Ando há que tempos a pensar num texto sobre a publicidade em blogues, quer do ponto de vista dos leitores, quer das marcas. Não é um texto fácil.
Comecei a pensar nisto depois de receber contactos de marcas que propõem negócios de exploração e depois de ler comentários absolutamente histéricos, acusando-me de publicidade encapotada quando para essa divulgação um valor saiu da minha conta, não entrou nada (os autores dos blogues também gastam dinheiro).
Muitas vezes me perguntei: algumas marcas internacionais têm departamentos absolutamente incompetentes ou querem ser exploradoras? Vejo um triângulo: de um lado há marcas que não compreendem que não seja aceite fazer publicidade por um champô (por exemplo) de 3€ em troca de 20 mil visualizações, de outro lado existem pessoas que não acreditam numa divulgação honesta (a troco de nada, apenas existindo porque é real) e ainda temos a publicidade assinalada.
Sobre publicidade encapotada, tenham dó, não há paciência, acho que todos percebemos quando um texto é publicitário ou não.
Quanto a mim, sou péssima comercial. A publicidade no meu blogue não é um forte, encontra-se mais ou menos quantas vezes se vêem oásis nos desertos, geralmente são miragens, e isto acontece por vários motivos: sou extremamente selectiva, só aceito parcerias nas quais já era cliente antes do contacto ou quando por força de um contacto descubro algo novo que me faz sentir que quero ser cliente. Sou também impaciente, não tenho tempo nem energia para perder em reuniões e conversas e negociações e salamaleques e eventos. Simplesmente não é o meu género, assumo: sou bicho do mato.
Mas - e é um grande "mas" - eu não vivo do blogue, não é uma fonte directa de rendimento. Por outro lado, não vamos embandeirar em arco, acho que a página merecia algum (note-se "algum") retorno, é uma coisa que pretendo investir e trabalhar em 2018 com o objectivo de poder investir em fotografia.
Sobre esta coisa da publicidade em blogues, ontem aconteceu-me cruzar com
este post d'O Arrumadinho. Trata sobre mudanças de vida, virar a estabilidade profissional do avesso para ir atrás de desafios, de largar o certo pelo incerto e como eu já fiz isso tudo, interessou-me. Nos últimos parágrafos estava incluída uma publicidade a um equipamento de informática.
Não acho - mesmo - que alguém possa dizer que leu ali publicidade encapotada, até porque está assinalada. Acho que a intenção passou por juntar a história profissional recente à experiência pessoal de um equipamento entregue para explorar a sua potencialidade. E, surpreendam-se, por vezes as marcas oferecem coisas de que gostamos mesmo.
Mas na minha leitura, chegando ao nome da marca, pensei logo:
as pessoas vão passar-se. Li alguns comentários e não me enganei. Mas intriga-me tanto! Nunca, em lado algum se vê esta revolta com publicidade como se vê nos blogues.
Os comentários falam de desilusão, de virar costas, de nojo, só faltou ler quem chamasse o autor de estúpido ou de aldrabão. Outros não se focam nisso. Existem duas facções: "os zangados" que têm de se manifestar e os "quero lá saber" que não se concentram nisso (o grupo de qual faço parte) e até conseguem comentar sem ser sobre a publicidade.
Para escrever o tal texto que tenho vindo a trabalhar na cabeça, falta-me compreender "os zangados".
Se pensarmos no dia-a-dia de todos nós numa grande cidade:
1. Publicidade na TV? Anúncios entre programas? Vemos todos os dias.
2. Publicidade nas revistas? Página sim, página não.
3. Publicidade na rádio? Ouvimos todos os que andarmos de carro.
4. Publicidades nas ruas em outdoors? Passamos por elas todos os dias.
5. Publicidade nos transportes públicos? Check.
Mas publicidade em blogues, para os quais os autores trabalham e fazem deles as suas fontes de rendimento, isso é que não pode ser! A publicidade em blogues gera sempre este tipo de reacções esquisitas, estes excessos, mas não há ninguém a reclamar com uma revista, um canal de TV ou uma estação de rádio.
Novidades para a vida real:
Sem anúncios de TV esses canais não existiriam (ou para existir seriam pagos, como existem os canais de séries).
Sem publicidade não existiriam revistas.
Sem publicidade não existiriam canais de rádio.
Sem publicidade, deveriam existir blogues? É expectável que um autor se dedique anos a fio a uma página sem retorno financeiro? Ou preferiam pagar uma mensalidade e não se cruzar com publicidade?
Alguém consegue avançar uma teoria? Dou um rim por uma explicação.
Publicidade em blogues: o horror - parte II, aqui
Publicidade em blogues: o horror - parte III, aqui