21.2.17

Gravidez: toda a verdade #21



Papel de parede, Oficina Rústica
Capa do ovo, antiga e emprestada


Entro no consultório, retiro a senha prioritária, a enfermeira do costume bate os olhos em mim e quase grita:

- AINDA???!
- Pois...

Ali já todos me conhecem, já todos riem e não tarda sou objecto de estudo. A enfermeira, no meio de tantas pacientes que deve ter, já nem precisa de olhar o meu caderninho de grávida, sabe o meu tempo de memória.

A recepcionista do edifício onde fica o novo showroom também já sorri quando me vê, em jeito de "coitadinha desta piquena, já deve estar tão farta". Já publiquei um aviso à navegação no FB pessoal para pararem de nos contactar, sabemos que a intenção e o interesse é o melhor, mas o somatório de chamadas já nos faz suspirar e consome-nos. Está tudo igual.

Tenho mil contracções desde os cinco meses, ando a fazer toques há semanas, estes só servem para ter dores, não há nem uma pinta de sangue para amostra, nem rolhão mucoso, nada! Ontem fui presenteada com um "toque ninja" (palavras da médica), quase a tocar-me nas amígdalas, NADA! O prazo já era, tenho a criança para lá de subida e depois do toque de ontem conseguiu subir ainda mais como quem foge. Percebo isso apenas a olho nu, basta olhar para mim, e porque ao mexer no telemóvel e apoiar as mãos na barriga tenho de subir os ombros mais do que o costume.

Ontem estava cheia de energia e optimismo, hoje estou no chão. Dormi pessimamente, muitas contracções de treino como de costume (zero dor), mas não há meio de isto se desencadear nem com toques, nem com caminhadas, nem com esforços e pesos, nem com banhos quentes, não há nada que funcione. Firmeza e determinação hão-de ser qualidades da minha filha.

O meu seguro de saúde é excelente, excepto para partos, tendo apenas uma cobertura de cerca de mil euros. Hoje já o homem dizia que pagava uma cesariana do bolso dele para me salvar do desânimo e do cansaço. Como vou ter a cria num hospital público, isto tem de ser seguido by the book até à última instância. E oh, boy!, se esticam isto no tempo nas boas condições em que a criatura se encontra.

Sempre quis um parto normal (com epidural), nunca me chamou a cesariana, não sou do tipo mariquinhas ou "ai, que me vai dar um ataque de ansiedade", nunca quis cicatrizes, recuperações lentas, toda eu era optimismo de que ia ser espectacular e poderoso, provavelmente antes do tempo dado o meu ritmo de vida, por ter tantas contracções e a pequena estar de bom tamanho e saúde há que tempos. 

Agora, se algum dia voltar a engravidar, é certo que vou fazer um outro seguro de saúde para o caso de esta resistência de betão se repetir. Sinto-me fisicamente cansada e mentalmente com a vida em suspenso. Parece que estou grávida há um ano.

Mas posso tentar ver o lado positivo da coisa: já tenho papel de parede no quarto da piquena (o que nunca pensei que acontecesse antes de ela nascer), a cómoda e a cama de grades também chegou, já começaram as obras no showroom, os homens das mudanças já tiraram coisas de casa, o novo negócio está perto de abrir e com jeitinho ainda dá para fazer uma viagem pela Europa, jantaradas com amigos, criar mais um novo negócio, redecorar a casa e assim.

Eu queria ir comprar roupa para me consolar, ando a piscar os olhos à nova colecção, desejosa de mudar de roupas, mas sei lá o meu tamanho com esta barriga, é capaz de não ser boa ideia. Já pedi ao homem para me levar a almoçar fora e que me leve a comer gelados ao Davvero, uma pessoa tem de se animar nem que seja com açúcar, snhif.


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© A Maçã de Eva

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