25.9.17

Ter filhos: tornamo-nos todas mães “extremosas”? Mudamos para sempre?


Chegada a era do Facebook nasceu na internet um fenómeno que apelido de “mães extremosas”. Não se deixem enganar pela designação que parece fruto de dedicação, algo de bom, porque não é.

Recebem o nome de “extremosas” porque são de extremos, radicais, fundamentalistas, são aquelas mães prontas a julgar outras que não professem dos mesmos ideais, mulheres sugadas pela maternidade sem outro tema que as preencha, um papel assumido e devorado de tal forma que as torna más pessoas para com outras mães, com especial destaque nas redes sociais.

Muitas vezes os comportamentos destas mulheres me fizeram pensar que se fosse para me transformar daquela maneira, preferia nunca ter filhos. Na internet, perdi a conta às vezes que fiquei horrorizada com a maldade e a falta de tolerância para com outras opções diferentes, por exemplo no que toca a dar de mamar vs optar por leite adaptado, apenas para mencionar um clássico que provoca tanta ira neste tipo de mães.

A gravidez e a maternidade podem ser transformadoras de personalidade. Algumas mulheres podem ser de tal maneira absorvidas e apaixonadas pela nova missão que a maneira como as conhecemos uma vida inteira pode alterar-se. E em parte percebo que muita coisa mude dentro de nós, na cabeça e no coração, percebo que algumas opiniões e ideias se alterem, mas compreendo menos quando a transformação torna a nova mãe numa outra pessoa.

Antes de engravidar e durante a gravidez muitas vezes me perguntei: será que vou mudar muito? E o receio não era só meu. Durante a gravidez um amigo contactou-me com alguma regularidade com testes de despiste para verificar se me estava a transformar para pior. Ele tem amigas que desapareceram para a maternidade e nunca mais foram encontradas, passaram a fazer parte de certas seitas que ele prefere ignorar a existência, tornaram-se estranhas, irreconhecíveis e compreendo o receio de que o flagelo pudesse acontecer a mais uma amiga.

As perguntas de teste iam variando. Apesar de feliz com a minha gestação planeada, não mudei a minha opinião relativa à liberdade de uma mulher poder optar por interromper uma gravidez, continuo a achar a maioria dos livros de gravidez uma vergonha que obriga todas as mulheres a uma imensa felicidade, a gravidez não mudou a minha opinião quanto à amamentação (a ideia nunca me apaixonou), não me embevecia a cada carrinho de bebé que passava por mim, continuava a não ter paciência para crianças aos gritos em restaurantes, para me interromper e dizer: “OK, OK, estás o mesmo monstro de sempre!” e mudarmos para outros assuntos de conversa distantes da maternidade.

No entanto, já mãe e de bebé nos braços, ainda que longe de uma experiência “extremosa” que nunca acreditei que me acontecesse, perguntava-me se o desapego seria insuportável. À semelhança do que aconteceu com pessoas que me são próximas, perguntava-me se ficaria de coração apertado para sair de casa sem a cria pela primeira vez, se me sentiria incapaz de a deixar com algum familiar para ir jantar fora ou ir ao cinema, mais ainda, se seria afectada como confessam sentir alguns amigos, incapaz de me afastar por uns dias e ir viajar.

Até à data, nada disto se verificou. Não fiquei de coração apertado a primeira vez que saí de casa e a deixei para ir às compras (aliás, saí cheia de vontade ainda que fosse apenas para ir ao supermercado), não fico ansiosa perante a ideia de a deixar com a minha mãe (embora me provoasse ansiedade a hipótese de a miúda encarnar o demo e proporcionar onze horas de choradeira como assistimos nos primeiros dias) e, embora a ideia de viajar me pudesse deixar de coração apertado e mesmo vir a deixar-me de olhos molhados, nunca estive perto do ponto de desistir, de não querer viajar ou de adiar os planos de viagens durante uns anos por sentir o coração incapaz de resistir à distância. Este foi um exercício ao qual me obriguei, por mim, pela minha relação, senti que tinha de manter uma parte da vida, alguns dias que fossem só nossos, meus e do meu marido, sem bebés. Racionalmente imagino que seja mais difícil nas primeiras vezes e com o tempo deve ir melhorando.

Poucos dias depois de ter nascido a herdeira ligou-me um outro amigo para saber como estava a correr o regresso a casa, tendo eu suspirado “não tenho paciência para estes berros!”, ao que respondeu: “Cruella de Vil!”. 

Em suma, tudo indica que esteja na mesma. Ainda sou eu! Ou então é cedo e tudo pode ainda mudar. Nisto de ter bebés o melhor é não criar verdades absolutas e deixar os cenários em aberto.


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© A Maçã de Eva

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