Eu não me vou pôr com rodeios, mascarar o pensamento, pôr-me com floreados e vou directa ao assunto: há dias em que a Igreja me mete nojo. Pronto, vai assim a seco.
Há dias em que me é irrelevante, acho que todos têm direito a acreditar no que quiserem - acho também que há muita gente sujeita a lavagem cerebral - mas podem andar na sua vida, acreditando no que quiserem. O que mais me incomoda nas religiões, sejam elas quais forem, é a imposição, o arrastar dos outros. Não podem simplesmente existir e receber aqueles que os procurarem, há sempre ali um arrastar dos que ainda não pertencem, seja a Al Qaeda atrás dos infiéis ou a Igreja Católica a espalhar o sentimento de culpa, do "é pecado", do "não é assim que se faz que Deus está a ver".
Culpa, culpa, culpa. A Igreja é um lobby do caraças, podre de ricos, luxos, podres de podridão, pedófilos e outras demonstrações do demo que procuram esconder. Atenção que não me refiro a fé, cada uma pode ter a sua, a base de todas as religiões é o bem, mas depois chega o Homem e estraga tudo.
E da polémica da miúda de 12 anos continuamente violada pelo padrasto que está agora grávida de 5 meses, ontem dei de caras com este texto. Fiquei lívida, apesar de ter perfeita consciência de que têm todo o direito a estar do lado oposto ao meu. Para mim, isto das igrejas e das religiões toldam a capacidade de raciocínio. Há na vida realidades que não são felizes, soluções que não são simpáticas, mas podem ser as melhores.
Ninguém, absolutamente ninguém faz abortos por prazer. As mulheres fazem-no por necessidade. Não é uma solução feliz, nunca o é, mas em momentos de aflição, em situações limite, é quase sempre a solução correcta para se pouparem a uma vida que não é vivida, é sobrevivida.
A ver se encaramos a realidade: infelizmente nem todos somos felizes. É assim a vida, a felicidade não foi bem distribuída. E infelizmente muitos não têm condições para ser felizes por mais que o desejem. Enerva-me profundamente que a Igreja Católica não seja capaz de encarar uma verdade destas. Sim, há pessoas que não são e nunca vão ser felizes!
E escreve-se sobre o assunto da rapariga violada:
"Não, não tiveste culpa de nada. E a tua Mãe também não", correcto.
"E, no entanto, querem eliminar-te", correcto, é o melhor para a mãe.
"Como se alguma vez pudesses ser esquecido", o que é que isso interessa?
"Tu que achavas que estavas no sítio mais seguro do mundo para viver e chuchar o dedo", não acha nada, é um feto, não tem raciocínio.
E se até aqui é irritante, uma manipulação de pensamento, culpa, culpa, culpa, depois chega a parte que me deixa doente:
"Podias ser a alegria da tua Mãe", ou o empecilho, a vida destruída, o indesejado.
"Sim, a felicidade é sempre possível", mentira. Parem de dizer mentiras!
"Ou podias ser o filho daquele casal que esperava há tanto tempo por ti", egoísmo. Tu, miúda de 12 anos, vive um parto, dá um filho teu, vive com esse peso o resto da vida, tudo para fazer a vontade dos que lá na Igreja dizem ser o correcto. Ou então acaba-se com o assunto enquanto o drama é ainda menor e vive uma vida melhor, dentro do possível.
"Podias ser alguém inteligente, descoberto a cura para o cancro". Manipulação, manipulação, manipulação. Num seio familiar destes o mais certo é interromper os estudos, acabar na droga, a roubar ou ser mais um falhado da sociedade. Sim, a ideia é linda, muito romântica e vencedora, mas isto não é um filme.
"Não lhes interessa, ninguém sabe nem quer saber", não, porque as pessoas estão concentradas em quem existe, uma criança de 12 anos. A preocupação é ela, não é um feto, alguém que ainda não existe.
"De qualquer forma és muito amado, sabes Bebé?" Não é. Manipulação, culpa, culpa, culpa. A ideia de um bebé vir a ser amado acontece com pessoas equilibradas, com famílias estruturadas e mesmo assim às vezes a coisa até corre mal. Mas no geral, isso acontece com pessoas ditas "normais". Numa família em que o padrasto viola a enteada de 12 anos sabe-se lá há quanto tempo, com uma mãe que deve ter feito de conta que não se apercebia de nada (porra, tem de haver um momento em que alguma coisa parece estranha!), deve ser uma família de amor que faço ideia! Ah e tal, mas são pessoas, merecem ser tratados como humanos. Não, quanto a mim, não merecem nem o ar que respiram. Não vale a pena perder tempo com lixo.
"Mas muitos não acreditaram no poder do Amor. No poder que transforma o mundo, que do mal faz nascer o bem", sim, lindo, tocante. Digam isso também às 300 miúdas raptadas pelo Boko Haram na Nigéria que estão certamente a servir de escravas sexuais pelo "amor". A vida não são desenhos animados, caramba! O bem nem sempre triunfa sobre o mal, que ideias são estas?
"De que vale querer salvar o mundo se não te salvamos a ti, meu Bebé?". Ilusões, ninguém é capaz de salvar o mundo, mas é certo que se pode salvar a rapariga de uma vida ainda mais miserável. Nunca vai ter uma vida espectacular livre de sofrimento, mas pode ser melhor se for poupada a uma gravidez indesejada.
"Bem sei que, porque não falas, porque estás escondido, é mais fácil fingir que não estás aí", isto já é um insulto, pois ninguém finge que não está ali um potencial bebé. É mais uma forma de manipulação. Colocou-se um drama de decisão quanto ao futuro desta gravidez no Hospital, o Ministério Público foi chamado, a comunicação social faz cobertura do assunto, quem finge que nada de passa?
"Nós nunca te esqueceremos", esquecem sim, todos temos outras coisas em que pensar e ocupar o nosso tempo. Temos as nossas famílias, os nossos trabalhos, podemos continuar a sonhar com mundos ideais, famílias sempre felizes, mas isso não existe. O que não nos impede de sonhar, é claro, mas também é bom ter assente os pés na terra e saber que nem todos os que chegam ao mundo estão destinados a ser felizes.
E ainda bem que hoje acordei para a notícia de que a gravidez vai ser interrompida. Não vai ser fácil para ela, é tudo um trauma na mesma, mas é com certeza absoluta mais fácil do que carregar um filho aos 12 anos, interromper a vida para se dedicar a uma vida miserável ou ter de guardar o resto da vida a ideia de que teve um filho algures no tempo, vítima de violação por alguém que devia ter comportamento de pai, filho esse em parte incerta. Não acham que estão a pedir demais a uma miúda de 12 anos?
Desta forma certamente não esquecerá tudo o que viveu, mas do mal o menos. Não se perde alguém que nunca se chegou a amar e não terá de lidar com a responsabilidade de uma vida que depende dela quando ela já é dependente e com dificuldade de encontrar equilíbrio emocional na vida, se alguma vez o encontrar. Na medida do possível tratará de se libertar de todo o mal que lhe fizeram, de uma infância perdida e hão-de indicar-lhe um caminho, espero que longe da família dela.