Adorei a experiência do deserto, foi mesmo das coisas que mais gostei. Foi algo totalmente novo e, mais uma vez, é tal como se vê nos filmes. Isto, escrevo do estímulo visual, porque senti-lo na pele é como meter a mão no forno depois de fazer bolinhos. Mesmo. Death Valley é impressionante no seu tamanho, perde-se de vista e tem graça como a estrada serpenteia no meio do nada, ao lado das plantas que nunca bebem e de areia, pó, areia, e mais areia.
Vi um tornado de areia, vi dunas de areia cristalizada, vi sinais sucessivos de perigo: you’re about to enter in an extreme heat zone. A expressão “morrer de calor” ganhou todo um novo sentido no deserto. Ali, compreende-se mesmo que não é mito, alguém pode mesmo morrer de calor. E lá estava algures um painel de cuidados a tomar e notícias de gente pouco esperta ou infortúnios que marcaram destinos desgraçados. Alguns já se finaram por aquelas terras. 911 é para esquecer que não vai lá em nenhum instantinho, até porque na maior parte da extensão do deserto não há rede de telemóvel. No entanto, os rangers passam nos jipes, fazem um aceno de cabeça e observam para saber que está tudo bem.
As ondas de calor de 40ºC que se sentiram no país na minha ausência é coisa para bebés. A melhor forma de explicar o que são 49ºC é lembrar um corte de papel num dedo. Já todos passámos por isso. Agora é imaginar que a pele arde literalmente assim nas zonas expostas ao sol, como as pernas, os braços e a cara. Bastaram 10 minutos para subir (lentamente) uma pequena colina e ficar toda encarnada. O calor mudou a cor à pele e em tão pouco tempo ganhei um melhoramento do bronze, ainda que parcial. Foi nesse calor que consegui largar uma mosca que incomodou por muito tempo os viajantes. Não sei onde lhe demos boleia, mas sei onde a larguei a muito custo, só de abrir a janela e mudar a temperatura da viatura que estava mais simpática que lá fora. Não sei o que lhe aconteceu.
No chão do carro, as garrafas de água aos pares iam batendo umas nas outras. Os mapas amachucaram-se, o GPS não dizia nada a ninguém: era sempre em frente. A altitude fazia estalar os ouvidos como no avião, subi aos 10 mil metros. E também desci abaixo do nível do mar. Fiz xixi no meio do deserto. Baixei os calções ao ar, no meio da estrada, no meio do nada, não havia ninguém e o que mais se fazia sentir eram os raios de sol porque bichos também não os vi. De calções para baixo, rabo à vista, o Poisoned Apple Man tirou umas fotos muito impróprias* que só mostrei à minha mãe. Ria e eu gritava desesperada. Ninguém me ouviu.
Assim que pude, comi um gelado. Um maravilhoso Snickers bar ice cream a 0,70$USA para ser mais precisa.
*Fiquei a achar que o meu rabo é enorme, mas tenho um jacto de urina normalíssimo.
(continua)