adorei San Francisco, mas não é um sítio fácil. Não sei se os transportes públicos funcionam bem, mas as filas que eu vi para os cable cars eram de fugir. Há uma espécie de Metro a que chamam de Bart, com bilhetes a preços anormais. Pode-se pagar cerca de 12$USA para fazer uma viagem. Gostei da cidade, mas é aflitiva a forma como se está continuamente a abrir a carteira. É provavelmente a cidade mais cara onde alguma vez estive. E eu não ia a contar tostões, não sei o que será de quem vai assim!
(continua)
Cable Cars