Na cozinha, preparei o salmão no forno, a couve bok choi e o pepino. Quando acabei, gritei: "já podes vir!"
Há tempos concluí que para manter a relação saudável, na cozinha tem de ser um de cada vez. Não dá para ocuparmos os dois o mesmo espaço. Ele quer as bancadas só para ele, é homem, ou seja, um ser que não consegue ir arrumando o que tira dos armários e prateleiras, fazendo do espaço por acumulação um verdadeiro campo de batalha. Por outro lado, eu não consigo ver aquela desarrumação, as bancadas alagadas, os dois a querer usar o lava-loiças, a discutir o pano da cozinha, não dá. Crescem-me calores nas costas, nascem sopros impacientes da boca e assim se caminha para um jantar de trombas, com o cansaço do dia acumulado.
Depois de o chamar, lá foi ele tratar dos brócolos com alho. Ainda estava nas redondezas a tratar do forno quando ele me avisou: "sai da cozinha, não te quero aqui".
No limite teria de ficar à porta, mas nem isso porque os desastres que ele provoca me enchem de nervos. Mas é assim que se aprende, errando, há que deixar. Já cozinha os brócolos al dente com alho melhor do que eu. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura, já diz o ditado. E é assim que se mantém um casamento feliz, aceitando o que não conseguimos suportar sem fazer disso um problema, dando espaço a cada um. Em vez de me concentrar nos problemas, concentro-me numa solução. Se a distância culinária funciona para as duas partes, então é uma boa fórmula.
PS - Enquanto vos escrevo, tresanda a alho. Vou ter a sensação de dormir com uma cabeça de alhos na almofada.
Novo PS - A leitura do texto pode dar a sensação de que a cozinha é pequena, mas é enorme. Apenas demasiado pequena para um ego culinário como o dele e uma impaciente como eu.
Há tempos concluí que para manter a relação saudável, na cozinha tem de ser um de cada vez. Não dá para ocuparmos os dois o mesmo espaço. Ele quer as bancadas só para ele, é homem, ou seja, um ser que não consegue ir arrumando o que tira dos armários e prateleiras, fazendo do espaço por acumulação um verdadeiro campo de batalha. Por outro lado, eu não consigo ver aquela desarrumação, as bancadas alagadas, os dois a querer usar o lava-loiças, a discutir o pano da cozinha, não dá. Crescem-me calores nas costas, nascem sopros impacientes da boca e assim se caminha para um jantar de trombas, com o cansaço do dia acumulado.
Depois de o chamar, lá foi ele tratar dos brócolos com alho. Ainda estava nas redondezas a tratar do forno quando ele me avisou: "sai da cozinha, não te quero aqui".
No limite teria de ficar à porta, mas nem isso porque os desastres que ele provoca me enchem de nervos. Mas é assim que se aprende, errando, há que deixar. Já cozinha os brócolos al dente com alho melhor do que eu. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura, já diz o ditado. E é assim que se mantém um casamento feliz, aceitando o que não conseguimos suportar sem fazer disso um problema, dando espaço a cada um. Em vez de me concentrar nos problemas, concentro-me numa solução. Se a distância culinária funciona para as duas partes, então é uma boa fórmula.
PS - Enquanto vos escrevo, tresanda a alho. Vou ter a sensação de dormir com uma cabeça de alhos na almofada.
Novo PS - A leitura do texto pode dar a sensação de que a cozinha é pequena, mas é enorme. Apenas demasiado pequena para um ego culinário como o dele e uma impaciente como eu.