14.3.16

Ver e ser visto




Tenho um blogue que não sinto que seja a última coca-cola do deserto mas já apresenta alguns números, não me considero figura pública como dizem alguns leitores (what?), importante sou é lá em casa e não corro a todos os eventos para onde pingam convites sendo que, acreditem, tendo um blogue há todos os dias convites na caixa de email. Uma pessoa podia ter agenda cheia só com convites e alimentar-se em pequenos-almoços, almoços, lanches e alguns jantares com os caterings dos eventos. 

Foi do acaso, nunca trabalhei nesse sentido, mas sei que o blogue me deu a oportunidade de lançar a minha marca, que aproveitei, mas não sinto que me tenha mudado como pessoa. O blogue fará 10 anos em Dezembro e sinto que continuo a mesma. Não me subiu nenhum sucesso à cabeça, não quis pertencer a nenhum grupo em particular, não me quis misturar, fugi de fotografias, não me escusei a responder mal quando era merecido sob pena de perder leitores, fiz sempre só e apenas aquilo que tinha vontade de fazer.

Há dias fui convidada por uma marca de telemóveis para ir à Moda Lisboa. Agradeci o convite, declinei, expliquei e desejei votos de sucesso. A verdade é que eu, tendo um blogue e gostando de trapinhos, nunca fui à Moda Lisboa. Nunca. E em momento algum me considerei entendida de moda. Apenas gosto muito da área.

Se por um lado acho que faço mal, pois poderia conhecer pessoas e fazer contactos interessantes, por outro sou um bicho do mato, eu gosto é do sossego do lar e de festas com os amigos. Um dia irei, não sei quando.

E este vídeo é um verdadeiro exemplo do que imagino ser a Moda Lisboa e por isso não me animo a ir: vontade de ver e ser visto, pavonear-se, querer aparecer, mostrar-se o máximo, mostrar-se entendido em algo que claramente não são. Resumindo numa frase, dá-me a sensação que a larga maioria das pessoas que vão à Moda Lisboa são pessoas que querem parecer uma coisa que não são.

E depois, há uma minoria entendida que vai em trabalho ou por gosto, mas devem ser poucos.

Não tenho pachorra para teatros, odeio fazer fretes, não conheço mais de metade do nome dos estilistas, não sei ligar os seus nomes às suas fotografias (embora me possam soar) e gosto é de ver as fotografias dos desfiles na net. Isso sim dá-me prazer.

O Ney Matogrosso sei bem que é um cantor brasileiro, o Stanley Tucci não saberia dizer o nome dele, mas não teria dúvidas em identificá-lo em filmes. Ou seja, por exclusão de partes, eu saberia que não poderiam ser estilistas.

Em relação aos mais vastos temas, quando é que se tornou uma vergonha dizer "não sei, não conheço", em vez de passar por uma vergonha destas?

E é por isto que nunca fui à Moda Lisboa, porque não tenho paciência para o faz de conta. Seria giro socializar com quem percebe e aprender algumas coisa, ou falar com curiosos que tenham algo a acrescentar ainda que não dominem tudo. Ir para me deparar com um cenário "quero que pensem que sou entendida e o máximo do trendy e do cool sem perceber uma pontinha disto" parece-me uma seca dos diabos.

Nem consigo rir com o vídeo. Juro que tenho pena de pessoas que não se bastam a si próprias. Deve ser uma infelicidade fazer um esforço hercúleo na tentativa de mostrar uma coisa que não se é, chegar a casa, despir a máscara e deixar para trás um rasto de mentiras. Pior, já todos conhecemos o ditado: mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo.

E tão triste como uma vida de mentira é esse batom da morte. Parem de usar esses batons roxo/lilás que parecem uns cadáveres. Se há coisa que percebo de modas e que nem tudo é que é moda é forçosamente bonito. Será possível que se sintam bonitas com aquela cor quando se olham ao espelho?


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© A Maçã de Eva

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