19.4.16

Afinal podemos gostar dos nossos haters


Ontem escrevi este texto, depois de uma (alegada) hater me ter deixado uma acusação em que não compreendi motivo para não ter sido antes uma questão. Os blogues têm a importância que têm, quanto a mim dão-me ideias para roupa, dão-me a descobrir restaurantes novos, a saber de novos produtos ou serviços, dão-me uns minutos de leitura prazerosa e pouco mais. Nunca tive nos blogues ódios de estimação, não gosto de todos (claro que não), já deixei de seguir blogues, consulto com menos frequência com que o fazia e parto à descoberta de novas páginas cada vez menos.

Basta ter um blogue com um punhado de leitores para perceber que rapidamente aparece que nos odeie sem motivo nenhum. Ou pelo menos assim parece. Ontem, quando li aquele tom acusatório, escrevi um post de resposta num tom altamente irónico, fruto de mais um comentário em que se colocam os blogues em causa, no qual se retratam os blogues como nódoas da sociedade, vis autores numa missiva de enganar o leitor a cada oportunidade. E perguntei-me: "será que têm de ser sempre uns maus da fita?".

Nisto, recebi uma nova mensagem da alegada hater em que cultivava a continuidade de dizer ao mundo o quão horrível eu sou. Perguntei-me novamente: "porquê?". Ao clicar no perfil pessoal, para meu espanto, tínhamos conhecidos em comum. Estranhei ainda mais e coloquei-me em causa, se devia ter escrito o post.

E então fiz algo que nunca fiz na vida. Em 30 segundos descobri o contacto e liguei-lhe. Um blogue a ligar a uma suposta hater, onde já se viu isto? Assiste-se na web a todo um facilitismo de atirar pedras a quem estás atrás de um monitor, mas seria igual numa chamada de telefone?

Apresentei-me, não me desligou o telefone na cara, mas certamente não esperavaa um contacto. E falámos, falámos, falámos que tempos sobre interpretações erradas, sobre dias maus em que fazemos coisas de que nos arrependemos, sobre a honestidade online, no que acreditamos, no que podemos fazer melhor, mostrei-me tal e qual como sou fora de um blogue. Dei o meu ponto de vista, não estava ali para ralhar ou desancar (o que seria!), liguei para compreender e mostrar que deste lado está gente que é, às vezes, sem motivo algum, destratada online, um palco onde ser blogger é sinónimo de ter de aguentar tudo sem pestanejar e, sobretudo, sem sentir.

Desta chamada saiu (para mim) uma experiência onde aprendi coisas novas. De repente dei por mim a pensar eu gosto desta miúda, por que motivo foi escrever-me daquela maneira? Estava ali alguém de quem gostava num contacto de telefone, mas que me tinha deixado tão má impressão num comentário de FB, o que me deu que pensar: tantas vezes temos a escolha de ir pela via mais simpática, por que motivo optámos pela via antipática? Se é mais fácil responder torto, também não é mais feliz dar simpatia para que nos respondam com simpatia? Ou não acreditamos que do lado lá possa chegar algo de bom?

No fim de contas, deu-se o reverso da medalha, o totalmente inesperado de um dia nos cruzarmos por uma desagradável troca de frases online: acabou por ser giro. Deu-me que pensar e muito que aprender e por isso faço esta partilha, para que dê que pensar. 

Cada acção tem uma reacção, e se a acção for boa e simpática desde o início (sendo que online temos de nos esforçar mais por isso para não corrermos o risco de ser mal interpretados na leitura), é natural que a reacção seja igualmente boa.

Nunca mais me esqueço, no meu primeiro estágio como assessora de imprensa, na altura o meu director (e hoje amigo), observava-me ao telefone cheia de atenção ao pormenores técnicos mas esquecendo algo fundamental que me ensinou: quando falares ao telefone, sorri. Ouve-se na voz.

Vi resultados nas reacções e aprendi isto que me vai acompanhar o resto da vida. Sorrir na voz, uso este método sempre que falo com pessoas que podem vir a ser contactos para o meu negócio, por exemplo. A primeira impressão pode ser fundamental. Preferimos ser lembrados como aquela pessoa simpática que ligou ou a chata que nos roubou o tempo? 

Que possamos também sorrir uns para os outros online. Sem dúvida que teremos todos a ganhar e, quem sabe, a descobrir sobre nós próprios.




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© A Maçã de Eva

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