2.10.15

Cérebro de minhoca: isto já não é o que era

Eu era uma pessoa que me lembrava de tudo. Sabia tudo, nunca me esquecia de nada, era óptima a memorizar. E depois um dia, sem que eu saiba precisar em que altura, passei a ter aquilo que chamo de cérebro de minhoca: não me lembro das coisas, sou incapaz de memorizar nomes, passo a vida com listas de papel na carteira, memorizar números é para esquecer e a cada dia que passa que tenho vontade de me dar chicotadas no lombo porque me esqueci disto ou daquilo. Eu odeio falhar, odeio ficar por cumprir, odeio que as coisas não se desenvolvam à velocidade da luz, pelo que os "esquecimentos" irritam-me a mim própria e muito.

A sério, comigo são capazes de me apresentar uma pessoa e a seguir ao cumprimento já não me lembro do nome.

Nisto, tenho uma amiga que vive fora do país e teve recentemente um bebé. Sempre que ela vem a Portugal, passa a vida de um lado para o outro, sempre a correr, quase sem gozar o país, tudo para poder fazer todas as visitas que quer fazer mais as que tem obrigação de fazer. Então, desta vez vai deixar-se disso e decidiu organizar um piquenique. Fez os convites, fica o assunto arrumado numa tarde, quem quiser que apareça.

Ontem, em grande stress e pressa para sair de uma ZARA, cruzo-me com uma pessoa que rapidamente identifiquei como a Filipa, uma amiga dessa minha amiga que vive fora. Não somos amigas, mas eu e a Filipa já estivemos juntas muitas vezes, sobretudo em festas de aniversário.

Fiz um sorriso, fui muito bem-disposta, cumprimentei, perguntei se estava boa e perguntei ainda:

- Vais ao piquenique no Sábado?
- Ainda não sei...
- Não sabes??! Então vá, pensa nisso! Beijinhos!

Fui embora com uma sensação esquisita, parecia por ela teria evitado falar-me. Comecei logo a pensar se a Filipa e a Kiki estariam zangadas, não teria sido convidada? Mas com esta idade quem é que se zanga? Eu tenho a certeza que fui simpática, mas foi mesmo muito estranho. Tenho de ligar à Kiki!, pensei.

E seis horas depois, no relax de um jantar de sushi, do nada, faz-se luz neste cérebro de minhoca:

- Eu não vi a Filipa, eu vi a Carine!

A Carine é uma cabeleireira que em tempos me arranjou o cabelo e nunca, em momento algum, privou comigo fora do cabeleireiro.

Mas respondeu-me que não sabia se ia a um piquenique que nem sabe de quem é!

Carine, filha, se me lês, olha, não ligues.



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© A Maçã de Eva

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