18.9.18

Documentário: Bully



Bully, trailer aqui

Cruzei-me com este documentário no Netflix por acaso e decidi ver. Eu e o PAM ficámos num estado de tristeza e apreensão que só nos fazia suspirar. Todas as pessoas deviam ver este documentário, especialmente quem tem filhos. 

Pergunto-me se isto sempre foi assim, se não era assim e passou a ser, se sempre houve disto mas tornou-se muito mais comum e ganhou força ao receber um nome com um estrangeirismo. 

Imaginem a dor de um miúdo de 11 anos para quem ir à escola é um terror tal, que prefere matar-se. 

Qual é o miúdo de 11 anos que pensa em suicídio? O que é preciso fazer-lhe para sentir que essa é a solução e o alívio? Este documentário é absolutamente arrasador, coloca muitas questões, coloca o dedo na ferida, deixa-nos alerta e faz-nos querer estar mais por dentro do que se passa na escola.

Eu tive a minha dose de bullying, não na escola, mas onde vivia. Queria ser amiga de toda aquela gente e andar com os meninos populares. Eu via-os da janela, pareciam divertir-se tanto! Mas não estava autorizada a socializar com aquela gente (a minha mãe sabia o que fazia). Podia dar-me com as minhas vizinhas do prédio, tenho óptimas memórias desse tempo e por extensão delas, nas férias do verão comecei a conhecer algumas pessoas desse grupo num campo liso onde se jogava futebol e eu podia patinar quando não havia jogos. 

Não era o meu meio social. Nunca foi e eles sabiam. Sem que ainda hoje eu saiba explicar como aconteceu, como foi a cadeia de eventos, passei de uma pessoa que só queria fazer amigos e divertir-me com pessoas da minha idade (13 ou 14 anos) para ser motivo de gozação. Se estivessem em grupo e me vissem passar na rua, cantavam em uníssono chamando de "purgante". Para eles eu era o remédio para cagar. Se me vissem passar na varanda, ecoava o "purgante" pela rua outra vez. Cheguei a sair, a sentir a proximidade de algumas pessoas deste grupo nas minhas costas para me escarrarem na roupa. Tinha de voltar a casa, limpar e desejar que não me vissem outra vez para não me cuspirem.

Não era só eu. Ao irmão mais novo de um deles, com problemas cognitivos, cantavam "deficiente". O próprio irmão cantava isto e ria. Uma vida inteira colocado de parte, com problemas cognitivos e dificuldade na fala.

Isto foi há muito tempo, eu não fiquei traumatizada, mas magoou-me e nunca esqueci. E durante muito tempo morri de pena do rapaz que nunca mais vi. Nunca percebi como era possível os adultos permitirem que fizessem isto ao rapaz e hoje percebo que eram tão burros quanto os filhos. Não percebiam a extensão do problema, achavam que se tratava de um episódio sem importância ou não sabiam de todo. No documentário há um rapaz que nos faz doer a alma de tão maltratado que é pelos colegas. Tão maltratado que procura enganar-se a si próprio e tenta convencer-se que muito do mal que lhe fazem afinal é a brincar. 

Toda a vida odiei de morte os bullies. Quando vi este documentário, sendo mãe, eu não sei se não lhes ia à tromba. Eu acho que não me segurava. Por outro lado, bem sei, não podemos promover como castigo exactamente aquilo que condenamos. Então como se resolve? Não sei.

Toda a gente devia ver este documentário. E devia passar nas escolas, logo no primeiro dia de aulas. E todos os bullies reincidentes deviam ser expulsos das escolas. Ser o homem da câmara e filmar este documentário sem meter o dedo nas situações, deve ter sido das coisas mais difíceis que o gajo da câmara fez.

Neste documentário só faltou explorar um lado que nunca vi explorado como deve ser: os pais dos bullies. Sofrem com isto ou vem o argumento "o meu filho nunca faria uma coisa dessas"?

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© A Maçã de Eva

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