22.9.20

De magrinha a chubby, a magrinha outra vez - o meu processo e mentalização


Antes e depois. Os mesmos calções que não usava há anos (nem me conseguia sentar).
Os braços, as coxas e, evidente, a barriga. Tudo!

Genética ou alimentação adequada, nunca tive um IMC fora do normal (nem mesmo quando fiz a dieta LEV). Tive no entanto oscilações de peso ao longo da minha vida, quase todas depois dos 30.

Em pequena era magra demais, nem enchia a roupa. Era leve, praticante de ginástica rítmica e patinagem artística. Apaixonada por estas modalidades, de tal forma que se não estava a treinar no ginásio, treinava muitas vezes em casa. Pelos 17 anos os interesses começaram a mudar, comecei a namorar, abandonei os treinos aos poucos e passei a fazer o exercício que a escola me obrigava. Odiava, coisa mais sem graça isso do atletismo. Faltava as vezes que podia. Nesta altura não me lembro de engordar ou se engordei, foi insignificante e nem dei por isso. Era bastante magra naturalmente.

Os anos passaram, entrei nos vintes, estava no ensino superior, aumentei alguma coisa de peso. Lembro-me bem de um regresso às aulas em que depois do verão umas jeans tinham deixado de me servir. Estavam muito desconfortáveis! De tal ordem que as vesti, mas já na rua voltei a casa para mudar de roupa. É a primeira memória que tenho de "alguma coisa mudou". Mas como era tão magrinha, nem me ficava mal e não constituiu nenhuma preocupação ou tentativa de recuperar o que era.

A década dos meus vintes foi pautada por alguns desgostos (desamores) que são o melhor dietético de sempre. Várias vezes ficava bastante magra e ia recuperando. Também nesta altura, isto era apenas um facto, nunca foi uma preocupação para mim.

Até que entraram os trintas, comecei a namorar com o PAM e engordei sem saber como. Como eu costumo dizer, o amor engorda. Ou a estabilidade emocional. Não comi mais ou menos do que fazia antes, mas o meu metabolismo passou a funcionar de outra forma. Já não andava nos 55-58 Kg, andava ali nos 60-63Kg (tenho 1,69cm). E OK, aceitei, é a vida.

O exercício continuava completamente de parte e à medida que os anos de vida profissional sedentária de escritório passavam, mais eu sentia gordurinhas. Não necessariamente traduzidas em aumento de peso significativo, pois a gordura é leve, o que mais pesa é o músculo. Mas eu que tive tanto, não tinha quase nada.

Até que fiz uma curta dieta de redução calórica com a minha amiga nutricionista Mariana Abecasis, que adorei, resultou lindamente e durou. Foi a primeira vez na vida que fiz uma dieta, acho que foi em 2012 ou 2013. Mas para uma pessoa que toda a vida comeu o que quis sem engordar, a mudança de hábitos e o controle não é uma constante. Com o tempo acabei por regressar ao ponto onde estava que, não sendo gorda, era algo a que não me habituava.

Em 2014 fiz um plano de aceleração do metabolismo e treino muscular com um amigo meu (que já não trabalha na área). A ideia de perder peso era atraente e queria, claro que sim, mas eu estava muito interessada na mudança de composição corporal. Até ali tinha andado a brincar no ginásio (mais a pagar que a treinar) e não percebia nada daquilo. Também os planos que os PT faziam não me convenciam nada. 

Este plano que fiz foi absolutamente revolucionário, ensinou-me imensas coisas para a vida, ganhei uma massa muscular incrível, comia como uma leoa (um plano alimentar específico de compras de supermercado normais) e fiquei seca de gordura como já não me lembrava. Há fotos dessa altura em que até estranho a minha cara de tão magra que estou.

Foi espectacular, levou-me exactamente onde queria. Mantive durante imenso tempo o peso e a composição corporal até que fui relaxando. Já estava "como antigamente", como se fosse uma coisa sem necessidade de manutenção e o ginásio passou a ser uma miragem.

Entretanto engravidei, tinha 63Kg. Tinha tanto medo de ficar gorda que controlei bastante as asneiras que fazia e das poucas vezes que me davam fomes comia sopa (mesmo que me apetecesse pão). Tentei fazer ginásio, mas tive de desistir porque me faltava o ar e começava a ver clarões. Depois de estar tanto tempo parada não dava para me tornar desportista aos primeiros meses de gravidez! 

Parei o ginásio, tomei alguns cuidados com o que comia - agradeço os enjoos - e aumentei 11kg em toda a gravidez. Três semanas depois do parto só tinha 1kg a mais do que tinha quando engravidei, pesava 64kg. Uau! Estava contente, parecia que já não engordava outra vez e relaxei. Tinha bebé, estava contente, comia em modo de celebração enquanto lambia a cria. 

Ao fim de uns meses já não eram 64kg, eram 65kg. Regressou o medo de aumentar, voltei a ter cuidado, fui oscilando entre perdas e ganhos pequenos, equilibrado, mas sem grande motivação para fazer uma coisa a sério.

A minha filha nasceu em Março de 2017 e esse ano nunca fui à praia. Tinha um bebé muito pequeno, nem me apetecia. Mas a verdade é que não me sentia confortável. 

2018, idem. Não fui, não me sentia bem.

2019, idem. A história repetia-se.

Fui algumas vezes à praia com o PAM numas idas ao Brasil e não mais que isso. Também sem me sentir bem e sempre a pensar "estou gorda". Era como me ver ao espelho e não me reconhecer, não era o meu corpo que conhecia da vida inteira. Não me dava as mesmas respostas da forma que o conhecia.

Tinha vontade de emagrecer, mas empenho zero. Arrastei-me.

Odiava quase todas as fotografias e praticamente não tirei fotos com a minha filha nos seus primeiros três anos de vida. E isso é uma tristeza.

Até que no início de 2020 pensei "é este ano!". Finalmente comecei a motivar-me, a mentalizar-me e parte disso encontrei online com duas pessoas que fizeram a dieta LEV. Aquilo começou a despertar-me curiosidade e fui lendo sobre o assunto. Falei com pessoas, li testemunhos. Decidi-me e marquei consulta para meados de março.

Dá-se a pandemia. Tudo fechado em casa. Consulta adiada para data desconhecida.

Entre a preocupação da situação, havia ali alguma oportunidade de tempo para agarrar e gozar. Para estar em casa, ócio, boa comida, ver séries e fazer trabalho de escritório. Trabalhei imenso, mas também parecia que nos tínhamos dado liberdades de compensação emocional à situação e comi de forma alarve. O PAM estava louco, era pizzas e hamburguers em série. Eu, essas pizzas e hamburguers, mais chocolates a toda a hora. Às tantas era uma tablete por dia. E muito pão. Sempre tranquila porque dali a um tempo iria dar início à dieta, não havia de ser nada.

Mas o confinamento nunca mais acabava. Ao fim de dois meses em casa neste registo e à espera que as  calorias não se transformassem em gordura por milagre, já não eram os loucos 65kg. Eram 68kg. 

Meu Deus, nunca estive ali sem ser grávida. Estava reduzida a três pares de calças. Não me conseguia vestir. A minha cara parecia uma bolacha. Era uma situação nova na minha vida. Sentia-me horrível. Deprimida. Triste. Sim, eu mantinha-me dentro do IMC normal (quase a sair), mas sentia-me um ogre.

Como é que cheguei aqui? Por quê? - eram perguntas que me fazia.

Este estado emocional não foi uma coisa que partilhasse ao longo do tempo. Acho que pouco ou nada falei do assunto com o PAM e talvez ele só vá saber da verdadeira dimensão das minhas emoções na altura em que ler este texto. Na verdade, olhando para trás, acho tenho agora melhor noção do mal que me sentia do que percebia no momento. 

Entretanto, o país abriu as portas em maio, fui à LEV (de minha iniciativa) e em dois meses regressei ao peso que tinha há 11 anos. Voltei a encontrar motivação para ir ao ginásio, a ter ganas de ganhar músculo, mentalizei-me que sem ginásio não consigo comer as coisas boas que me apetece mantendo o peso que quero, recuperei roupa que não vestia há anos e anos. 

Surpreendente: voltei à praia, até fiz férias no Algarve, vesti bikinis à frente de toda a gente sem sentir que não era eu. Claro que não estou igual, estou mais velha e tudo bem. Mas já não me sinto estranha e já não me lembro do desconforto. É um assunto que não paira constantemente na minha cabeça. Já tiro fotos (selfies ao espelho!). Comprei roupa nos saldos com gosto. Aqueles três pares de calças que eram a única roupa que conseguia vestir, estão-me grandes. E vivo, também comi bolas de berlim na praia e fui jantar pizzas com os amigos.

Eu não tive cabeça para fazer isto há três anos, mas olho para trás e sei que só perdi tempo. Mais do que tempo, eu perdi momentos em família e deitei fora um tempo que não volta. 

Estou hoje num lugar completamente diferente. Como chocolates e pizzas, mas com outra lógica de compensação calórica. Aprendi a "conduzir" o meu corpo. Não deixo de viver - nem pensar, eu gosto muito de comida! - mas faço de outra maneira. 

Se há alguém que se sente como eu me sentia: sinto-me tão diferente e tão melhor! Portanto também é possível para outras pessoas. É certo que fiz a dieta LEV e adorei, mas isto não tem que ver com a LEV, muito menos este texto foi encomendado. Eles nem me contactaram, fui eu que os procurei. Podia ser outra dieta qualquer, há várias formas de perder peso, só temos de encontrar o que funciona melhor para nós.

Estou feliz, sinto-me bem, com energia e vontade de dizer a toda a gente que é possível. Tenho o corpo que é resultado do empenho e compromisso que assumo comigo mesma diariamente. Uns dias com comidas mais calóricas, outros com saladas e mais cuidado, outros a gastar no ginásio, outros sem sair da cadeira e daí nasce o resultado. Dá para tudo, chocolates incluídos, mas é preciso fazer um caminho de consciencialização 


Para os interessados, preparei um texto com perguntas e respostas que me foram enviando sobre a minha experiência com a LEV. Podia ser outra dieta, mas foi essa que fiz. Da mesma forma que este, não é um post encomendado e podem ler aqui.




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© A Maçã de Eva

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