19.8.10

USA road trip 2010 - parte III

A viagem ditava como destino San Francisco e tínhamos 3 dias para a fazer. Sabem os satélites os quilómetros que marca a distância malhava pelo carro desde Las Vegas. E sabia também o Ford Focus, tão diferente do que se vê nas ruas de Lisboa, não fosse a ameaça de tédio do Poisoned Apple Man que, chateado com tanta areia, para se animar começou a experimentar todos os botões do carro e assim eliminou a contagem das milhas do painel. Momento triste. Quantas eram??! Quantas eram que contamos a partir daqui!!! Não se lembrava. Nabiço. Apagou um registo fundamental para este blog. No experimentar dos botões e já a chegar ao fim de cerca de cinco horas de deserto, lá descobriu o homem que afinal tínhamos rádio via satelite. Vá, foram cinco horas de conversa e nada de música, não tem mal. Mal saímos do deserto rumámos a um McDonalds, mesmo, mesmo à saída da estrada. Civilização! Estávamos mesmo a precisar de umas bebidas frescas!

Dormimos em Bishop, uma cidade no meio de nada, pequena, tão pequena que tive de ir ver ao Google o número de habitantes. Caro leitor, além de vacas a pastar, milho e algumas mulheres de bigode, a cidade que é basicamente uma estrada com casas de bonecas dos lados, tem 3.500 habitantes. Os restaurantes fechavam às 09:00 PM, o que para bom português é a desgraça. Safámo-nos da fome graças ao típico Denny’s, maravilha americana, cheia de panquecas e rebenta-colesterol-e-veias na sua ementa. Maravilhoso!

De novo à estrada, passámos por South Lake Tahoe, Mammoth Lakes e Bodie Ghost City (ver fotos).

South Lake Tahoe é uma impressionante Suiça no meio dos EUA. São chalets uns atrás dos outros, estância de ski no inverno, coberta de neve, proporciona a prática de desportos de inverno; já no verão, é lugar de desportos aquáticos. Pelo que me foi dado a entender, é um lugar com uma fauna seleccionada, não é todo o americano que frequenta aquele lugar, é mais para alguma elite.

South Lake Tahoe


South Lake Tahoe

Mammoth Lakes segue o mesmo registo de South Lake Tahoe quanto ao que há para fazer, e é também absolutamente maravilhoso. A maior diferença é que é um sítio menos tocado pelo Homem do que em South Lake Tahoe. Aqui os parques de campismo abundam. E não se pense que são parques de campismo da Costa da Caparica porque não tem nada a ver. Aquilo é um luxo! Quase consigo compreender que as pessoas consigam acampar, mas só naquele sítio. A minha única experiência em Vila Nova de Mil Fontes, aos 20 anos, foi coisa para nunca mais. Princesa, é princesa. Não vale a pena forçar ao mato.

Mammoth Lakes

Mammoth Lakes

O Mono Lake éxtenso a perder de vista. Cenário de muitos filmes, o lago é hipersalino. Tem três vezes mais sal que o mar, pelo que engolir um pirolito deve ser uma coisa muito desagradável. Ali ninguém vai a banhos, mas consta que tem um sistema ecológico muito importante.

Mono Lake

A Ghost City, de nome Bodie, é coisa que desconhecia existência. Bendito o guia do American Express oferecido pelo Poisoned Apple Man. Em 1859 um sortudo qualquer descobriu ouro naquela zona. Começou a assentar arraiais, vieram outros, nasceu uma cidade com escola e tudo. Em 1913, e depois de tempos de crise, declarou-se o ouro como acabado. A malta fez as malas e deixou tudo como estava. A sensação que se tem é que alguém chegou à cidade e professou que a vida acabava ali no dia seguinte. Só falta ouvir a cadeira de baloiço balançar da rapidez com que os habitantes partiram.

Nos anos 40, Bodie virou parque de visita, com um museu pequeno onde vi corpetes antigos maravilhosos, garrafas de Coca-Cola nunca antes vistas, fotos dos que lá habitaram, brinquedos de antigamente, ferros de engomar, a tão estranha publicidade daquele tempo e outras curiosidades. Paga-se para entrar, há quem lá viva no meio dos fantasmas para tomar conta da cidade e vão mantendo as formas originais na medida do possível, com pó e tudo. Chegar lá não é um caminho para todos, fica o aviso. Às tantas o alcatrão acaba e é um verdadeiro caminho de cabras.

Saloon, Bodie Ghost City

Atravessei constantemente a linha que marca a fronteira entre a Califórnia e o Nevada, acabando por dormir neste último estado, em Carson City. A cidade era também pequena, mas já era outra coisa com mais de 50.000 habitantes. Dormi num hotel que parou nos americanos 1980, pelo menos! Ao abrir a porta, tudo era dourado. Candeeiros dourados, espelhos de moldura dourada, móveis de madeira escura, colcha que pareciam cortinas e cortinas que faziam justiça ao nome quando começaram a existir. Nada tinha aspecto velho, mas eu nem sei onde ainda se conseguem comprar aquelas coisas.

As casas continuavam a ser de bonecas e causou-me estranheza a quantidade de casas à venda. Ao perguntar, foi-me explicado que o Estado do Nevada tem uma percentagem de desemprego de 46%, ou seja, as pessoas tentam desesperadamente vender as suas casas para abalar para outro estado. Nos EUA, a possibilidade de ter de mudar de Estado para ir trabalhar é algo normal e aceite com toda a naturalidade. A mim, se me dissessem que ia de trabalhar e viver para fora da capital, dava-me um fanico.

(continua)
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© A Maçã de Eva

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