26.3.15

Coisas que uma mãe descobre (e de que ninguém fala)



Há umas semanas a Filipa enviou-me este livro e, conhecendo o descontraído blogue da Filipa no que respeita à maternidade, já estava à espera de umas gargalhadas. E isto é muito bom, mas achei que dificilmente escaparia à censura da polícia da maternidade perfeita. Eu que o diga, só de dizer que não sou apreciadora de crianças aos gritos num restaurante, rapidamente já fui acusada de selvagem, desejaram que nunca fosse mãe e há sempre quem me deseje desgraças e abortos. 

Não tive dúvidas, a avaliar pelo que escreve, a Filipa Fonseca Silva já deve ter recebido fraldas sujas no correio com mensagens queridas desenhadas a cocó: "não devias ser mãe". Loucas à parte, recomendo a leitura deste livro, para mães e não-mães e considero que devia ser de leitura obrigatória para mães extremosas-obcecadas, a ver se se tornavam menos fatalistas. 

Com esta recomendação, logo me deram conta do que estava a acontecer num grupo de mães. Estes grupos são umas seitas parecidas com a Al-Qaeda, no lugar de armas empunham mamas e dão largas à sua missão de maldizer as infiéis (as mães que pensam de forma diferente da delas). E quem pensa de forma diferente é porque tem traumas de infância, porque foi infeliz, porque tem mau sexo, porque ninguém gosta dela e acusações do género de elevado interesse. Mãe que transmita uma opinião menos amorosa da maternidade, temos caldo entornado, está a missão aberta.

Ora, o livro da Filipa diz logo na contra-capa "AVISO", em letras garrafais: "este livro destina-se a pessoas com grande sentido de humor e que não acham que ser mãe é a melhor coisa do mundo. Se não se revê em frases como «férias com crianças não são férias» ou «amamentar é uma seca», leia por sua conta e risco". No fundo já sabia ao que ia.

E apesar do aviso o que é que fizeram estas mulheres? Passaram-se. Encheram a página da Filipa de comentários ordinários, gentes com o mais profundo desrespeito pela diferença de opinião num assunto sem qualquer gravidade que transformaram num monstro.

Gosto tanto deste tipo de mulher como de comer mousse com arame farpado.

E nisto, há uma pessoa que envia um protesto para a Bertrand Editora. Há um tipo de mães que identifico com este género, que me invade o blogue e imagino sempre com as vidas mais vazias, em busca de aprovação de outras mães, palmadinhas nas costas e um coro de bravos!, de forma preencher necessidades de atenção rejeitadas. São para mim pessoas muito desinteressantes.

Na Bertrand Editora, que escolheu o livro para publicar (logo, gostaram dele), é evidente que reviraram os olhos. Ora leia, se conseguir:


O que estas pessoas não se lembram, é que nem todas as mulheres são estúpidas e que o facto de existir um livro que dá uma visão divertida e ligeira sobre a maternidade, não determina o sentimento de nenhuma futura grávida, nem promove a desinformação porque, espero, a maior parte terá inteligência suficiente para perceber que aquilo se trata de uma visão pessoal e que mães e grávidas não serão todas iguais. Mau são os livros sobre maternidade que retiro das prateleiras e dão uma visão espectacular da coisa, esses sim, fazendo com que as mulheres se sintam culpadas por não sentirem toda a felicidade e brilho que os outros esperam que sintam.

Eu admito perfeitamente que possa existir quem não goste do livro, quem não entenda o humor, quem não queira comprar, quem não compreenda a autora. Mas não consigo compreender esta fúria descontrolada e doentia vinda de mulheres que querem fazer um "protesto silencioso" no lançamento do livro, levar bebés, colocar mamas de fora e dar-lhes de mamar na sala. E isto é para mostrar o quê exactamente? Acham que a autora vai ter vergonha? Acham que vão estragar a apresentação? Que o livro deixa de ser publicado? O que acham que vai sentir uma mulher que já lançou vários livros no mercado e é a única portuguesa no TOP 100 da Amazon? Vocês são muito pequeninas, criaturas.

No vídeo, a autora do livro nem sequer se refere à amamentação como um "sim" ou um "não". A autora optou até por amamentar, apenas brinca com isso, pelo que nem poderão dizer que "não sabe". O que a autora fez foi humor com o desconforto de ter mamas cheias, o facto de se cansar de estar sempre a dar de mamar parecendo que não se faz outra coisa (daí o termo «vaca», unicamente por dar leite e sem qualquer outro conceito negativo) e, por isso, ser «uma seca». E eu não tenho dúvidas que bom ou mau, dar de mamar deve ter os seus momentos de revirar os olhos e pensar "lá vou eu outra vez!". E pergunto: que mal tem dizer, pensar ou escrever uma coisa destas?

Mais longe vou eu, o meu maior interesse em dar de mamar é ficar com elas mais pequenas. Não tenho qualquer dúvida que se me custar, se sinto que não faço outra coisa, se me limitar a vida porque mais ninguém o pode fazer por mim, no mesmo segundo passa a leite em pó, sem hesitações e sem dramas. Mas é que para mim é uma decisão tão simples como ir ali buscar um copo de água. Eu não mamei e não me matou. Muitas das mães extremosas mamaram e não ficaram inteligentes por isso.

A minha grande questão com as mães extremosas é a sua intolerância. Enquanto as mães ditas normais apreciam poder optar por dar de mamar ou não, não julgando ninguém, as mães extremosas têm sempre o dedo em riste prontas a dar uma lição. Adoram ser mártires, provar ao mundo que foram melhores que outras: "o meu filho até bolsava sangue que eu deitava dos mamilos, mas consegui!". Bravo!

Enquanto a mãe normal conta como fez e deixa em aberto a opção das outras, a mãe extremosa conta como fez e diz como SE DEVE fazer. Elas é que sabem, o resto é amador.

É evidente em todo o livro que a autora relata uma experiência pessoal que retirou dela e da observação de pessoas próximas. Não há nada no livro a querer convencer uma mãe a não dar de mamar, a contrariar recomendações da OMS ou da UNICEF, mas é evidente que há no FB desta autora um bando de malucas que fazem acusações sobre afirmações que não se encontram em lado nenhum no livro. A conclusão é que a maternidade as afectou de tal modo que deixaram de saber ler e interpretar textos. Há inclusive uma pessoa que comenta chamando a autora de vaca. Ao clicar neste perfil, vemos que esta comentadora é psicóloga.

Muitas mulheres dizem-se ofendidas como se no livro estivesse impresso o nome delas e neste protesto afirma uma pessoa que não volta a entrar na Bertrand até que revejam os critérios editoriais, esquecendo que o livro não é de venda exclusiva na livraria Bertrand, é antes da Editora Bertrand e está à venda nas outras livrarias, até na FNAC onde vai ser a apresentação do livro como podem consultar no convite abaixo. E isto não dá uma imagem muito esperta destas mulheres (aos meus olhos, opinião pessoal), pelo que a mim me diz que a amamentação é bom, claro que sim, mas não é fundamental. 

Em comparação, saberiam estas mulheres que se pode encontrar o Mein Kampf nas várias livrarias? Ou na verdade, saberão o que é o Mein Kampf?

Havia em Portugal um menino que controlava tudo o que era publicado e era preciso esconder livros, arriscando prisão no caso de serem encontrados. Voltamos a esse tempo? Não parece excessivo, lunático até, enviar uma carta destas a uma editora, por causa de um livro simples destes, mais ainda quando a editora fez uma opção de publicação e é evidente que se está nas tintas para a sua opinião? Acha-se assim tão especial?

Em suma, a minha visão é: quem quer dar de mamar dá, quem não quer não dá, quem gostou de estar grávida óptimo, quem não gosta esperemos que passe rápido, quem gosta de brincar com crianças óptimo, quem não tem paciência não se deve sentir culpada e por aí fora. 

As mães extremosas são como os fundamentalistas religiosos, sempre a pregar o que os outros devem acreditar, cheias de certezas e sem dúvidas. Mas nunca se viu um ateu incomodar um religioso para deixar de ter religião.




Esta imagem do livro é-me especialmente querida, pois sou uma grande apreciadora de mojitos. Acredito que ser mãe seja espectacular, no meio de mil coisas horríveis que muitas mulheres dispensariam se pudessem, mas que não podem dizer para não serem apedrejadas. No fundo, são estas mães extremosas que querem promover a desinformação eliminando a possibilidade de leitura de outras realidades que futuras mães podem sentir e, não havendo com quem se identifiquem, aí sim podem sentir-se culpadas. O mal não está na Filipa, autora, está nas mães extremosas que querem limitar aquilo que se pode pensar, escrever ou dizer sobre a maternidade. E eu quero poder ler de tudo. Já ouvi falar de partos horríveis e isso não determina se vou ter filhos, mas fico a saber que há partos bons e maus. Ler opiniões diversas, fundamentadas, nunca fez mal a ninguém e depois disso uma pessoa logo decide com o que concorda.

E acredito também que mesmo sendo mãe, vou adorar ter as crianças em casa dos avós enquanto me refastelo numa praia tropical com um mojito na mão e dou uns mergulhos com o meu mais que tudo. 




Aqui ficam os comentários de mães a precisar que alguém lhes dê atenção (ou um mojito). Não gostam, nunca leram o livro sequer, não admitem que alguém possa brincar com as fases da maternidade, mas não arredam pé da página. São mulheres cheias de direitos de se expressarem, mas sem nenhum dever de o fazerem de forma ordeira, educada e argumentada. 

Na falta de argumentos, atiram-se pedras.




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© A Maçã de Eva

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