13.5.16

Criei uma nova marca! – parte IV, Perguntas e respostas

Praia de Porto Covo em Nero, Praia da Morena em Laylani Black, Praia Verde em Nero


Perguntas, muitas perguntas recebidas e algumas percepções de mercado erradas.

Condensei neste texto algumas perguntas que me têm deixado nas redes sociais. Fui lendo com atenção (eu leio sempre mesmo quando parece que não) e percebi que existem algumas noções de mercado impossíveis. Há coisas que não são apenas uma questão de vontade, eu não invento a roda, mas vamos às respostas para me explicar melhor:

“Vai haver loja aberta ao público?”

A ROS Beachwear vai funcionar com a loja online em www.rosbeachwear.com, onde poderão consultar uma lista de perguntas e respostas e um guia de tamanhos, e vai funcionar também na loja IT'S ABOUT PASSION, no Edifício Embaixada, Praça do Príncipe Real nº 26, 1250-184, em Lisboa.

A loja está aberta todos os dias da semana, das 12h às 20h. Existe parque de estacionamento nas traseiras do edifício (o que muitas pessoas desconhecem), subindo pela Praça da Alegria. O contacto da loja é o 211 998 197.

“Quais os tamanhos disponíveis? É que não sou magrinha como tu!”

As peças da ROS Beachwear são S M L, correspondentes do 34 ao 40, suspeito que as malhas lisas que têm maior elasticidade cheguem ao 42.

Já procurei explicar isto várias vezes: eu não sou magra (I wish!). Não sou magra nem gorda, estou mais para o cheiinha do que para o esquelética. Como imaginam, ninguém escolhe as piores fotos e ângulos para publicar, pelo que percebo que tenham uma ideia pouco rigorosa do meu tamanho, mas eu visto um 38, isso é ter uma graaaaande figura?

Para mim é ser médio, nem magra nem gorda, mas fico muito melhor com menos 4 ou 5Kg, sei isso perfeitamente. Não tenho um IMC de risco, mas também não tenho a figura que julgam que tenho. O que tenho, isso sim, é olho para escolher roupa e ângulos, que isso muda muita coisa.

Além disso, as lycras esticam, esticam e esticam. Um mesmo tamanho dá para várias figuras, acreditem no que digo.

Praia do Ancão em Viena

“Pensaste nas meninas XL?”

Nesta pergunta não sei o que é considerado XL, mas aproveito para explicar o seguinte: quando se cria uma marca de roupa, antes de tudo, é imperativo definir um target. Não posso ir a bebés, crianças, adolescentes, tamanhos average, plus size, modelos para miúdas, mulheres, idosas, etc.

Quando se cria uma marca de fatos de banho é preciso definir qual é o público-alvo. Com certeza sabem que até as grandes marcas com vários segmentos (exemplo com a MANGO e MANGO Violeta), dentro destes grandes grupos o negócio está dividido por áreas, os que trabalham num segmento geralmente não trabalham no outro. É assim que as coisas funcionam.

No caso da ROS Beachwear a minha escolha recaiu nos tamanhos do costume, aquilo que tem mais potencial de venda e reúne os tamanhos da maior parte da população (os tamanhos de uma ZARA, por exemplo). Os plus size correspondem a nichos de mercado. Eu percebo perfeitamente que quem veste um tamanho grande se sinta frustrada por não encontrar nas lojas aquilo que idealiza, que não exista a peça que tanto se gostou num tamanho maior ou que a marca X que tem roupa tão gira só faça roupa até um tamanho que não serve. Mas as marcas não fazem isto para chatear as pessoas, fazem-no porque o mercado obriga a criar segmentos e porque uma determinada peça que veste bem num 36, a maior parte das vezes não é apreciada por quem veste 46. Assim, qualquer marca é obrigada a fazer escolhas.

Pelas perguntas que li, há mulheres que vestem tamanhos grandes a perguntar por modelos próprios para maminhas pequenas, o que nunca resultaria mesmo que o tamanho estivesse disponível.

As marcas trabalham para facturar, não vamos dourar a pílula, é para ganhar dinheiro. No meu caso, quis criar um conceito que se prende no que eu própria pretendo num bikini e no meu estilo pessoal. Espero que as pessoas se identifiquem com as minhas necessidades enquanto consumidora, mas sei perfeitamente, sem sombra de dúvida, que não vai resultar em toda a gente sem excepções. E é assim para todas as marcas, eu não iria inventar a roda. Não é uma questão de má vontade nem de não me lembrar de outros segmentos, eu sei que existem outros tamanhos, mas fui obrigada a escolher, até porque existem fábricas especializadas nuns tamanhos e outras noutros.

Ainda me lembro de ter pensado num último tamanho maior, um XL, correspondente a um 42/44. Isto com muitas reservas, pois são muito mais as pessoas que conheço que vestem do 34 ao 40, do que as que vestem 42 ou 44. Com tamanhos maiores, perguntava-me qual o risco de ficar com stock a olhar para as moscas. Na fábrica, quando falei com a modelação, uma senhora que anda há mais de 30 nisto, disse-me com ar de preocupação: “ah, não se meta nisso! Mas olhe que não se meta nisso mesmo!”. Então, para meu espanto (juro que me espantei), ensinou-me que o XL é muitas vezes banido porque as mulheres se recusam a comprar uma peça que tenha uma etiqueta onde se leia XL. Curioso, não é?

E eu não vou contrariar quem tem mais experiência que eu. Posso aguardar e ver o que o mercado pede, fazer alterações mais tarde, mas dar um pontapé de saída contrariando quem tem mais experiência que eu, não é boa ideia.

Além disso, nota pessoal, à medida que fui recebendo protótipos para experimentar e afinar os modelos, eu olhava para as peças e apetecia-me desancar quem os andava a fazer. Parecia tudo tão pequeno estendido à frente dos meus olhos que eu pensava “isto não me vai caber!”. E afinal cabia. E às vezes até ficava grande.

Aprendi: fatos de banho e bikinis têm de ser experimentados mesmo em situação de dúvida. São malhas de muita elasticidade e que enganam os olhos. Aquilo que aos olhos parece uma peça mínima, estica para duas vezes e acabamos surpreendidas.

Praia do Ancão em Madagascar


“Eu sou 36C ou 38D, ficará bem no meu peito?”

Perdi a conta às mensagens de mulheres que querem uma orientação do que ficará bem no peito. E a resposta é muito difícil, que é para não dizer impossível. É que além da questão do tamanho, existe o formato das maminhas que nenhum tamanho indica. Uma mulher que use o mesmo tamanho de soutien que outra pode ficar com as maminhas favorecidas num modelo e a outra pessoa não. Não tenho má vontade, quero ajudar o melhor possível, mas estas perguntas só com bola de cristal.

Sempre que possível, o método infalível é experimentar. E ainda há a questão de eu poder gostar de ver e a cliente não ou o inverso.

“Este modelo há com caixa de soutien?”

Os modelos de bikinis com suporte de soutien, que muitas vezes até têm numeração de costas e copa exactamente como têm os soutiens, são feitos por fábricas de lingerie e destinam-se a mulheres que procuram num bikini o mesmo suporte que a roupa íntima. Este é outro segmento de mercado.

No caso da ROS Beachwear, existem modelos com mais ou menos suporte, mas nada que seja de grande suporte como um soutien. Existe um fato de banho com copas de espuma fixas, outros dois com uma ligeira caixa de peito escondida, outro sem qualquer suporte, um bikini com caixa média mas sem espuma, um bikini com arames, outros dois do tipo top de desporto (mas sem se tratar de suporte de alto impacto), outros dois sem qualquer suporte e um cai-cai com copas.

Ou seja, fiz um bocadinho de tudo, mas não usei grandes espumas e enchimentos amovíveis porque ainda me vão mostrar um bikini em que que essas peças amovíveis de tamanhos standard favoreçam o peito. Nunca encontrei, nem em Portugal nem fora do país, fazem sempre maminhas esquisitas com um formato que não acompanha a mama natural. Honestamente, comecei por colocar peças dessas nos protótipos, mas mandei retirar quase tudo. E não vos passa pela cabeça o que foi encontrar fornecedores que tivessem copas para maminhas e não para mamilos, que aqueles tamanhos eram uma vergonha.

No entanto, percebi quando investigava o lote de fatos de banho de uma tia, nunca deixou de comprar uma peça de que gostava por não ter copas. A minha tia compra-as nas retrosarias e trata de as coser. E (para quem quer mesmo copas) aquilo resulta!

“Os bikinis são vendidos em conjunto ou em separado?”
“Dá para trocar as peças? Há quem tenha rabo grande a mamas pequenas ou o contrário”.

Esta questão tem uma resposta que segue a linha da resposta anterior, são segmentos. E, não haja dúvida, é um segmento no qual me incluo.

Desde o início o projecto era ter partes de cima e de baixo em separado, mas tal revelou-se impossível. Não é por acaso que as marcas que fazem isso são marcas internacionais, de grande volume de stocks, de lojas de rua espalhadas por todo o mundo e outros volumes financeiros. Mas Portugal é um país pequeno e eu habilitava-me a ficar com um stock destruído e um negócio arruinado. A questão é que, por mais que isto custe às pessoas de tamanhos diferentes nas peças superiores e inferiores (eu incluída), à larga maioria das pessoas servem os tamanhos standard e, para isso, serve-me de exemplo as marcas portuguesas que vou vendo que, não me servindo o mesmo tamanho em cima e em baixo, esgotam tudo de qualquer maneira.

Também, um dos (principais) aspectos que contribuiu para ter desistido deste formato de venda, foi o “inquérito” que coloquei em curso. À pergunta: “compravas um bikini de 90€ ou 100€?”, as mulheres que respondiam afirmativamente, a seguir, à pergunta “compravas partes de cima e de baixo em separado por 45€/50€?”, respondiam que não.

Isto para mim foi um fenómeno que não soube explicar e continuo sem resposta. É certo que nem toda a gente dá 90€/100€ por um bikini, mas as que dão, qual é a diferença de pagar metade por cada uma das peças que compõem o bikini e comprar em separado? Vou ver se consigo descobrir, ficou em aberto. Anyway, a ideia de fazer peças em separado não ficou de parte, quem sabe um dia. É evidente que sou a maior interessada em proporcionar algo que eu própria tenho necessidade.

De resto, experiência pessoal, para quem tem maminhas maiores e anca menor, quando se escolhem modelos em que a cueca tem atilhos, não faz muita diferença porque é apertada à necessidade de cada uma.

 Praia Verde em Nero


“Algum modelo especial para grávidas?”

O país deve estar cheio de grávidas, perdi a conta a este tipo de mensagens. Chegaram mesmo a perguntar “este modelo fica bem numa grávida?”.

Não, não existe nenhum modelo específico para grávidas. Voltando ao início, é outro segmento de mercado e que, embora agora apareçam muitas grávidas ultimamente, não é um mercado muito interessante em Portugal. Todos sabemos que nascem poucas crianças e, portanto, existem grávidas mas poucas (e menos ainda as que conhecem a minha marca).

Mas respondendo de outra forma à pergunta, tendo em conta o meu ponto de vista, sim, estes modelos podem servir para grávidas. É uma questão muito pessoal, tenho amigas que andaram com bikinis normalíssimos uma gravidez inteira. Umas grávidas sentir-se-ão confortáveis em modelos normais, outras talvez não. É uma questão de resposta muito pessoal, dependente de critérios de conforto pessoais, não existe uma resposta unânime. Pessoalmente diria que sim (eu usaria), mas a minha melhor sugestão é experimentar e tirar a própria conclusão. Não me parece que uma outra pessoa possa dizer a uma grávida se uma peça é indicada para ela, só a própria saberá.

“E os preços?”

Quando começaram a surgir alguns sururús relativos ao preço, recebi uma SMS de uma amiga: “lá vêm os choradinhos dos preços”. Aqui a grande questão é: quem dita o que é “razoabilidade”?

Os preços da ROS Beachwear, à semelhança de outras marcas portuguesas, andarão pelos 90€/100€. Os meus bikinis não são uma pechincha, sei que não. Sei perfeitamente que haverá quem não possa comprar da mesma forma que eu não dou 500€ por um vestido e tenho amigas que dão sem piscar os olhos.

Com as OYSHO e as Woman’Secrets da vida, algumas pessoas convenceram-se de que todos os bikinis devem custar 25€ ou 30€, sem lembrar que são fabricados no Vietname a 0,50€ o bikini. Para dar um exemplo, o meu fabricante recebeu o grupo Inditex para fabricar um top. Davam no máximo 1€ por cada peça (e ele mandou-os ir dar uma curva).

Isto para explicar que não estou a trabalhar com a China ou o Bangladesh em fábricas sem condições, em edifícios que acabam por ruir e trabalhadores na miséria e pobreza. O meu fabrico é português, numa fábrica com condições dignas de trabalho, com operárias que trabalham 8h/dia, que folgam ao fim-de-semana e que se levantam assim que toca a sirene da fábrica. A mão-de-obra portuguesa está longe de ter o preço da mão-de-obra chinesa e o preço de custo final não chega para comprar um bikini numa dessas lojas do costume.

Por motivos que não compreendo, muita gente convence-se que se uma peça é fabricada em território nacional, então deve ficar barato.

Sabendo que o preço de custo final não chega para comprar um bikini numa dessas lojas do costume, sendo que ¼ do preço de cada modelo é do Estado, volto à pergunta: o que é “razoabilidade”?

Atenção, não quero aqui fazer o papel de boazinha protectora dos oprimidos que nem sequer compro na ZARA. Compro, claro que sim, eu não mudo o rumo ao mundo. Mas pelo que vou lendo nas redes sociais de outras marcas portuguesas, na cabeça de algumas pessoas as marcas portuguesas de fatos de banho têm lucros de 95% sobre o valor de venda e estão a entrar descaradamente na carteira do cliente.

Não podiam estar mais enganados. As malhas boas não são baratas (gastei em malhas mais do que muita gente ganha num ano inteiro) e a mão-de-obra portuguesa é cara para o poder de compra da maior parte dos portugueses. Não é por nada que a maior parte da nossa produção fabril sai do país.

Nas minhas incursões por fábricas descobri onde eram fabricados os fatos de banho da Kenzo, da Stella McCartney, da La Perla, da Baby Dior e descobri até que era em Portugal que se fabricavam as tangas especiais e exclusivas do Michael Phelps. Uau! Depois disto não percebi como não somos um país rico!

Mas voltando à questão, por que motivo vêm estas marcas produzir em Portugal quando têm meios para fabricar na Ásia e muito mais barato? Porque procuram uma qualidade que não há na Ásia. E bom e barato, acreditem, não existe em lado nenhum.

Em suma, sim, os bikinis não são uma pechincha, eu sei isso, mas esqueçam a ideia de que existe uma obscena margem de lucro porque não é verdade. Um negócio destes resulta se se venderem milhares de peças, de outra forma não é um negócio que valha a pena.

Praia do Guincho em Laylani White


Como nota final, tenho perfeita consciência que tudo o que fiz não vai agradar tanto a gregos como a troianos (não ia ser a primeira pessoa a conseguir tal coisa). Haverá queixas porque o peito não tem caixa, porque devia ser fio dental, porque a modelo escolhida não tem peito, porque tem celulite, porque devia ter feito de maneira diferente, porque devia ter escolhido outra embaixadora, porque a música não é gira, porque o preço não é o que queriam, porque outra pessoa faria melhor, porque devia ter escolhido outra cor, enfim, eu passei por isso tudo com os sapatos, já sei o que me espera.

Mas se puderem separar o trigo do joio para eu ler comentários construtivos que me façam aprender, algo que de facto acrescente alguma coisa e em que eu possa ficar a pensar para trabalhar, digo honestamente que prefiro.

Mais perguntas (construtivas), venham daí que eu respondo e registo sempre para melhorar. Isto é só o início.




Sugestão última, o melhor é mesmo ir ver as peças à IT'S ABOUT PASSION ou no Market Stylista no Estoril, nos dias 21 e 22 de Maio. Não há nada como experimentar e tirar as dúvidas em frente a um espelho.

Experimentem! Um fato de banho/bikini na mão engana muito, tem de ser vestido. Eu própria passei por isso durante meses até fechar a colecção.

Estamos quase no início de vendas, é consultar as redes sociais da marca a partir de Segunda!





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© A Maçã de Eva

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