19.1.16

Celestial e transcendente


A primeira vez que ouvi falar deste pão-de-ló foi na primeira vez que fui ao restaurante BOOK (que adoro, adoro!), no Porto, experiências que descrevi aqui e aqui.

Quem não é fã de um pão-de-ló bem português cheio de doce de ovos? O PAM não era. Mas só até provar este, o melhor do universo.

Os pães-de-ló de Ovar, Alfeizerão, da Ti'Piedade, da Padaria Portuguesa, são bons, claro que sim. Mas em todos o que gostamos é do centro, na parte do rebordo ficamos a desejar mais ló ao ritmo de uma torneira. São bons, claro que sim, isso não está em questão. Mas depois, a primeira vez que este pão-de-ló aterrar numa mesa, um novo mundo de doce de ovos se abrirá na vossa frente e imediatamente listam um preferido que não mais largará a vossa memória.

Naquela altura que fui ao BOOK, a carta do restaurante falava do "melhor pão de ló do Universo". Era uma clara piada ao "melhor bolo de chocolate do mundo" (que também é bom, no entanto acho o meu melhor). Era uma piada saudável, mas só se podem dar a este tipo de graças aqueles que acreditam realmente no que estão a dizer, senão não tem piada e é só um turn off.

Explicando de outra forma, o PAM não come doces. É raríssimo, não liga, pode passar por uma mesa cheia de bolos sem olhar. No restaurante, as minhas papilas pareciam fogo de artifício enquanto eu implorava que provasse a sobremesa. Provou a pedido e tudo mudou. Não é um pão-de-ló qualquer, é uma massa leve, esponjosa, um bolo carregado de ló até à última fatia. Não tem ló apenas no centro, tem em todo o lado, é uma piscina de ló até aos cantos. Ali não há medo de gastar ovos.

Mais tarde, muito depois desse restaurante, descobri um pão-de-ló semelhante noutro restaurante e tive de chamar o empregado. Eu conhecia aquele bolo! Perguntei e obtive a resposta que já adivinhava, era o tal, o "melhor do universo", que tem vindo a espalhar-de pela restauração fora.

A obsessão tornou-se de tal forma doentia que quando estamos no norte vamos ao restaurante que tem esta sobremesa. Da última vez correu mal, já tinha acabado, mas teriam à noite. Voltei à noite para jantar e afinal não tinha chegado, fiquei doente! Portanto, tenho agora o telefone de uma das empregadas de mesa para saber se têm o pão-de-ló e não fazer viagens em vão pelo Porto.

A história de quem fez deste bolo um negócio não é muito diferente da minha no que respeita à surpresa de paladar. Algures em 2010, José Miguel Júdice, homem de negócios, entrou num restaurante em Matosinhos, calhou de pedir esta sobremesa e à primeira colherada, ficou rendido. De tal maneira que contactou os fabricantes (na altura com um pequeno negócio), propôs uma parceria de exclusividade com o grupo Lágrimas Hotels & Emotions que foi aceite, mudou-lhe o nome (com justiça) e assim nasceu o melhor. O do universo.

No site encontram quatro pontos onde podem comprar este bolo, de norte a sul, no Porto, Coimbra, Lisboa e Faro.

Quando o homem fez anos, eu tinha de lhe fazer a surpresa. Fiz a encomenda com dois dias de antecedência, na data fui buscar ao Hotel da Estrela em Lisboa e quando cheguei a casa foi vê-lo aos pulos.

Já arrastámos amigos nesta doença e estão tão agarrados quanto nós. No dia do aniversário enviámos uma fotografia via telemóvel e fomos altamente insultados pelos invejosos.

Foi a primeira vez que comprei um bolo. Nunca, nunca, em momento algum comprei bolos de anos, sempre os cozinhei. Esta é a única excepção que abro para a compra de um bolo. Não é uma pechincha, mas também não há nada que se lhe compare no que toca a um pão-de-ló.

Eu dava um dedo por esta receita!




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© A Maçã de Eva

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