23.3.16

Perdido na vida aos 30?



Cruzei-me com esta imagem e não pude deixar de sorrir. Eu tinha 35 anos quando desisti da carreira para me dedicar a negócios e, mais particularmente, à minha marca de sapatos. Só passaram dois anos, há ainda muito caminho para percorrer, muito que vingar e até muito que me provar, mas não posso dizer que me tenha arrependido.

Dicas pessoais:

- Enquanto desesperam num emprego horrível não se esqueçam que estão a ganhar experiência. O truque é não olhar para esse emprego como o fim da meta, mas o sítio de onde se vai dar um salto, isso dá-nos alento. Eu também estive em sítios que não gostei, sobrevivi e, olhando para trás, ainda bem que passei por esses empregos, deram-me sabedoria.

- Há tempos falava no Skype com um primo que vive em Bruxelas, acabou o curso superior e nada de conseguir emprego há meses. Perante isso contactou-me para estudar ideias de negócio, mas honestamente, não aconselhava a ninguém a começar um negócio sem ter uma boa experiência profissional. Eu fiz um curso superior de Comunicação, cinco anos a estudar que me custaram horrores porque eu queria era trabalhar e fiz quase 10 anos de carreira como Assessora de Imprensa em vários organismos de um Ministério. Nesses anos, juntei, juntei, juntei dinheiro. Nunca o fiz a pensar na criação de um negócio, fi-lo porque sou assim por natureza, fui ensinada a poupar, mas não há dúvida que só isso permitiu que arriscasse na minha marca (nunca iria pedir emprestado, nem a bancos).

- Persistência. É bom ter boas expectativas, mas vai quase tudo correr mal. O lado bom é que o que corre mal faz-nos aprender mais alguma coisa. Honestamente, eu já aprendi a relativizar, mas demorou dois anos. Antes ficava possuída dos nervos, ansiosa, desgraçada (a tal falta de experiência para quem começou um negócio) e hoje em dia quando as coisas correm mal, encolho os ombros. O segredo é olhar para o que está mal, não me concentrar no erro, mas na solução: o que posso fazer para resolver esta merda em tempo útil? E às vezes não é possível, mas aprendemos a viver com isso. Pior, é que raramente cometo erros e nunca cometi nenhum realmente grave. Os erros vêm dos fabricantes, o que torna tudo mais difícil. Mas há que aprender a relativizar.

- Há pessoas que perante a ideia de se criar um negócio levam aos mãos ao céu porque "os tempos não estão para isso!". Há as que acham tudo espectacular, o risco e o investimento não é delas, querem lá saber ou acham que é tudo fácil. É difícil juntar a mistura de opiniões ao que nos diz o coração. O segredo é não fazer tudo em três tempos. Amadurecer as ideias dá-nos distanciamento para poder fazer uma melhor avaliação e, muito importante, procurar falar com pessoas da mesma área de negócio, o que pode ser muito complicado de fazer pois são uma eventual concorrência.

- Se o negócio for um produto ou um serviço, se forem como eu que usei o blogue para lançar a marca, preparem-se para uma chuva de maldade. Não contei com isto (porque não me ocorreria fazer aos outros), mas as pessoas são más e muitas delas por não terem sido capazes de fazer o mesmo. Pessoas que me gozaram, que me acusaram de copiar o nome da marca (que é o meu nome), que escreveram que havia modelos iguais em lojas rascas, que falaram mal dos preços, que falaram mal do produto sem o ver, que no fundo, deixaram transparecer o mal que desejavam. Pessoas dessas vão sempre aparecer. Vai magoar e desiludir. Não há segredos nem soluções para isto, é viver a tristeza que os outros nos deixam (é inevitável), tentar manter a cabeça erguida, olhos em frente que dali a uns meses esta malta habitua-se ao sucesso alheio, deixam de aparecer e metem a viola no saco.

- Há pessoas que conhecemos, alguns consideramos amigos, e perante um pedido de contacto, um favor de nada, revelam-se verdadeiros escroques. O mau disto é a surpresa infeliz, o bom disto é a revelação, não perdemos mais tempo com estas criaturas, temos mais onde investir o nosso tempo e o caminho não nos deve voltar a unir.

No entanto, há nesta equação uma experiência que não tenho: tive sorte, o arranque correu lindamente, acho que estou no bom caminho, profissionalmente as coisas correm-me bem e tenho estado sempre em crescimento. Ainda há muito trabalho pela frente, mas não sei como é (nem quero saber) o que se faz, como se faz, quando corre mal e temos de atirar a toalha ao chão, desistindo.

Existe uma grande diferença entre uma expectativa optimista e a ilusão. Há pessoas que são deslumbradas e, por isso, péssimos perfis para ter um negócio próprio. Sobretudo, falem com muita, muita gente. Mas mesmo muita gente, menos das que conhecem e mais das que não conhecem de parte alguma. Antes de começar a minha marca de sapatos, depois de ouvir os mais próximos, por mais estranho que possa parecer, peguei no telefone e pedi para falar com os proprietários de outras marcas de sapatos portuguesas. O pior que me podia acontecer seria não quererem falar comigo. Os donos de muitas marcas falaram, sobretudo as maiores, as marcas mais pequenas foram um bocado mete-nojo, mas consegui retirar alguma coisa dessas tantas chamadas que fiz, até mesmo como não ser se alguma outra pessoa como eu me contactasse no futuro.

Curiosamente, isto de falar com outros fiz antes para uma outra ideia de negócio que acabei por desistir e, vejo agora, foi boa decisão. Lição: falar com profissionais da área é fundamental.

Muito importante: pessoas que não sabem ouvir os outros, que não suportam ser contrariados, esqueçam a ideia de criar negócio próprio. Isso é dinamite. Eu estou sempre, constantemente, a ouvir, a pedir opiniões, a ler comentários, a vasculhar, a fazer perguntas. Quando faço sair novas colecções, geralmente não pergunto às pessoas o que gostam, pergunto o que não gostam e porquê. É fundamental para procurar fazer melhor e evoluir.

Godspeed!


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© A Maçã de Eva

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