3.6.20

COVID-19: não saber o que está a ser feito significa que nada está a ser feito?



Há cerca de um mês o Gabinete Português para o Parlamento Europeu convidou-me a participar de um webinar. O convite estava endereçado a alguns influencers e jornalistas. Objectivo: disseminar informação, informar quem trabalha com plataformas e audiências, com informação real e verdadeira, da fonte, em vez de alimentar a sede de conhecimentos com informação duvidosa que vai circulando onde a desinformação é rainha: nas redes sociais.

Foi uma experiência muito interessante, adorei! Foi a primeira vez que participei num webinar, é como uma reunião gigante, uma vídeo-chamada com vários intervenientes, super ordeiro, foi possível intervir, colocar questões, foi bom ver gente nova interessada. Caras bonitas (lindas, na verdade), maquilhadas, mas eram mais do que a sua beleza, os cremes ou as roupas que as influencers têm fama de publicar nas suas páginas. 

Tudo com cérebros funcionais e inteligência nas questões colocadas, foi uma lufada de ar fresco. 

Podia ficar aqui uma eternidade e escrever um longo texto sobre o que aprendi, mas vou resumir em alguns highlights as coisas que achei mais interessantes:

1. A União Europeia a trabalhar com influencers e a procurar cidadãos mais activos é uma forma certeira de olhar para o mundo real. No webinar o interlocutor afirmou que mais do que governos ou entidades, "people tend to trust people”. E é verdade, os seguidores com o tempo estabelecem uma relação de confiança. Isso significa que podemos aproveitar o "público" que temos, assumir sentido cívico e ajudar com informação, que muitas vezes até pode calhar ser da área profissional do influencer. Exemplo: durante o mês de março fiz imensos stories para ajudar os meus seguidores a interpretar os gráficos da COVID-19 no mundo. Já não é a minha área profissional, mas durante muitos anos trabalhei em comunicação em saúde. E nisto difundi informação verificada e indiquei fontes. Noutros casos motivei à solidariedade fazendo a ponte entre marcas fabricantes de cremes e hospitais com profissionais com problemas de pele provocados pelos equipamentos de protecção. Ajudei a preencher necessidades, informei e isso foi gratificante.

Sobre informação verdadeira, para saberem mais pelas vossas mãos, cliquem aqui, têm notícias do que se faz na Europa (incluindo em português).   


2. A União Europeia iniciou um combate às fake news que durante algumas semanas se debruçou sobre 
"notícias" (com origem fora das fronteiras da UE) de que a União Europeia era useless e que a crise da COVID-19 iria desintegrar a União Europeia. Provavelmente todos passámos por artigos que traçavam cenários negros. 


3. A European Center for Disease alertou a União Europeia para um potencial perigo do vírus a meio de Janeiro. Em Janeiro o assunto discutia-se na comunicação social como sendo um problema da China.


4. Logo em Janeiro a União Europeia enviou ajuda médica para a China. E isto não é de conhecimento público porque é habitual da União Europeia ajudar outros países, os fundos não gastos para fazer campanhas de propaganda.


5. Num par de semanas, a União Europeia mobilizou milhões para minimizar o impacto económico na Europa. Afirmaram, com algum humor, que nessas duas semanas foram tomadas mais decisões que no espaço de um ano.


6. Existe um enorme financiamento para o desenvolvimento de uma vacina. Não é dinheiro atirado ao ar sem controle, trata-se do financiamento de equipas científicas específicas que com a ajuda da União Europeia são colocadas em contacto, em comunicação e coordenação, em vez de haver lugar à concorrência. Isto é muito importante para, por exemplo, não se fazerem os mesmos testes em diferentes laboratórios, o que seria duplicar trabalho, gastar o tempo e o investimento financeiro da ciência, tudo em vão.


7. A União Europeia alterou rapidamente a legislação para acabar com os ghost flights. E o que é isso? Eu não fazia ideia. Para poder trabalhar determinada rota, uma companhia aérea tem de cumprir um mínimo de voos. Em pleno COVID-19, com as pessoas em casa e as viagens canceladas, as companhias aéreas estavam a fazer voos vazios para não perderem essa rota na sua lista de destinos.  


8 . Nos anos 50, aos primeiros passos da criação da União Europeia, um dos projectos paralelos era o de criar uma União Europeia para a Saúde, o que veio a cair por terra. Agora a questão renasceu e bem. Esta pandemia, a chapada no sentimento geral de que seria impossível acontecer algo assim mudou muita coisa (convenhamos, parece um episódio de Black Mirror), sobretudo a forma de pensar em muitas áreas e, nomeadamente, a dependência que a Europa mostrou ter do continente asiático em relação à produção de máscaras.

Para mim que trabalhei na área, uma União Europeia para a Saúde seria um trabalho espectacular. Devemos lembrar uma enorme conquista que é o direito à saúde: um espanhol doente em Itália é tratado num hospital como um italiano. Temos isso tão garantido que esquecemos que é algo fantástico. Mas o que acontece a um mexicano doente nos EUA? Aliás, o que acontece a um doente americano sem dinheiro nos EUA? 

Conheço uma pessoa, portuguesa, que sofreu um acidente na neve há uns anos. Foi para a Suíça, o acidente aconteceu nas montanhas do lado de Itália, foi transportada, foi operada, ficou com uma excelente cicatriz, foi acompanhada, voltou a Portugal. Na altura acompanhei o caso de perto e achei tudo de um profissionalismo, de um sentido de humanidade e de boas práticas entre países, assinalável. De facto fazer parte de uma União Europeia é uma coisa fantástica.

Por falar nisso, pessoas que fazem viagens pela Europa, sabiam que existe um Cartão Europeu de Seguro de Doença (aqui)? Se vos acontecer alguma coisa num país da União Europeia só têm de mostrar o cartão e a conta fica paga. Podem requerer o cartão no site da Segurança Social Directa, enviam para casa e tem a validade de dois anos. Tenho sempre que faço uma viagem!


No webinar eu era única portuguesa, mas foi impossível não reparar na quantidade de croatas activos. Destacavam-se. Por que motivo os portugueses serão tão pouco activos nestes assuntos? Existirá um desinteresse total por parte dos influencers e de quem os segue? Ou os portugueses em geral dão tudo por garantido, alguém faz o trabalho e por isso o assunto não merece melhor reflexão e dedicação? "Alguém que trate" chega?

Alguns seguidores sabem, no início de março, com a COVID-19 a dar os primeiros passos, decidi fazer um vídeo a ver se chegava ao Primeiro Ministro. Com o risco de sair dali completamente humilhada, dei o passo em frente, tornei-me voz activa, gravei e publiquei (e acabei convidada para o webinar).

No meu coração achei que ia ter algumas pessoas a ver, as pessoas que já me seguem. É que os assuntos políticos cativam pouco as pessoas e não esperava muito dali. Mas o resultado foi completamente viral e muito além de qualquer boa expectativa que pudesse ter.

Em geral, eu também não gosto de política ou de políticos. Mas gosto de determinação e de ver trabalho feito.

Não tenho um espírito de que o meu país não presta, acho que temos coisas muito boas e competentes, mas no vídeo fiz críticas à lentidão da acção. No reverso da medalha, Espanha aqui ao lado está há três meses na imprensa a admirar a estratégia portuguesa, as competências profissionais, parece que somos os maiores. E cá dentro achamos que é tudo farinha do mesmo saco.

Criticar é fácil, há sempre uma sensação de que se está a fazer muito menos do que se poderia fazer porque muitas vezes não há exactamente aquilo que é uma necessidade óbvia: informação sobre o que está a ser feito.

Com o estalar da COVID-19, achei curioso e interessante que a União Europeia tenha pedido cooperação às plataformas das redes sociais para combater a desinformação. O fact check ganha cada vez mais importância no mundo moderno e hoje em dia a disseminação de um tipo de informação criada para gerar cliques é mais difícil que há dois anos. Mas ainda assim é um trabalho volumoso e em constante adaptação. Se precisarem de confirmar se uma notícia é verdadeira, vão a esta página que vai fazendo trabalho (e que eu nem sabia que existia).

A União Europeia tem grupos de trabalho na criação de conteúdos digitais. Seria ingénuo pensar que basta escrever meia dúzia de linhas e esperar que a informação se dissemine. Não, são precisos conteúdos gráficos, atraentes, pois os olhos comem e é aí que nasce a primeira atracção pelo conteúdo. No entanto, é só uma parte do caminho. 

Produzir é fácil, mas a partilha fica nas mãos de outras pessoas. Disseminar depende da boa vontade de terceiros e, sobretudo, da consciência de sentido cívico e de sentido europeu. Para ir seguindo e saber mais do que está a ser feito, sobre o tema COVID-19 e outros assuntos, sigam estas páginas de Instagram aqui, aqui e aqui.

A União Europeia fez-se do espírito de solidariedade, dos melhores princípios humanos e, mais do que ser um cidadã de um país, ser cidadã europeia para mim significa "segurança". Entre muitas outras características, gosto de me sentir parte da União Europeia, a expressão "juntos somos mais fortes" faz todo o sentido.

No fim, depois de diálogos tão interessantes e aprendizagem, perguntei-me: como é que um país europeu pode preferir o isolamento à oportunidade pertencer à União Europeia? Será sempre um mistério para mim.

Sejam activos, isso melhora a qualidade de vida de todos 


Entretanto fui hoje convidada para um novo webninar, desta vez sobre desinformação e fake news em detalhe. Estou curiosa! Interessa-vos saber mais?




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© A Maçã de Eva

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