19.6.17

Como foi o meu 2º trimestre de gravidez? O melhor e o pior


Nota: as gravidezes não são todas iguais (longe disso!), pelo que a minha impressão sobre o segundo trimestre é pessoal. Umas mulheres identificar-se-ão, outras nem pensar. E quem não se identificar não deve estranhar ou pensar que há algo de errado. Em caso de dúvida deve consultar-se o médico assistente e não a grávida ao lado.

Literalmente da 13ª para a 14ª semana, a passagem do primeiro para o segundo trimestre, os enjoos desapareceram. Os livros bem dizem que nesta altura tudo melhora, mas nunca imaginei que fosse de um dia para o outro, quase a régua e esquadro.

O segundo trimestre é o melhor, toda a felicidade ao rubro. Se eu já estava de sorriso fácil, nesta altura nem consigo explicar o bom que foi contar às pessoas mais próximas, ver as reacções e ficar com a certeza que gostam de nós (eu, o pai da criança e a criança). Não é que antes houvesse dúvidas, mas senti-me verdadeiramente querida e, novidade, havia também e mim uma sensação de contentamento por gostarem do bebé que tinha na barriga. Ao partilhar a notícia havia um sentimento novo, já não era só eu que gostava dela.

Mas também não posso mentir - sendo que o que conta no coração são as pessoas que nos interessam e os sentimentos positivos - há aquelas que não têm muito interesse e nos maçam com coisas não interessam a ninguém (ou nós é que não temos interesse em ouvi-las), armadas em doutoras obstetras, prontas a passar receitas das vitaminas que temos de tomar como se não tivéssemos médico assistente, teorizando sobre o que podemos e não podemos fazer, maçando-nos com profecias do tipo “a voz da verdade”, quase como quem nos quer deixar de mal com a vida traçando cenários horríveis do que vai ser a nossa vida quando o bebé chegar. O truque é desligar, fingir que se ouve e não ouvir mesmo.

Nesta fase, ver o bebé na ecografia já com ares de bebé em vez de um feijão, é maravilhoso. No meu caso nunca foi para me emocionar, era simplesmente bom e dava vontade de sorrir. Começar a ver a barriga crescer timidamente foi engraçado, sobretudo porque era de facto uma barriga tímida, para mim evidente, para os meus primos “isso é prisão de ventre”. E eu ria, enquanto trocava fotografias com outras grávidas da família.

No início desta fase as maminhas voltaram ao lugar, passaram as dores e o inchaço e voltei aos soutiens do costume. Em meados do segundo trimestre o cabelo que sempre tive de qualidade miserável, em pouca quantidade, com queda crónica e fino, tornou-se maravilhoso. O cabelo literalmente deixou de cair e foi acompanhado por uma pele do rosto luminosa. Sou capaz de lavar o cabelo, pentear e só caírem dois cabelos. É bom demais! Com o tempo, começou a ganhar volume, a cabeleira ficou mais cheia e não há quem não note diferença. Infelizmente isto não deve durar para sempre, pelo que vou dizendo ao homem surpreendido com a minha melena que aproveite para tirar fotografias, porque depois cai tudo, já me estou a mentalizar.

É no segundo trimestre que começamos a sentir os primeiros movimentos do bebé que muitas mulheres dizem ser como “borboletas”. Não consigo fazer essa associação, mas de uma forma menos romântica é como sentir gases a passar no intestino, mas sem soltar gases. Bem sei, não é a coisa mais bonita que gostariam de ler, mas é a verdade. E se não sai ar, sabemos que foi um toque do bebé.
Esta é uma fase em que as pessoas têm vontade de partilhar as suas experiências, contar as suas histórias e temos interesse em ouvir sem que seja um eterno enfado. Na verdade, temos vontade de ouvir e fazer perguntas, enquanto começamos a espreitar roupas de bebés em sites e armários alheios, a fazer listas do que vamos precisar, a alinhar tarefas e, no meu caso, com a felicidade de perceber que iria ter muita coisa, mas mesmo muita coisa, emprestada. E não imaginam o dinheiro que se poupa!

O pior do segundo trimestre, no meu caso foi deixar de conseguir estar de barriga para cima. Não dava nem para ler um livro, ler uma revista, ver TV, só conseguia de lado. Foi uma limitação inacreditável, impossível de combater, eram 20 segundos para começar a sentir que iria perder os sentidos. Parece que não acontece com todas as mulheres, mas esta indisposição é explicada pela veia cava, que passa algures atrás do útero, agora com peso no seu interior, comprometendo a circulação e por isso dando a sensação de ficar sem pinga de sangue.

A isto juntou-se uma sensação de peso no baixo-ventre ao andar, algumas quebras de tensão, uma desconfortável falta de ar ao mais pequeno movimento (às vezes até no discurso a falar), como quem sobe escadas e fica sem fôlego. Foi no fim do segundo trimestre que desisti do ginásio, tinha a barriga muito subida, a caixa-de-ar reduzida e sentia-me mal. Tive pena, foi mesmo a única razão para deixar o exercício.

Não posso esquecer as noites em que se acorda no nada, “plim!”, tão diferente do primeiro trimestre em que parecia hibernar, no segundo dormia três horas e acordava com a frescura de quem dorme dez horas. E se não acordasse do nada, a bexiga do tamanho de uma ervilha encarregava-se de o fazer, com constantes idas ao WC em que cheguei a contar seis vezes numa noite. Umas vezes ia e voltava para a cama sem saber como, em modo zombie, outras ficava desperta como um alho e demorava horas a voltar a adormecer. Vezes tive em que desisti e me levantei de madrugada aproveitando para trabalhar ou fazer outras coisas, do tipo arrumar a gaveta das camisolas. Interessante!

Na área estética dentro deste trimestre, para mim ver o umbigo saltar foi um desgosto, mas não salta de um dia para o outro, foi com tempo para me habituar à ideia e quando esticou já nem queria saber. A linha nigra nunca se revelou grande coisa em mim, tomei precauções com um sérum anti-manchas, trabalho que valeu a pena. O peso aumentou muito pouco, sempre ligeiramente abaixo do recomendado e até poderia vestir as minhas calças elásticas habituais, não fosse a zona do botão incomodar-me. Lá para os cinco meses optei então por adquirir jeans de grávida, que tenho adorado e tenho a certeza que vou ter saudades de todas as calças de maternidade que fui adquirindo ou me ofereceram.

Mas depois, no que toca a olhar ao espelho, tanto houve dias em que me sentia gira como me sentia feia. Não sou o tipo de mulher que acha o corpo de grávida bonito, mas procurei cuidar-me o melhor que pude e aprendi a aceitar-me. O importante é cuidar, fazer pela saúde e pensar que a gravidez não dura para sempre. Nesta fase nunca me senti gorda e toda a gente me dizia que eu era uma “barriga com pernas”, o que ajudou na auto-estima.

Apesar de todos estes “senãos” em que colocaria a falta de ar e o não conseguir estar de barriga para cima no pódio do pior do segundo trimestre, senti-me feita de alguma fibra em jeito de “isto não importa nada” ou “isto vai passar, nada de dramatismos”. E dou a minha palavra, tenho encarado tudo em paz, embora com alguns queixumes em jeito de desabafo. Já quase a chegar ao fim da gravidez, só tive um dia francamente mau em que queria dar o grito do Ipiranga, uma neura dos diabos com vontade de deixar tudo para trás e não querer que vivalma me dirigisse a palavra. Aconteceu no 3º trimestre e deixo para esse texto quando a gravidez efectivamente acabar e puder fazer um balanço com maior rigor dessa fase. Sim, o último trimestre é o pior, nem vale a pena inventar.

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© A Maçã de Eva

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