18.9.17

Como foi o 3º trimestre de gravidez? O melhor e o pior


Nota: as gravidezes não são todas iguais (longe disso!), pelo que a minha impressão sobre o terceiro trimestre é pessoal. Umas mulheres identificar-se-ão, outras nem pensar. E quem não se identificar não deve estranhar ou pensar que há algo de errado. Em caso de dúvida deve consultar-se o médico assistente e não a grávida ao lado.

Olho para esta imagem que nos dá um esquema do 3ª trimestre dividido por meses e semanas, mas o meu último mês vai quase até às 42 semanas. Eu estive mais tempo grávida do que grande parte das mulheres, quase sinto que deveria ter direito a qualquer coisa em jeito de bónus, mas nem sei bem o quê.

Passei a gravidez a ouvir “ai, o 3º trimestre é o pior!”, “ai, vais deixar de evacuar!”, “ai, vais deixar de dormir!”, “ai, vais deixar de te mexer!”. E eu sei que as pessoas dizem isto tudo em jeito de aviso, com a intenção de nos preparar para o que aí vem, uma forma de nos sugerir aproveitar ao máximo a fase em que a gravidez ainda é boa. Mas como seria expectável, histórias há muitas e as gravidezes não são todas iguais. Nunca são, é por isso que não dei grande importância às histórias, quer de terror, quer de maravilha, pois qualquer uma delas podia nem passar por mim. Com isto na consciência pude ouvir de tudo, o melhor e o pior, sem criar medos ou grandes expectativas.

Nesta última fase, depois de uns breves episódios de ciática no segundo e terceiro mês, eis que a meio do terceiro trimestre a ciática regressou, também por breves episódios, mas de uma forma ainda mais paralisante. Não sei explicar o que é ciática, a melhor forma de a descrever seria como um impulso eléctrico que vai do alto da nádega até meio da coxa e que não permite de forma alguma que se apoie o pé no chão para dar um passo em frente. Mas de maneira nenhuma mesmo, não é força de expressão! O corpo parava, deixava de obedecer sem aviso e eu ficava ali entravada à espera que passasse. A mim dava-me para rir como uma hiena, mas estou consciente de que só tinha humor porque era uma coisa passageira e não um problema de saúde que me afectasse seriamente. Além disso, estes episódios eram alimentados pelas cenas teatrais do meu marido que aproveitava a minha imobilidade temporária para me fazer maldades ou imitar-me para me distrair da dor eléctrica. E eu, ora ria de mim, ora ria dele e esperávamos que passasse.

Menos sorte teve o meu marido no terceiro trimestre quando descobriu o poder de uma barriga cheia de bebé numa mulher: eu que nunca na vida ressonei – excepto em casos de constipação – passei a roncar como um homem de barba rija. Juro que cheguei a acordar com o meu próprio ronco, era vergonhoso e muito pouco feminino. E como se ressonar não bastasse, comecei a babar a almofada em modo “piscina olímpica” que me escorria pela cara. A sério, estas não eram condições para dormir e não havia meio de controlar o meu corpo a adoptar modos nocturnos menos burgessos.

Mas não foi tudo mau. Para mim o melhor do terceiro trimestre foi perceber, mais ou menos no início do último mês, que já conseguia deitar-me de barriga para cima (com quatro almofadas nas costas) e ver um filme ou ler sem estar obrigada a deitar de lado. Foi de sonho! Não sei o que mudou, mas a constatação quase me deixou feliz e sentia-me maravilhosa à noite poder vestir a camisa de noite, deitar-me na cama e ver os meus policiais entre almofadas na posição que sempre conheci. Era um dos meus momentos altos do dia. Tão bom quanto isso foi também verificar que comigo acontecia exactamente o oposto que todas as mulheres afirmavam: “vais deixar de dormir”. Eu? Eu até falei com a médica, no último mês começou a dar-me um sono digno de primeiro trimestre, parecia que andava drogada, dormia em qualquer lado duas horas descansadinha da vida. A médica respondeu-me que aproveitasse, eu não me fiz de esquisita e multipliquei as sestas. Tive dias em que cheguei a dormir duas sestas por dia e à noite ainda me deitava às horas habituais.

O pior, piorzinho, do terceiro trimestre foi sem dúvida uns dias de pressão extrema na bexiga em que cheguei muitas vezes a pensar que ia perder urina estando no meio da rua. Nesses dias eu só estava bem sentada e isso custou-me, pois custa-me muito estar parada. A isto acresceram algumas noites com dificuldades para me virar na cama (como eu gostaria de ter tido a ajuda de uma grua!) e, nos passeios prolongados uma dor muscular no fim da barriga que não me largava, que tornava os meus passos lentos ao contrário da rapidez com que costumo andar, dor que não desaparecia mas que também nunca me ajudou a entrar em trabalho de parto espontâneo por mais esforços e passeios que fizesse.

Ainda assim, como afirmei em textos anteriores, nada disto foi um calvário de atravessar. Ajudou saber que só faltavam umas semanas (no meu caso as semanas estavam sempre a crescer), ajudou-me ter muito trabalho e ter ainda muitas coisas para preparar e organizar.

O melhor conselho que posso dar para o terceiro trimestre é que as grávidas mantenham a cabeça ocupada, é meio caminho andado para se sentir menos frustração (no caso de sentirem que está a ser difícil) e não dar lugar a alguma sensação de que o tempo não passa relatada por amigas, mas que eu nunca senti. Senti sim que o parto nunca mais se dava (e não deu, teve de ser induzido), mas não tive a sensação de tempo parado porque todos os dias fazia acontecer alguma coisa: avançava com trabalho, fazia um lanche com amigos, jantava com a família, ia passear, fazia massagens, tratava da pele, ia ao cinema, fazia arrumações, avançava no quarto da herdeira, aproveitava para arrumações maiores e, todas sabemos, dentro de uma casa há sempre coisas para fazer. O que é preciso é não parar e tornar cada dia de alguma forma produtivo até ao último dia de gravidez.


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© A Maçã de Eva

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