A convite da Odisseias, a semana passada fui conhecer o Real Abadia Congress & Spa Hotel, em Alcobaça. Eu queria uns dias de relax, fora da cidade, mas também não queria ficar longe de Lisboa. Alcobaça era uma zona mal conhecida pelos dois, fica perto da praia de São Martinho do Porto onde o homem passou férias toda a sua infância e juventude, há anos que queria levar-me, está longe da euforia do sul esta época do ano e pareceu-nos o sítio perfeito.
Para mim tirar uns dias tem de ser sinónimo de descanso e boa comida portuguesa. Jamais rumaria a sul no pico do verão, para onde vai o país inteiro e para encontrar o mesmo rebuliço (ou pior) que encontro na capital: filas intermináveis no supermercado, dramas para estacionar na praia, piscinas cheias, dramas para abastecer o carro, dramas para conseguir lugar num restaurante, gente, gente, gente, etc. Já lá vai o tempo em que visitava o Algarve em Agosto, isto da idade muda as pessoas, hoje em dia seria incapaz.
Então procuro sempre um extremo oposto que encontrei no Real Abadia Congress & Spa Hotel. As poucas crianças que vi eram silenciosas, os corredores para os quartos tinham o som de uma biblioteca, à noite percebia que o hotel tinha muita gente pelo parque de estacionamento, mas durante o dia pouca gente via e por várias vezes tivemos a piscina só para nós.
Além de silencioso, o hotel é espectacular, quartos com bom gosto, tem uma biblioteca com escada em caracol que não me importava de ter em casa, dá para sair e dar uns passeios de carro, a zona do país é espectacular, come-se muito bem (mesmo!) e nunca nos sentimos confinados ao hotel.
Ali existem bicicletas que o hotel empresta, uma piscina interior, outra exterior, um SPA com massagens mais baratas do que habitualmente vejo nos hotéis (massagens a dois a 85€ o casal, 65 minutos e ainda com um cupão de 20% de desconto), banho turco, sauna e varandas simpáticas para ler.
O pequeno-almoço (factor muito importante para mim num hotel), era óptimo, não me faltou nada: ovos, vários tipos de pão (o pão da terra e a broa, ai!), croissants, queijos, carnes frias (um presunto tão bom!), Nutella, iogurtes, sumos, café, leite, fruta, bolinhos, nem provei de tudo, mas era cada pequeno-almoço que eu tomava... Nada do que eu faço em casa, só quando me instalo num sítio com estas iguarias.
Fiquei por três noites, mas entre dias de sol na praia ou na piscina e com o que há para descobrir e passear na zona, teria ficado cinco noites sem me aborrecer.
Para o Real Abadia Congress & Spa Hotel encontram aqui pacotes Odisseias de uma noite e aqui pacotes de 2, 3, 5 e 7 noites, em regime de pequeno-almoço ou meia-pensão.
São Martinho do Porto
Ah, aos anos que o homem me queria levar até lá! Passei pela vila várias vezes, mas acho que nunca tinha ido no verão. Ele guarda muito boas memórias, várias vezes teve vontade de alugar casa e ir lá passar férias, do que eu sempre fui fugindo. Sempre expliquei que ele estava agarrado a algo que provavelmente já não existiria, passaram 20 anos, as zonas mudam, as pessoas mudam, as preferências dele mudam. E não me enganei, já não é o que era, a "rua dos cafés" onde se juntavam mil cafés e esplanadas cheias de gente em grande animação com as crianças à solta é agora quase um deserto com restaurantes para turistas, a construção moderna (leia-se "pavorosa") deu lugar às casas antigas e tradicionais da zona, as pessoas já não são as mesmas e até da casa onde deixou "de comer ervilhas" já só existia a fachada com planos de um empreendimento num cartaz preso ao portão. Em suma, a atmosfera actual está longe de ser a antiga que ele descrevia com tanta alegria, o que o deixou desiludido.
No entanto, vale a pena a visita! Passámos um excelente dia de praia, encontrou amigos de antigamente que ali tinham casa de férias e que agora vão com os filhos e até tivemos a sorte de apanhar um espectacular de verão. Uma das coisas que sempre estranhei nas pessoas que toda a vida foram para esta zona, foi o sujeitarem-se a uma incógnita no que toca ao tempo: aquilo tem um micro-clima estranho armado em Sintra, as manhãs podem ser de fugir, à noite está sempre frio e as pessoas já saem da praia ao cair do sol de casacos vestidos. A cada pessoa que encontrava, diziam: "vieram hoje, que sorte! Apanharam mesmo bom tempo!". Aquela zona é mesmo isso, até em Agosto é uma lotaria.
E foi essa sorte que proporcionou um dia estupidamente divertido. Depois do pequeno-almoço e manhã na piscina, fomos almoçar à vila, passámos a tarde na praia, passeámos, comemos bolas de berlim, fomos a Salir do Porto, do outro lado da baía de São Martinho, só para subir as dunas. O difícil que é! Mas as pernas agradeceram o treino e ficámos com fotografias mesmo giras.
Nesta tarde ainda aparvalhámos para fazer este vídeo que foi sensação entre o nosso eleitorado. Ao ver a gravação, chorávamos de tanto rir. Este dia foi mesmo bom.
Restaurante Boca do Mar
Em São Martinho fechámos o dia no restaurante Boca do Mar, que bem que comemos! Uma simpatia de empregados, um serviço rápido com que não contava com aquela gente toda à espera para jantar, óptimas amêijoas e uma massada de peixes e gambas de chorar por mais. Se vão jantar por lá, não hesitem, este é o sítio na avenida principal, mesmo em frente à praia. Os dois pagámos cerca de 40€, mas não fomos capazes de ir à sobremesa. Não havia espaço para mais. Voltava a este restaurante num piscar de olhos.
Alcobaça
Alcobaça é uma cidade mesmo simpática que parecia estar deserta de todas as vezes que por ali passeámos. Tem a zona central muito bem arranjada, limpa, estão ali anos e anos de história e de património cultural. A cidade tinha em 1800 menos de 5 mil pessoas e em 2013 tinha 55 mil pessoas, 200 anos sempre a crescer.
O Mosteiro de Alcobaça não passa despercebido, só tive pena que à noite não estivesse iluminado. Foi fundado por D. Afonso Henriques em 1148 e a obra deu-se como concluída 74 anos depois, em 1222. Os claustros sofreram uma restauração recente, o que foi engraçado, não me lembro de ter visto claustros assim tão branquinhos, que na verdade é o tom original da pedra, quando as obras acabavam. Estamos habituados a ver muitos monumentos escuros, mas eles são assim, um "dói nos olhos" quando o sol bate, pelo que nas cidades tinham um ponto com uma imensidão de branco. O mosteiro não está com a pedra limpa na sua totalidade, mas o que está branco, que é uma grande parte, faz uma enorme diferença.
Adorei a visita, gosto de imaginar e viajar no tempo, mas gostava mesmo era de ver as salas que não estão abertas ao público, os segredos e os esconderijos. Dentro da igreja estão os túmulos do rei D. Pedro e D. Inês de Castro, para muitos historiadores são obras-primas da escultura medieval portuguesa, mas a mim o que me apaixona mesmo é a história de amor e a mensagem "no meu coração mando eu".
O Mosteiro de Alcobaça está classificado pela UNESCO como Património Mundial desde 1989. O preço da visita (bilhete de adulto) foi de 6€.
Pastelaria Alcôa
Mesmo em frente ao Mosteiro de Alcobaça está a Pastelaria Alcôa. O pecado mora aqui, em forma de doce de ovos. Um antro de pecado em frente a um mosteiro sagrado é uma afronta.
Intitulam-se de "mestres conventuais" e não vou discutir isso. A pastelaria em forma de corredor tem uma gigantesca vitrine pejada de doces conventuais. É difícil ver tudo de uma vez, é preciso percorrer o corredor de olhos nos tabuleiros, tentar tomar decisões, voltar para trás, ver outra vez, enquanto cada doce grita atrás do vidro "eu, eu, eu!".
Se eu vivesse nesta zona encetava um desafio: um doce conventual por dia até provar todos os tradicionais. É uma vergonha ser portuguesa e não conhecer alguns! Chegava ao fim de dois meses uma bola e ainda dizem que o conhecimento não ocupa lugar.
Muitos dos doces, grande parte estão marcados como tendo recebido primeiros prémios em concursos diversos, então logo decidi que tinha de escolher um doce premiado. O homem foi pelo Pastel de Nata e eu escolhi uma destas Cornucópias cheias de doce de ovos.
É tão bom! A sério, acho que até senti o sangue a entrar em turbo. Se não fosse pelo peso de consciência, eu provava outros quantos doces, mas não fui capaz. Diz uma leitora que vão abrir uma Pastelaria Alcôa, em Lisboa, na Baixa. Cá os aguardo para dar início à minha missão de provar todos os doces tradicionais com receitas dos nossos conventos. Vou demorar, mas alguém tem de fazer isto pela bandeira do país.
Restaurante António Padeiro
Um restaurante manter-se desde 1938, é obra. Numa rua muito escondida, em frente aos Mosteiro de Alcobaça, ali fica o restaurante António Padeiro que eu já tinha avistado no TripAdvisor e que depois uma enchente de leitoras corrobaram.
Se fossem estrangeiros, dir-vos-ia: "very typical". Se eu tivesse de fazer uma lista de restaurantes tradicionais portugueses, este estava seguramente no meu top 10. O espaço não é nada pretensioso, quase arriscava dizer que mudou pouco desde 1938, o segredo está na cozinha e nas receitas que têm vindo a passar de mãos em mãos ao longos das décadas.
Para começar trazem uma tábua de entradas. Gigante. Atenção que só aquilo enche como uma refeição, por muito que gostasse - e eu queria - não conseguia. Escolhemos apenas aqueles que mais queríamos provar, onde se incluiu o presunto. Mag-ní-fi-co. A sério, dos melhores que já comi na vida. Achei curiosa a pasta de bacalhau e grão, muito macia, gostei dos cogumelos e só os ovos com farinheira não fizeram muito o meu género porque não aprecio pedacinhos de gordura.
Eu queria tanto a açorda de bacalhau, mas o bacalhau com broa e farinheira era um prato para dois, não podia ser. Quando chegou a travessa de bacalhau, percebi: uma enorme posta de lombo, maravilhosa, onde apanhei apenas duas espinhas. Eram só nacos de lombo que se desfaziam, regados a azeite com aquela crosta, que bom que era!
Já sem barriga, mas por mim continuava a comer, veio o tabuleiro dos doces. Ninguém traz uma carta de sobremesas, mas um tabuleiro cheio de amostras do dia, tornando a coisa irrecusável. Queria muito a sopa dourada, não como há anos, mas acabei por escolher as claras com doces de ovos, o mais leve que existia no tabuleiro. Ele optou por um crepe com maçã de Alcobaça, provavelmente o último que eu escolheria.
Tenho a certeza que voltarei a este restaurante. Só lhe faltava um interminável menu de degustação, tanto de prato principal como de doces, um corridinho de pratos que faria as minhas delícias.
No dia seguinte quis voltar (vejam bem o que gostei) para experimentar outras coisas, mas o homem recusou-se, embicou com um outro restaurante que eu achei que não valia a pena, tive de ceder a custo e não me enganei. Não só perdi a oportunidade de regressar ao restaurante do dia anterior, como prefiro a minha comida àquele restaurante em que ainda estou a chorar o dinheiro que lá deixei. Registe-se em acta: ouvir sempre a mulher.
No António Padeiro gastámos, com entradas, prato principal, sobremesas e vinho a copo, 53€ o casal.
Nem se atrevam a passar pela zona sem ir aqui comer.
Em suma, para quem algum dia possa ter pensado que não se passa nada para os lados de Alcobaça e que não deve haver muito para ver, desenganem-de. Tudo isto a cerca de 1h de Lisboa (e mais que haveria para visitar), para mim foi perfeito. Quem procura uns dias fora para descansar, recomendo mesmo este hotel.
Obrigada à Odisseias e ao Real Abadia Congress & Spa Hotel por esta fuga a dois.
Estas e outras fotografias das férias no Instagram do Blogue
