17.2.17

Gravidez: fazer um tour pelo Hospital


Ai, vida! Esta semana eu, o homem e a minha barriga fizemos parte de uma excursão diferente: um tour pelo Hospital de Cascais para quem ali pretende ter o bebé (mais informação aqui).

Lá fomos nós conhecer os espaços, ver o que tinham para nos dizer, marcar o Hospital no GPS do carro (só naquela), ver o tempo que levávamos até lá e ouvir, ouvir, ouvir.

Na visita conhecemos os espaços por onde vamos circular, vamos para uma sala onde nos descrevem uma série de procedimentos de parto, dão alguns conteúdos para ler, revistas sobre maternidade, listas de coisas para levar e respondem a todas as perguntas. Acho que éramos cerca de 10 pessoas, eu estava na fila da frente a ouvir e devia ter uma cara monstra, porque a enfermeira comentou: "estou a vê-la muito assustada!".

"Assustada" não seria a melhor expressão. A enfermeira não podia ser mais disponível, uma simpatia, um tom de voz tranquilizante, cheia de informação, mas eu só pensava "eu não tenho paciência para isto". Não há em mim instinto para estas coisas e ou desce com o parto ou eu sei que vou passar por uma luta interior. Ou talvez o que me provocou este sentimento foi a abordagem sobre pedidos especiais que não recusam sempre que é possível satisfazer esses desejos, como algumas mães que pedem "para ver a placenta" e nesta altura eu estava a tilintar "give me a break".

No meio das opções de que se falaram fiquei sem saber se quero o contacto pele a pele directo ou se espero que a herdeira seja limpa (sou uma pessoa horrível se preferir a criatura limpinha e o primeiro colo não for o meu?). Fiquei também sem saber se pretendo logo naquele momento experimentar a amamentação (não será muita coisa ao mesmo tempo?).

Não tenho medo do parto, não sinto pânico quando penso nisso, eu não posso dizer que me sinta nervosa porque não sinto, não tenho paciência para os dramas "tenho medo de agulhas", mas sopro de desespero quando não tenho resposta à pergunta: daqui a quanto tempo vou começar a sentir-me eu? Daqui a quanto tempo vou sentir-me normal e capaz para poder fazer a minha vida profissional? Esta incógnita consome-me. Vou conseguir trabalhar alguma coisa ou sentir-me perdida? Vou conseguir ter algum espaço para mim ou ser consumida? Vou sentir-me bem-disposta ou chorar semanas a fio? Vou ter uma criança fácil ou difícil? Considerando todas as ajudas que tenho (família enorme e uma empregada o dia inteiro) vou conseguir descansar e dormir para repor algumas energias ou vou andar fundida do cérebro de qualquer maneira? Eu e o PAM vamos fazer um bom trabalho de equipa ou vamos chocar? São tantas perguntas, os meus maiores receios estão para mais tarde, já em casa.

Em relação ao parto o meu maior medo era encontrar uma equipa horrível de mal com a vida, cheia de procedimentos sem vontade de explicar coisa nenhuma (detesto isso), mas senti-me tranquilizada numa conversa com a médica e ao ouvir a enfermeira que nos fez a visita guiada, sendo que reforçou "aqui trabalhamos em equipa", portanto, falam uns com os outros e não é expectável, por exemplo, que cada criatura que vai ao quarto nos faça um toque, isso não acontece segundo a enfermeira. Pareceram-me profissionais civilizados, modernos, nada de velha guarda com comentários nojentos do tipo "para fazer não te doeu!".

Salas após salas, corredores após corredores, chegámos a uma sala de partos que nada tem a ver com o que era antigamente, aquele aspecto de WC com ares de morte. É um quarto normal com muita maquinaria (o que torna a coisa mais assustadora por desconhecimento) e que fez um dos pais afirmar logo à porta: "vou desmaiar". Era uma brincadeira, mas parece que não é assim tão invulgar como isso.

A enfermeira explicou onde se costumam sentar os pais que estão presentes no parto, o PAM disse que não se iria sentir confortável e eu sei que ele vai acabar no corredor ou debaixo da marquesa. Quando voltar a olhar para ele estão a enrolar uma gaze em volta da cabeça com sinais de sangue na testa.

Não me arrependi de fazer esta visita, é sempre bom ter informação, as pessoas com quem falámos foram impecáveis, mas no conjunto detestei. Acho que é o desconhecimento e a resistência à mudança que me está a consumir, a falta de experiência, o saber de teoria mas pouca prática e as transformações do corpo que ainda vou ter de tolerar: pontos? Subida de leite? Gelo no pipi? Mais inchaço? Visitas? Caramba, o que uma mulher tem de passar! Espero que na altura dê a sensação de que tudo passa no tempo de um fósforo, da mesma forma como durante a gravidez tenho tido dores e falta de ar, tantas outras coisas e encarei sempre com espírito positivo, tendo tido apenas um ou dois dias de neura (o que parece ser uma grande sorte).

Na hora de regressar a casa eu tinha umas trombas do demo, uma das visitantes do grupo aproximou-se de mim para sussurrar de sorriso cheio: "sou sua leitora!". Oh, minha nossa, eu estava tão anti-social naquele momento! Era uma simpatia de um casal, ainda falámos um pouco à saída, pude desabafar e dizer que não gostei nada, partilhámos impressões da visita e ainda trocámos umas mensagens de FB no dia seguinte.

Chegada a casa, a subir no elevador, suspirava e rezava "detestei, detestei, detestei" para o homem responder e tentar fazer-me ver algo positivo:

- Mas se não fosse assim, como preferias que fosse?
- Encomenda postal, entregue pelos CTT num lindo embrulho com laço, tudo limpinho e civilizado.


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© A Maçã de Eva

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