28.2.20

Tudo o que precisam de saber sobre o coronavírus, mas for real


Fonte: Observador, a 28/2/2020
Notícia: "não há notícias"

Uma década da minha vida profissional passei-a no ramo da saúde, como assessora de imprensa, com os pés em comunicação de crise, passando pelo INEM e outros organismos do Ministério da Saúde. 

Ainda estava a estudar comunicação e eu já sabia que nunca iria para jornalismo, por vários motivos: 1) Gosto de ganhar dinheiro; 2) Não gosto de maçar pessoas; 3) A maior parte das notícias são pura desinformação e eu não quereria fazer parte disso.

Isto para falar no coronavírus ou CODIV-19. É de revirar os olhos ao pânico provocado pela comunicação social que acontece, acredito, por ser uma novidade. A pressão da comunicação social começa com olho nos chineses que, já se sabe, são uns histéricos. E espalha-se pela Europa à falta de notícias mais sumarentas, levando os governos a tomarem medidas para não parecer que não estão a fazer nada. 

Para inglês ver, portanto. Nenhum governo eleito quer fazer figura de que não se importa com os cidadãos. E se for para ficar bonito no retrato, seja. O guito é de todos, querem lá saber.

Vejamos, na propagação de um surto a sério em que todos nos transformamos em zombies, não há, mas não há mesmo, nenhum país que esteja preparado para o conter. Nenhum! Esqueçam isso.

Um dos maiores surtos de sempre é a gripe espanhola (1918) que, dizem as estimativas, em seis meses matou 25 milhões de pessoas. Milhões!

Vamos pensar de outro ponto de vista: por que é que a vacina da gripe muda todos os anos? Porque o vírus também muda. E mesmo assim a vacina não protege contra todas as estirpes.

Todos os anos se morre de gripe em todo o mundo. Este é um vírus novo que tem uma taxa e mortalidade mais alta nas faixas etárias mais velhas, com especial foco em pessoas já debilitadas, não existindo fatalidades a registar em bebés ou crianças pequenas. Todos os anos, todos os anos, em todo o mundo se morre de gripe. E fevereiro é o pico da estatística.

Para perceber melhor a coisa, recomendo este texto muito bom de um médico que devia ser de leitura obrigatória.

E se a comunicação social já deixa a desejar, suspirei quando a escola da minha filha passou a alimentar o comportamento a que se assiste na TV: o pânico. Ainda que afirmem que o objectivo não é instalar o pânico, a escola envia um longo texto por email, com link para um questionário que vai alertar no caso de alguma criança (ou os seus pais) terem andado em alguns dos países onde o vírus tenha aparecido.

Ora, eu estive em Milão e se respondesse ao questionário ontem, a minha filha não poderia ter ido à escola hoje, até que fizesse 14 dias do meu regresso de Itália. Então, vou responder ao questionário apenas no domingo, data limite para o questionário obrigatório, que é também o dia que marca o meu período de quarentena. Logo aqui se vê como a medida não serve para coisa nenhuma.

Além disso, qualquer pai que está obrigado a preencher aquele questionário, pode estar longe do período de quarentena, estar infectado sem sintomas e mentir. Não há como controlar.

Toda a mensagem trata as pessoas que se deslocaram em viagem como alvos de contágio garantido a 100%, tendo estes pais de arranjar soluções mirabolantes para poder continuar a trabalhar, pois as crianças ficam impedidos de entrar na escola durante duas semanas. 

Afirmam que estão a trabalhar em estreita colaboração com as autoridades, sem dizer quais. 

E a Direcção Geral da Saúde emite hoje um comunicado que contraria exactamente as medidas da escola tomadas em "estreita colaboração com as autoridades":

Fonte: Observador a 28/02/2020


Qual é o resultado prático de ver tal contradição? Deixo para a vossa imaginação.

Vou dar dois bons exemplos em como estas precauções servem de pouco ou nada, mostrando que as medidas de protecção (a achar que estão a prevenir) apenas transtornam a vida das pessoas e não fazem muito por evitar o contágio:

Exemplo 1: imaginemos que têm no prédio uma vizinha hospedeira de bordo. Não faz parte do vosso agregado familiar, portanto, no questionário assinalam que ninguém do agregado familiar viajou para as "zonas perigosas". Em casa estão em segurança, de mãos lavadas. Mas de manhã levam as crianças à escola, descem no elevador, marcam o andar do R/C para sair do prédio, o mesmo andar onde a vizinha hospedeira meteu os dedos, regressada de uma zona de contágio. Imaginemos que estava doente, já levam o vírus nas mãos, levam as crianças à escola, fazem-lhes umas festinhas de despedida, mais uns beijinhos e tal, já está a criança contaminada! Que durante o dia vai distribuir por todos os colegas. Mas no agregado familiar ninguém viajou para "zonas perigosas", por isso, todos estão safos!

Exemplo 2: Manel das Couves foi a Paris passear com a mulher, não têm filhos, volta contagiado sem saber. Os dias passam e ele é um dos casos assintomáticos. O Manel tem os dedos lambidos daquelas batatas fritas que comeu ao almoço, unhas cheias de vírus, vai ao supermercado, paga com o cartão multibanco e aqueles dedos porcos ficam com o vírus colado ao painel onde marcou o código do cartão. Na vez seguinte, na fila da caixa para pagamento, vai a Maria Quitéria, que tem o filho a brincar no carrinho de supermercado. Usa o cartão multibanco para pagar as compras e lá vai ela, com os dedos lambidos do cuspo do Manel das Couves, doente sem saber. No dia seguinte, a criança vai à escola, pode ir à escola porque os pais estão sempre em casa e não viajam, não representa perigo de contágio, acredita a escola.

Este texto serve para tentar que as pessoas pensem pela própria cabeça e passem a colocar questões: quem disse? Por quê? Qual é a fonte? O que dizem as estatísticas? O que ensinam casos semelhantes? E, importante, o que faz sentido?

Só existe uma maneira de impedir a entrada do coronavírus em Portugal que é fechar as fronteiras. Ninguém entra ou sai até a coisa se dissipar. E isso não vai acontecer - que eu saiba nunca aconteceu em país nenhum - pois a vida continua e a economia não pára.




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