Este post não é bonito, 'tá? Mas é humano. Ainda ponderei contar esta história. Hesitei, mas depois de a contar à minha mãe que chorava e soluçava a rir ao telefone, achei que outros poderiam rir também. Pode ser que vos leve gargalhadas nesta segunda-feira de trabalho.
Quem tem um bebé depara-se com uma realidade antes nunca pensada, ou uma realidade que até já se tínhamos ouvido falar mas não compreendíamos bem até ter um bebé nas mãos: há alturas em que não há tempo para nada. Nada.
Um bebé é de tal maneira absorvente na atenção e nos cuidados que requer que uma pessoa demora que tempos até sair de casa, demora que tempos até finalmente conseguir tomar um duche, adia as idas ao WC para fazer as necessidades humanas, muitas vezes os pais jantam à vez, os telefonemas ficam por devolver, etc. Eu não sei explicar, não sei se complicamos, mas há dias em que é muito difícil gerir o tempo.
E tudo piora quando estamos sozinhos em casa com o bebé, sem outro adulto por perto.
Tinha a herdeira na espreguiçadeira em modo nervoso, eu sabia que não se ia aguentar muito mais tempo sem chorar, mas eu precisava muito de ir ao WC para um nº 2 (não, eu não escrevi isto no blogue).
No WC, ia para tratar da minha higiene pós-coiso quando criança desatou aos gritos, numa pressão desgraçada, sozinha na divisão ao lado, o som a pressionar-me, a pressionar-me, a subir-me ao cérebro, tratei a correr do que tinha para tratar e sai do WC, "pronto, pronto, já aqui estou!".
Fomos à nossa vida (e sim, eu estava devidamente higienizada, não é o assunto aqui).
Cerca de 1h depois, já com o homem em casa, o PAM chama-me aos gritos, mais parecia que tinha deixado a criança cair no chão. Voei para ele que me ordenou que o seguisse com um ar muito reprovador: "anda cá".
Entrou no WC, apontou para a retrete de dedo esticado e perguntou: "eu faço-te isto?".
Ali estava um submarino flutuante com olhinhos a piscar ao meu marido, um enviado especial dos meus intestinos não muito antigo.
Também é por isto que se diz que os bebés arruínam relações. Pressionam de tal maneira com os seus choros histéricos que com o stress as pessoas se esquecem de puxar o autoclismo, deixando um nº 2 a marinar em águas duvidosas para mostrarem a sua cor à outra metade da relação.
Não posso dizer que senti vergonha. Não posso sequer dizer que tive uma pontinha de constrangimento naquela relação triangular no WC: eu, ele e o meu cocó (a fazer-lhe olhinhos).
Enquanto me fraquejavam os joelhos de tanta vontade de rir, senti aquele momento e argumentei:
- Não vês que agora estamos verdadeiramente unidos? Isto é mais que muitos casamentos: tu viste o meu cocó!
- Eu não conheço ninguém como tu... - disse puxando o autoclismo, sempre com aquela cara de quem viu um monstro.
Moral da história: não tenham filhos.