De Palm Beach subimos até Cocoa Beach, onde passámos a noite, e no dia seguinte bem cedo, subimos para Cape Canaveral. Deixámos as malas no hotel, estratégicamente reservado perto do Kennedy Space Center, e no check in percebemos que o hotel vendia bilhetes com um pequeno desconto, o que é sempre simpático. Dois bilhetes foram pedidos e custaram 43$USA cada um (cerca de 32€/cada). Foi dinheiro muito bem gasto.
Saindo do hotel, o GPS lá nos levou ao destino, que era mais ou menos a 15 minutos de carro. Passados os portões, circula-se mais uns 15 a 20 minutos de carro pelo recinto fora, o que o GPS não indicava. Aquilo é enorme! O Kennedy Space Center tem cerca de 20 Km quadrados, nunca mais acaba! Até chegar ao centro de visitantes ainda se leva uns bons minutos, mas não desespere.
Se tiver oportunidade de visitar o Kennedy Space Center, aconselho a entrar assim que abre. Cheguei pelo meio-dia, fiquei até às 18h, hora de encerramento nesta altura do ano, e não vi tudo. Menos teria visto se por acaso fosse época alta, mas sorte a minha, estava particularmente vazio e nunca esperei mais do que o aceitável em fila nenhuma. Setembro/Outubro é sem dúvida uma boa altura para viajar pela Florida. E para este tipo de visitas o melhor é escolher a dedo um dia útil da semana.
Chegados ao Kennedy Space Center, sabemos que estamos nos EUA. Todo aquele patriotismo latente a cada olhar, a música que puxa ao sentimento de quem passou dificuldades e venceu, e na mão um mapa que faz pensar: "ó diabo! Por onde vamos começar?". Começámos por apanhar um dos autocarros que dão uma longa volta ao recinto e tem algumas paragens. Recomendo começar por aqui, pois gastam-se cerca de três horas. Não estou a brincar.
Passámos pelo edifício principal da NASA onde todos continuam a trabalhar, vimos a lagarta absolutamente gigante que pesa para cima de muitas toneladas e que leva o foguete montado com o vaivém da "garagem" ao centro de lançamento, bem segura e virada para cima, a apontar para o céu. A lagarta tem por baixo várias cabines onde no momento em que arrastam o bicho trabalham nada mais, nada menos, do que 34 engenheiros. Dá para imaginar o tamanho da coisa? Também, a viagem até ao centro de lançamento demora 8 horas, pois viaja a passo de caracol (se não estou em erro a distância é de 8Km).
Durante esta viagem de autocarro, temos a oportunidade de ver o reino animal extremamente protegido neste recinto. Há tantos bichos que não pude contar, mas aves são mais que muitas (milhares de águias e abutres) e era normal passar pelas zonas de água e ver os alligators a dizer adeus aos autocarros. Nas zonas percorridas em que não se passa nada e não há nada para ver, não se desespera. Não só os condutores vão contando histórias giras, como os passageiros têm TV no autocarro onde passam vídeos muito interessantes. Foi um dia sempre a aprender coisas novas. Ou seja, não se dá pelo tempo passar.
Parámos ainda numa torre gigante, construída para se ter uma noção do recinto, andares e andares que uma vez lá em cima dão direito a uma vista fabulosa, com explicação de todas as estruturas que conseguimos ver, mas não sabemos o que é.
Regressados ao centro de visitantes, podemos distribuir-nos por vários complexos. Um deles são os vídeos IMAX 3D e 4D. São quatro vídeos, cada um com uma temática diferente. A medo, escolhemos um vídeo com voz off do Leonardo DiCaprio, com algum receio de apanhar uma grande seca, pois o vídeo tinha 40 minutos. Qual seca! Nem dei pelo tempo passar, com os meus óculos especiais vi estrelas em grande velocidade a ir direitas à minha testa; vídeos pessoais dos astronautas no espaço cheios de alegria no trabalho e algumas histórias deles, vi uma estrela a nascer, vi muitas coisas novas. Adorei e tenho muita pena de não ter dado hipótese para ver os restantes vídeos, que também não eram curtinhos.
Passámos ainda pelo centro que conta a história do percurso da ida do homem ao espaço. Tudo começou com a antiga União Soviética a dar uma voltas para lá da camada de ozono e a levar uma cadela ao espaço. Os americanos, com pânico de estarem a ser controlados e de deixarem de ser a primeira potência mundial, lançaram-se na corrida. Já não chegava ir ao espaço, tinham de ir à lua. E numa montagem fabulosa de vídeos antigos dos anos 60, vê-se aquilo que não esperava de americanos: o falhanço. Desconhecia a quantidade de vezes que os americanos tentaram lançar foguetes sem sucesso, explosões contínuas dos equipamentos, mortes e biliões de dólares queimados. Até que o sucesso bateu à porta e com ele o registo de imagens desta época, de famílias coladas às TV a preto e branco, imagens de vários países, várias cidades, momentos na rua em frente às lojas de televisores, um mundo parado à espera de ver o Armstrong deixar a marca da sola na lua. Ficamos rendidos à beleza das imagens e somos completamente transportados no tempo.
Seguem-se ainda os registos áudio e vídeo na sala do primeiro lançamento, tudo como estava naquele dia, três ecrãs gigantes que vão contando tudo. Depois, temos a oportunidade de ver o foguetão da missão Apollo/Saturno V que faz cair o queixo. Grande é pouco, é colossal!, contou-me um amigo antes de eu ver. É de tal forma grande que não cabe nos olhos, que foi deitado e depois construída a sala onde agora permanece, junto dos emblemas de outras missões, de várias fotos, de vários objectos, pedras da lua que se podem tocar (é igual a outros calhaus), da carrinha especial que levou os primeiros astronautas ao centro de lançamento, junto dos vários fatos que passaram pelas diferentes missões, os vários capacetes, a tecnologia que dá saltos gigantes de um ano para o outro e, uma curiosidade tão interessante, junto das capas de jornais de todo o mundo, línguas que nem consegui dizer quais eram, mas que deram conta que o homem pisou a lua.
A cereja no topo do bolo foi o Simulador. O Simulador dura cerca de 10 minutos e é uma experiência daquilo que os astronautas vivem no momento do lançamento até chegarem ao espaço. Nem toda a gente pode fazer o Simulador, está vedado a cardíacos, epilépticos, grávidas, hipertensos e mais mil uma questões de saúde. Antes de entrar, tem onde ler tudo isso. Não pode levar nada consigo, nem os óculos, se os usar. As malas e outros pertences são deixadas do lado de fora nuns cacifos. Eu não percebia porque motivo se fazia tanto alarido, mas depois lá compreendi. No Simulador, tudo o que levarmos pode sair dos bolsos e ser projectado. Mais tarde percebi que o risco de alguém se magoar desta forma não é assim tão pequeno.
Até entrar no Simulador percorrem-se vários corredores (que seriam pelo menos umas 4 horas de filas, se fosse num dia com gente) e vamos vendo imagens e explicações do que vai e pode acontecer. Mil vezes dizem qualquer coisa como "se quiser desistir ainda vai a tempo. Não é nenhuma vergonha". Os vídeos têm como protagonista um astronauta e o homem tinha muita graça. Explica ele que a sensação que vamos ter é aquela que sente quem vai num verdadeiro vaivém. Compreendidos alguns factos físicos e outros aspectos sobre um lançamento, ficamos em fila e de frente para umas portas normais, como uma qualquer porta de casa numa parede. De repente abrem-se as portas. Eis o Simulador!
Não se percebe como será a estrutura do Simulador, pois de fora aquilo que se vê são portas numa parede e de dentro é apenas uma cápsula XPTO, com um feitio semelhante às capsulas de alguns medicamentos. Respeitamos a fila, sentamo-nos e puxamos para baixo aquilo que nos vai prender à cadeira, uma segurança que cobre o peito e a barriga, semelhante àquilo que se faz descer para nos prender numa montanha-russa. Além disso ainda levamos mais um cinto que vai de um lado da anca ao outro. Alguns assistentes verificam que estamos bem presos e que não há material que possa ser projectado. As portas fecham-se. À frente, um ecrã gigante de um computador faz correr uma série de caracteres. Vai começar.
A cápsula começa a virar de forma a ficar a 90º do chão. Ou seja, é como se estivéssemos deitados na cadeira. A sensação é muito estranha, mas sorte a nossa vamos ficar assim por pouco tempo, pois os austronautas ficam pelo menos quatro horas nesta posição. E antes de o fazerem passam horas de treino para aguentar este tempo em bancos e fatos que não devem ser a coisa mais confortável do mundo. Uma vez virados para o espaço, o Simulador começa a sério.
Ouve-se um barulho ensurdecedor da combustão dos vários componentes combustíveis e a cápsula é literalmente agitada. Treme, treme, treme, de forma inimaginável! Nunca estive num sítio que tremesse tanto e gostava de saber a que escala equivalia se fosse um tremor de terra. A escala de Richter vai até 9, o máximo conhecido, eu meto dinheiro em como aquilo seria um novo máximo. Não há palavras para a forma como somos sacudidos.
Deitados nas cadeiras, aquilo treme de tal forma que o ouvido interno também treme. Faz impressão, incomoda bastante. As bochechas são de tal forma sacudidas que a cara começa a doer. Então, optei por segurar as bochechas com as mãos, empurrando-as para dentro. As minhas maminhas, debaixo daquela protecção, pareciam gelatina. E são alguns minutos em que ouvimos ruídos de grande intensidade, mas variável, em que vamos sendo sempre sacudidos, a inclinação vai mundando, até que...
... silêncio...
... o barulho acaba-se totalmente, os nossos corpos descolam da cadeira e estão presos apenas pelos cintos. Flutua-se. A cápsula que leva cerca de 30 pessoas está mergulhada em absoluto silêncio. O que sentimos é a entrada no espaço, o momento de gravidade zero.
Não me perguntem com isto se faz sem tirar os pés do chão, porque o Simulador não foi a lado nenhum. Eu sei que não estava de cabeça para baixo e também sei que aquele Simulador deve ter custado uma verdadeira FORTUNA! Como diz um amigo meu, "não te preocupes que já está pago de certeza!". Eu dou a minha palavra de honra: se os meus 43$USA fossem apenas para fazer este Simulador, tinha valido a pena! Eu pagava para fazer outra vez.
Outros centros visitámos com muita coisas engraçadas. Os jardins têm também muita coisa para ver e havia ainda um outro centro, o Austronaut Hall of Fame, que não consegui visitar, para muita tristeza minha. Seis horas não deram mesmo para tudo e no fim já vimos muita coisa a correr.
De Miami a Cape Canaveral são cerca de 300Km. Reparei que em Miami existem vários locais onde se pode comprar bilhete para ir ao Kennedy Space Center, com ida e volta em autocarro ou shuttle. Não sei quanto custavam estas excursões, mas eu garanto que vale a pena gastar um dia para ver e fazer tudo o que vi e fiz.
Nota: não sabem o inferno que é colocar mais do que meia dúzia de fotos no blogger. Uma hora nisto! Mas tudo pelos meus leitores e partilha de informação para quem gosta de viajar.
Eu avisei que era grande!
President Kennedy
President Kennedy
Algumas personalidades estão ligadas a afirmações que fizeram. Em PT temos o "é só fazer as contas", "em Alcochete «jamé»!", esta foi a frase que ficou para sempre ligada ao Kennedy, o que eu desconhecia. Uma frase que serviu para explicar os biliões gastos em tentativas falhadas.
É compriiiiiido!
No Kennedy Space Center existe um espaço com bancadas destinadas unicamente aos familiares e amigos daqueles que vão ao espaço. A imagem da esquerda é uma imagem dessas bancadas.
Onde os vaivém e foguetes são preparados. As duas portas de lado sobem, são como portas de garagem. E cada uma demora cerca de quatro horas a subir.
Legos. Os gajos pensam em tudo.
Os autocarros que nos vão levando a todo o lado.
Entrada
O patriotismo está presente em todo o lado
Hello Kitty, gatinha no espaço
Quase trouxe a caneca, mas já não tenho espaço no armário!
Há um grande memorial dos que morreram em missão. Os que estão agrupados morreram juntos na mesma missão.
Os restaurantes têm todos nomes alusivos ao espaço
A bandeira portuguesa não mora aqui.