Em minha defesa, segue a verdade dos acontecimentos:
PAM Maria estava há dias a protestar que precisava de cortar o cabelo. Não podendo fazê-lo no melhor spot de Lisboa, o The LOFT, ameaçou comprar uma máquina de rapar cabelo, o que fez. A máquina de 20€, claro está, não valia nem os 20€.
Note-se que durante o tempo em que ameaçou rapar o cabelo, também Maçã Maria protestou pelo facto de não apreciar o marido com cabelo à militar, pedindo-lhe que tivesse paciência e aguardasse por um corte decente. Afirmou inclusivamente "nenhuma mulher gosta de marido feio".
No WC, pronto para dar uma auto-carecada, PAM Maria rapidamente percebeu que não conseguia fazer o trabalho sozinho, pois a máquina era pouco eficaz e exigia 100 passagens para cortar a mesma estrada de cabelo.
Já com dores no braço e um WC que metia nojo aos cães, PAM Maria chamou sua mulher aos gritos, passando o pincel para ela.
É sempre ela, a coitada.
E o trabalho ficou feito, cabelo cortado por igual.
MAS, não satisfeito, sempre a viver a vida no fio da navalha, PAM Maria decidiu que desejava o cabelo ligeiramente mais curto atrás. Mudou o pente à máquina e chamou Maçã Maria aos gritos, mais uma vez.
Maçã Maria lá foi, contra a sua vontade, assumindo falta de vocação para o que lhe era pedido, avisando que era uma má ideia. Tentou fazer ver o seu ponto de vista, mas perante insistência, cedeu à vontade do queixoso.
Acontece que PAM Maria colocou mal o tamanho do pente na máquina, passou a mesma para as mãos de Maçã Maria, que por sua vez pegou na máquina com maus modos e sem olhar.
No momento em que encostou e arrastou a máquina no couro cabeludo, foi a desgraça que se vê provada em imagem.
Maçã Maria quase desfaleceu. Deu um grito como quem vê corpos em decomposição à beira da estrada de um país em estado de sítio, levando a mão esquerda à boca.
Depois, foi um mix de gritos, gargalhadas e lágrimas.
Em defesa da honra de Maçã Maria, atribua-se a responsabilidade ao queixoso.
Dá-se como provado que o sofrimento do queixoso será minimizado pela falta de contactos sociais a que a pandemia obriga, sendo que uma vez regressado ao exterior e ao trabalho a sua melena já terá sido rectificada pela natureza.
Acrescem ainda momentos de gáudio proporcionados à família por vídeo-chamada, lágrimas e dores de barriga de tanto rir, o que nesta fase de pandemia é de valor e não deve ser desconsiderado.
É saber lidar!