Houve um tempo que fui vítima de bullying. Bater, bateram-me uma vez; verbal durou alguns anos, não sei dizer quantos.
Começou na minha rua, numas férias de verão. Ao lado de minha casa havia um campo de futebol de piso liso onde se podia patinar, que era a minha paixão. Eu, as minhas irmãs e às vezes umas vizinhas do meu prédio patinávamos por ali nas noites quentes de verão.
Nunca fui de andar na rua por motivo nenhum. Excepcionalmente, era tempo de férias, podia ir patinar, bastava pedir. Mas estar na rua por estar, sem fazer nada e apenas para me dar com os adolescentes dos prédios ao lado que a minha mãe reprovava, isso não. E custava-me horrores, às vezes via-os da janela, achava-os super cool, divertidos, eu queria ser amiga e integrar-me. Então aproveitava as noites de patinagem para tentar fazer amizade.
Mas não fui bem sucedida, era a menina endinheirada das escolas privadas, imatura certamente, uma nerd que falava duas línguas, tinha gosto em patinar e muito, mas muito ingénua. Da boa intenção que tinha em fazer amizades passei a ser chamada de "laxante", de "purgante", juntavam-se para cantar músicas horríveis a meu respeito. Olho para trás e pergunto-me o que poderia eu querer com aquele bando de anormais, de QI reduzido, broncos e labregos. A minha mãe não era parva, mas eu não percebia.
Se passasse na rua era certo que ia ouvir alguma coisa desagradável. E eu continuava, fingia que não era comigo. Mas estes anormais muitas vezes procuram a provocação, o confronto, na sede de mais uma cena de rua. Como no dia em que saí de casa com um blazer novo, muito vaidosa, e da esquina do prédio saiu um anormal que puxou do mais fundo de si e já só senti bater nas costas do meu casaco novo a escarra espumosa.
Uma noite de Agosto fui patinar, estava por lá uma gaja que nem me lembro o nome, muito ao género das tipas do vídeo. Eu era pele e osso, sem formas, magra de dar dó, garota de 14 anos, ela era mamalhuda, a atracção dos homens. Ela era muito cheia de si própria e do par de mamas que tinha. Por razões que não me lembro por mais esforço que faça, começou a bater-me. Eu era absolutamente insignificante, não poderia ser nada que tivesse feito ou dito, eu queria que gostassem de mim. No fundo acho que me bateram por existir, por ser o elemento mais fraco que ali estava.
Enquanto ouvia gargalhadas ao fundo, ela batia-me tanto, mas tanto, na cabeça! Puxou-me os cabelos até me saírem madeixas. Caí ao chão de joelhos e nesse momento ela inclinou a força do corpo dela para trás, como quem transporta um corpo, e arrastou-me no chão pelos cabelos, como se fosse arrastada no asfalto por um carro presa no cinto.