21.10.14

O que se aprende ao montar um negócio

Montar um negócio de raiz, ser empreendedor, traz muitas coisas. Algumas delas inesperadas, mas a primeira de que me lembro logo à cabeça, não falha:

1. Vais aprender que todos percebem de negócios, mesmo aqueles que nunca tiveram um.


2. Vais aprender que todos os que percebem de negócios sem nunca terem tido um não se colocam em causa e acreditam suar razão pelos poros.

3. Vais aprender que vender para os amigos é um pincel que queres evitar porque não és capaz de lhes levar o PVP e com isso mudas o plano de negócios e os rendimentos projectados para a estação. Até porque não tens apenas um amigo.

4. Vão-te nascer mais cabelos brancos do que lojas de chineses na Baixa de Lisboa. Isto não é força de expressão, é literal, são cabelos brancos, uns atrás dos outros, que só começam a nascer a partir do momento em que o negócio arranca. Estou quase na tinta.

5. Vais preocupar-te 70 ou 80% do tempo e sentir feliz e livre 20 ou 30% do tempo.

6. Vais querer atirar o telefone à parede como exercício de descompressão e em alguns momentos vais mesmo chorar.

7. Vais querer perder a cabeça com fornecedores dos quais dependes.

8. Vais desistir de fornecedores depois de muito lhes oferecer trabalho. É assumir que não querem trabalhar, há um limite para as reuniões, os telefonemas e os "sim" animados que não se concretizam.

9. Vais chorar lágrimas de sangue ao ver as taxas que o banco cobra por cada compra.

10. Vais perceber que o Paypal está rico ao levar cerca de 5€ por compra.

11. Nenhuma colecção vai correr bem sem dramas, há sempre merdas. Os problemas são como cogumelos numa cave com humidade.

12. Vais saber que as lojas dos chineses para estarem em Portugal têm o privilégio de não pagar IVA ao Estado durante 10 anos. No fim desses 10 anos mudam o negócio para nome de outro chinês para mais 10 anos sem pagar.

13. As startup pagam tantos impostos como os negócios mais antigos, mas menos que as lojas dos chineses que têm 10 ou mais anos de vendas.

13. O Estado é um chulo que gasta tudo em rameiras e não promove o empreendedorismo mas ajuda os chineses.

14. Nunca mais entras numa loja dos chineses. Passas a ter raiva. Viras as costas de cada vez que um político na TV ousar falar de empreendedorismo. Porque tens raiva. E fazes manguitos imaginários.

15. Os teus amigos entendidos em negócios vão achar que tens uma boa margem de lucro, como se fosse tudo a ganhar. Esquecem-se do seguinte: fornecedores, viagens até aos fornecedores, impostos, embalagens, protótipos, materiais, transportadoras, rendas, comunicações, gasolina, contabilistas, designers, fotógrafos, advogados, o preço dos sacos, Cristo!, etc, e lá se vai a "boa margem" que nem era grande, era apenas boa. Ah! E ainda falta de preferência um vencimento.

16. Não vais tirar nenhum vencimento no primeiro ano, nem provavelmente no segundo. Isto é quase garantido.

17. Vais andar constantemente preocupado.

18. Ser patrão de ti mesmo não são férias. Trabalhas mais do que trabalhavas, a ideia de ir de férias é boa, mas por outro lado representa um sofrimento.

19. Ser fim-de-semana é indiferente, trabalhas na mesma em qualquer coisa.

20. Não consegues estar de férias sem ter alguma preocupação e levas sempre trabalho.

21. Tens constantemente medo de falhar.

22. Vais perceber ou confirmar que tens amigos espectaculares e que outros deixam a desejar.

23. Alguns vão achar que o que fazes é um espectáculo e pensar que tens uma vida boémia que também queriam. Vão querer fazer o mesmo que tu, ao ponto de te perguntarem como fazer, por onde começar e quais os fornecedores a que recorrer.

24. Vais passar a ser da opinião que parar para fazer necessidades fisiológicas ou fazer uma refeição é uma perda de tempo. Inevitável, mas é perder tempo do dia.

25. Os fornecedores vão enviar coisas que não pediste e vais perguntar-te se estão a fazer um jogo de desafio à paciência.

26. Os fornecedores acham que têm gosto requintado e muitos vão querer enviar-te coisas à maneira deles, esperando que agradeças a alteração sugerida que tens vontade de pegar com luvas.

27. Quando vais vender algo up market, comparas-te a outras marcas semelhantes e fazes por não ter a marca mais cara. Ainda assim não chega. Logo que começas vão perseguir-te com "é caro". É evidente que sabes à partida que uns poderão comprar, outros não (é assim no mundo inteiro), mas de qualquer forma vão perseguir-te com "é caro" não vás tu esquecer-te que há quem não tenha carteira. Nesta altura, tu que gostas muito das malas da PRADA e não tens nenhuma, pensas nas figuras que farias na página da marca chorando-te "it's too expensive".

28. As pessoas querem pagar pelo teu produto (que para ti já sai com preço elevado) um valor que não paga sequer o preço de custo. É o mesmo que quererem pagar a melhor seda ao preço de trapos de poliéster com nódoas e para lavar o chão.

29. Mais: acham inadmissível que cobres um valor que não podem pagar. E lembram-te isso quantas vezes conseguirem num mural de lamentações.

30. No fim, a qualidade e as boas escolhas vendem, os elogios multiplicam-se e percebes que deves sempre ouvir os que te são próximos, procurar os conselhos de quem anda a virar frangos na área há muito tempo e não a opinião de amadores. Segue sempre a tua intuição, se bem que nem todas as intuições são de valor.

Ora então, votos de felicidades e bons projectos para quem vai começar!




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© A Maçã de Eva

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