Assim que ponho os pés no aeroporto, dedico-me à observação em busca de histórias. É irresistível observar os que têm pressa em fatos perfeitamente passados a ferro e camisas encharcadas em goma, os que levam muita e pouca bagagem, as formas de estar de outras culturas, as despedidas, há muito para ver. Os aeroportos são um mundo.
No regresso a casa, quando cheguei à sala de espera no aeroporto de Orly, Paris, no meio de toda aquela gente destacava-se uma mulher. Loira, alta, magra, impecavelmente bem vestida, era mulher mais velha pelos seus 60 anos, e claramente a pessoa com mais classe que ali estava. Dos sapatos ao pescoço, tudo aquilo gritava bom gosto.
Depois da observação esqueci-me dela, fui à minha vida dar uma volta pelos perfumes nas lojas e as pessoas que estavam comigo foram à procura de lugar para se sentarem. No regresso à gigante sala de espera, procurei pelos que me acompanhavam, estavam em frente à tal mulher e só havia um lugar disponível, mesmo do lado dela.
Sentei-me e na mesa em frente estava a mala dela, uma Valentino camel com umas tachas armadas em moedas romanas que eu nunca tinha visto em nenhuma revista. Entre os meus passeios no iPhone, levantei os olhos várias vezes para ver a mala: tão gira!, pensei várias vezes.
E eis que ela se dirige a mim em francês. Perguntei se falava inglês, respondeu impecavelmente e perguntou se podia deitar um olho à mala enquanto ia apenas consultar o estado do seu voo cancelado para Roma no ecrã ali perto. Respondi que sim, sorri e mentalmente pensei "no teu lugar não me deixava sozinha com a Valentino".
Voltou, agradeceu, perguntou de onde eu era, respondi e devolveu-me um alegre brasileiro: "você é portuguesa?", ao mesmo tempo que mexia na mala e alguns rivetes das tachas caiam no chão. Ajudei-a a apanhar algumas peças e perguntei se tinha a mala há muito anos. Não esperava que uma Valentino largasse peças daquela maneira. Respondeu que era uma mala de exposição, que tinha servido para fotografia, nunca passou pela venda, estava maltratada e que não costumava acontecer.
- Trabalha com moda?
- Eu? Eu sou relações públicas do Valentino faz 35 anos.
Pimbas.
Com esta eu não contava. Roma, claro, a Maison Valentino prestes a iniciar um evento de alta costura, passos que eu ia seguindo no instagram da marca. Ah!, os aeroportos têm coisas fantásticas.
E dali foi o tempo todo a conversar até à última chamada para o meu voo, com uma mulher super interessante, com um trabalho mais interessante ainda. Contei-lhe da minha marca, o que andava a fazer, interessou-se pela minha mala, pelas sandálias que levava calçadas, quis saber o nome e foi procurar na net. Dali não viria outro interesse que não a curiosidade, mas o facto de ter gostado foi uma palmadinha nas costas para continuar o meu caminho. Gostei mesmo dela, pena não ter tido mais tempo para aprender o tanto que ela teria para ensinar.
E o PAM chamou-me pela última vez enquanto mostrava o seu bilhete no controle. Tive de me levantar e despedir, corri pela manga com ele até à porta do avião e perguntou:
- O que tanto falavas com aquela senhora?
- Nem vais acreditar quem era...
----
Existe no blogue um outro texto de aeroporto, desta vez sobre a dor de partidas, aqui.
No regresso a casa, quando cheguei à sala de espera no aeroporto de Orly, Paris, no meio de toda aquela gente destacava-se uma mulher. Loira, alta, magra, impecavelmente bem vestida, era mulher mais velha pelos seus 60 anos, e claramente a pessoa com mais classe que ali estava. Dos sapatos ao pescoço, tudo aquilo gritava bom gosto.
Depois da observação esqueci-me dela, fui à minha vida dar uma volta pelos perfumes nas lojas e as pessoas que estavam comigo foram à procura de lugar para se sentarem. No regresso à gigante sala de espera, procurei pelos que me acompanhavam, estavam em frente à tal mulher e só havia um lugar disponível, mesmo do lado dela.
Sentei-me e na mesa em frente estava a mala dela, uma Valentino camel com umas tachas armadas em moedas romanas que eu nunca tinha visto em nenhuma revista. Entre os meus passeios no iPhone, levantei os olhos várias vezes para ver a mala: tão gira!, pensei várias vezes.
E eis que ela se dirige a mim em francês. Perguntei se falava inglês, respondeu impecavelmente e perguntou se podia deitar um olho à mala enquanto ia apenas consultar o estado do seu voo cancelado para Roma no ecrã ali perto. Respondi que sim, sorri e mentalmente pensei "no teu lugar não me deixava sozinha com a Valentino".
Voltou, agradeceu, perguntou de onde eu era, respondi e devolveu-me um alegre brasileiro: "você é portuguesa?", ao mesmo tempo que mexia na mala e alguns rivetes das tachas caiam no chão. Ajudei-a a apanhar algumas peças e perguntei se tinha a mala há muito anos. Não esperava que uma Valentino largasse peças daquela maneira. Respondeu que era uma mala de exposição, que tinha servido para fotografia, nunca passou pela venda, estava maltratada e que não costumava acontecer.
- Trabalha com moda?
- Eu? Eu sou relações públicas do Valentino faz 35 anos.
Pimbas.
Com esta eu não contava. Roma, claro, a Maison Valentino prestes a iniciar um evento de alta costura, passos que eu ia seguindo no instagram da marca. Ah!, os aeroportos têm coisas fantásticas.
E dali foi o tempo todo a conversar até à última chamada para o meu voo, com uma mulher super interessante, com um trabalho mais interessante ainda. Contei-lhe da minha marca, o que andava a fazer, interessou-se pela minha mala, pelas sandálias que levava calçadas, quis saber o nome e foi procurar na net. Dali não viria outro interesse que não a curiosidade, mas o facto de ter gostado foi uma palmadinha nas costas para continuar o meu caminho. Gostei mesmo dela, pena não ter tido mais tempo para aprender o tanto que ela teria para ensinar.
E o PAM chamou-me pela última vez enquanto mostrava o seu bilhete no controle. Tive de me levantar e despedir, corri pela manga com ele até à porta do avião e perguntou:
- O que tanto falavas com aquela senhora?
- Nem vais acreditar quem era...
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Existe no blogue um outro texto de aeroporto, desta vez sobre a dor de partidas, aqui.